Entre as causas apontadas pelos participantes do Anahp AO VIVO, estão a baixa adesão à vacinação, desigualdade social e índice de cesáreas
A Associação Nacional de Hospitais Privados reuniu especialistas na noite desta quinta-feira, (24), no Anahp AO VIVO, para debater “O impacto da pandemia para gestantes e puérperas”. Durante o evento, representantes da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), do Ministério da Saúde e acadêmicos discutiram a necessidade de as grávidas serem consideradas do grupo de risco para a Covid-19 e a importância da adesão à vacinação por gestantes.
Segundo dados apresentados por Rossana Francisco, professora associada da disciplina de Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (USP), dentre os óbitos causados por Covid-19 em 2021, em comparação a 2020, observou-se aumento de 315% nas mortes maternas, contra 109% da população geral, totalizando quase o triplo de fatalidades. Em 2020, do total de pacientes grávidas internadas por Covid, 7,4% vieram a óbito. Neste ano, a taxa subiu para 16,8%. Os índices mostram que o número de mortes passou de 10 para 42, por semana, respectivamente.
Rossana Francisco ressaltou que, apesar de as mortes agora serem por conta do aumento do número de gestantes infectadas, o Brasil, historicamente, é um país que trata a gestante mal. “A morte materna é um problema do sistema público e privado,”. Para o presidente do Conselho de Administração da Anahp e diretor administrativo do Hospital e Maternidade Santa Joana, Eduardo Amaro “[o impacto da Covid-19 nesse grupo] se soma à situação de mortalidade materna em nosso país”, complementando Rossana, que deseja que “as lições aprendidas nessa pandemia possam nos guiar a ajudar a reduzir a morte materna”.
Na avaliação de Lely Guzmán, coordenadora da Unidade Técnica de Família, Gênero e Curso de Vida da OPAS/OMS, os dados refletem uma sociedade desigual. Desde o início da pandemia foram 14.042 casos em gestantes e puérperas brasileiras diagnosticadas com Covid-19, segundo números oficiais. Dessas, 2 em cada 3 morreram sem acesso a leitos. Em contraponto, Amaro, comenta que, no hospital onde atual, foram 1.146 casos, com apenas 0.96% de vítimas.
Para a coordenadora do grupo técnico do Ministério da Saúde – Gestantes e puérperas x Covid-19, Rosiane Mattar, esse é um reflexo da realidade do Brasil. “O ruim de ser pobre no nosso país é que a paciente fica indo de um lado pro outro sem ter leito e sem ter prioridade”, comenta. Quando questionada, ela ainda afirmou que “a melhor idade gestacional para se vacinar é a que se está”, fazendo alusão à necessidade de vacinação urgente, independentemente do momento da gravidez. Guzmán acrescentou que é importante que a mulher se vacine, não somente contra o coronavírus, sempre seguindo a orientação médica.
Segundo Antônio Braga Neto, diretor do departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção Primária da Saúde (Dapes/Saps/MS), a vacinação contra a Covid-19 da população obstetra foi liberada como prioridade em maio de 2021, mas lembrou que foi preciso interromper para investigar a associação entre o efeito adverso de uma vacina específica e o óbito de uma gestante, o que acabou prejudicando a adesão do grupo.
Neto ressaltou também que a câmara técnica já afirmou, na Diretriz para Gestantes e Puérperas, que “não é necessário ser realizada cesárea em Covid-positivas”. A docente do departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp, Adriana Luz, concorda. “A cesárea pode causar mais uma inflamação à paciente”, uma vez que a Covid-19 já provoca um quadro inflamatório no organismo. Para Luz, menos cesárea é uma forma de diminuir a morte materna, não somente durante a pandemia.
A discussão completa sobre “O impacto da pandemia para gestantes e puérperas” pode ser conferido em: https://www.youtube.com/watch?
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