A aura de mistério acompanha os maçons desde a sua origem. Inclusive sua origem vem sendo criativamente recuada durante os tempos: alguns maçons incluem entre seus antecessores guerreiros das cruzadas, arquitetos do templo do rei Salomão e até os egípcios responsáveis pelas pirâmides. Na realidade, os maçons surgiram em canteiros de obras, mas já no fim da Idade Média, na Inglaterra. Daí o nome deles: mason – se diz “mêisson” – era o termo para pedreiro em inglês. Mas os pedreiros da época equivaliam a arquitetos, engenheiros, empreiteiros. Para não perderem a hegemonia na construção civil, militar e religiosa, eles mantinham em segredo os macetes da profissão, passados somente aos aprendizes mais confiáveis e em ocasiões especiais. Com o tempo, essas aulas viraram fóruns, atraíram gente de fora e foram transferidas para locais chamados lodges (em português, “lojas”). Em 1717, quatro unidades se unificaram na Grande Loja de Londres. Surgia, oficialmente, a maçonaria. Assim como muitos europeus, foi emigrando para a América que a maçonaria atingiu o seu potencial, em nenhum país a maçonaria foi tão importante quanto nos EUA. Para começo de conversa, os maiores acontecimentos que marcaram a independência do país foram decididos em lojas maçônicas. Em 1773, não foi de improviso que comerciantes jogaram caixas e caixas de chá no mar, em protesto contra impostos extorsivos dos ingleses. A “festa do chá” de Boston foi um evento organizado por irmãos. Nove dos 55 homens que assinaram a Declaração de Independência vinham da maçonaria, assim como um terço dos 39 que aprovaram a Constituição. Benjamin Franklin era maçom convicto, e George Washington, grão-mestre da Loja Alexandria, teria aparecido de avental cerimonial no lançamento da pedra fundamental da nova cidade. Por falar em capital, a cidade de Washington é cheia de referências à maçonaria. O tema “George Washington foi maçom” inspirou pinturas e esculturas, marcando presença nas portas do Senado e no teto do Capitólio. Além disso, a cidade tem pelo menos 17 edifícios com arquitetura típica da ordem – uma mistura de estilo grego e romano, sempre acompanhada de esquadros, compassos e letras G (de God, “Deus” em inglês). Entre eles, a agora célebre Casa do Templo (no original, House of the Temple), sede americana do Rito Escocês Maçônico. Após o sucesso da independência americana, em 1776, a maçonaria passou a ditar o passo das mudanças do planeta. Ser maçom no final do século 18 e no começo do século 19 era muito cool: um clube que reunia as mentes mais inquietas e influentes. Trazendo liberdade, igualdade e fraternidade no DNA, claro que a maçonaria estava na Revolução Francesa, em 1789. Os principais líderes, Danton e Robespierre, não eram da ordem, mas a Marselhesa foi composta na loja de Marselha. Em 1810, a maçonaria inspirou a criação da Carbonária, sociedade secreta que buscaria a independência da Itália. Três futuros libertadores da América, o chileno Bernardo O’Higgins, o venezuelano Simón Bolívar e o argentino José de San Martín, frequentavam a mesma loja em Londres, uma convivência que mudou um continente. “A maçonaria participou da independência de todos os países da América do Sul”, diz Andrew Prescott, diretor de estudos da maçonaria da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. O que inclui o Império Brasileiro, do início ao fim. Em 1822, nossa independência de Portugal foi proclamada por um grão-mestre, Dom Pedro 1º. E a Proclamação da República, em 1899, foi feita por outro, o Marechal Deodoro da Fonseca. E os maçons continuaram atuantes durante a nossa República Velha, chegando inclusive à Presidência, com Nilo Peçanha e, na sequência, Hermes da Fonseca. Mundialmente, a ordem viveu uma crise a partir da década de 1930, quando seus membros mais à direita (fascistas) e à esquerda (comunistas) não vestiam mais o mesmo avental. Aliás, os maçons também estão entre as vítimas do Holocausto – entre 80 mil e 200 mil irmãos morreram em campos nazistas. Nos anos 50, a ordem chegou a ter uma filiação recorde nos EUA (até Fred e Barney, dos Flintstones, frequentavam uma paródia da maçonaria, o Clube dos Búfalos D’Água). Mas, a geração seguinte não tinha mais o mesmo interesse pela maçonaria e as revoluções passaram longe das lojas. “Mas, mesmo onde não voltou a ter a influência de antes, a maçonaria nunca ficou irrelevante”, diz o historiador alemão Jan Snoek, que pesquisa o tema na Universidade de Heidelberg. Entretanto, a lista de maçons poderosos ainda é grande. Entre os 6 milhões de membros no mundo estão o príncipe Philip, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, e até Al Gore, vice-presidente de Bill Clinton. É inegável que a maçonaria ainda possui membros influentes – o que não significa que ela ainda exerça influência. Um exemplo prático vem do Reino Unido, onde, a partir de 1997 todos os maçons trabalhando no sistema judiciário foram obrigados a declarar que eram membros da ordem. O argumento era de que a lealdade dos irmãos à irmandade poderia distorcer seu trabalho, e o público tinha direito de saber quem era maçom, para poder acompanhar sua conduta a partir desse fato.
Teoria da Conspiração
Para quem não está por dentro dessa teoria da conspiração, seria um governo único, que comandaria todo planeta e que estaria sendo planejado por maçons – ou pelos illuminati, ou pelos cavaleiros templários, pelo 4º Reich, enfim. Não há informações sobre os últimos 3 grupos, até porque não consta que eles existam. Quanto aos maçons, isso é impedido pela própria forma como a maçonaria é organizada: as lojas maçônicas são independentes, abrigam irmãos com pontos de vista muito diferentes e não têm de onde tirar uma ação global coordenada. Ainda mais secreta. Na verdade, a grande mudança que espera quem entra na maçonaria não é no mundo, mas na própria vida. Tudo indica que uma ditadura mundial não está nos planos, mas não se engane: todo maçom tem uma agenda. Se não secreta, certamente lotada. Mas, para a maioria dos membros, compensatória. As regras começam já na candidatura – geralmente posterior a um convite de um maçom. Não basta ter fé em um deus e cromossomo XY: é preciso ser maior de idade, ter endereço fixo e renda própria e declarar seus motivos para fazer parte da ordem. Se for casado, a patroa precisa estar de acordo. Se for homossexual, de acordo com as regras, não entra. Os maçons também pesquisam os amigos, o emprego e a vida financeira e policial do irmão em potencial. Depois de investigado por 6 meses a 1 ano, o nome é avaliado por toda a loja – e precisa ser aprovado por unanimidade. Aí basta participar da iniciação e prometer não revelar o que escutar – o tal pacto de silêncio da irmandade. O iniciante é reavaliado com frequência, e tem a obrigação de participar de uma reunião semanal, que ocupa uma noite inteira em dia útil. Para faltar, só por causa de trabalho ou de estudo, sendo necessário pedir autorização. Além disso, as lojas maçônicas da mesma cidade se visitam, e é aconselhável participar de alguns desses momentos de intercâmbio. Isso para não falar de viagens mais longas, no caso de visitas a maçons de outros estados. E, a cada 3 anos, é preciso se envolver na votação para grão-mestre, coordenada por um Tribunal Eleitoral Maçônico. Cada loja cobra uma mensalidade que, em São Paulo, gira em torno R$ 150. Motivo: toda loja tem um fundo de amparo que cobre despesas inesperadas de irmãos. O fundo também funciona como uma previdência paralela: viúvas de maçons recebem pensão mensal. Nos fins de semana, os maçons ainda fazem trabalho voluntário nas instituições mantidas pela ordem – na maioria dos casos, creches e hospitais. Esse é o momento em que levar a esposa e os filhos não só é possível como recomendável. É comum que um irmão em dificuldade seja socorrido a qualquer hora por outros maçons. Ótimo quando é você quem precisa, mas significa que o celular precisa estar ligado o tempo todo. Os irmãos garantem que dá um gás na autoestima, sentem-se parte de um clube exclusivíssimo, que seleciona seus membros com rigor. Mas, além das recompensas psicológicas, há critérios mais palpáveis. Em uma grande metrópole, onde as relações de poder são mais diluídas, as amizades da loja talvez não façam tanta diferença. Mas imagine o impacto desses contatos em uma cidade pequena, em que o delegado, o prefeito, o dono do jornal e o do supermercado são maçons. Porém, independentemente da ambição dentro da estrutura da maçonaria, é preciso manter a linha. Barracos, bebedeiras, adultério e prisões são inaceitáveis. Os maçons já foram secretos. Ao longo do século 20, passaram a se definir como discretos. Hoje, caminham para se tornar uma sociedade civil aberta, no entanto, a abertura da sociedade secreta mais conhecida do mundo incomoda alguns irmãos, que vêem a proliferação de sites, jornais e revistas como um afastamento das origens. De fato, hoje já é possível se candidatar a maçom por e-mail (apesar de que um convite pessoal é, de longe, a forma mais garantida de entrar). Em seu site, a Grande Loja Maçônica do Espírito Santo mantém uma Rádio Cultura Maçônica. E a página do Grande Oriente do Brasil, seção Rio de Janeiro, oferece um tour virtual pelo Palácio Maçônico do Lavradio. Não existem mais segredos na maçonaria. Eles vêm sendo revelados lentamente”, diz o historiador britânico W. Kirk MacNulty, maçom há 4 décadas. “Se existe algum segredo, ele é individual e intransferível, sua experiência dos rituais maçônicos. Como explicar o gosto de uma laranja para quem nunca a comeu?”, diz o pesquisador alemão Snoek. Por outro lado, se faltam mistérios, sobram boatos. Um grão-mestre garante que, nas últimas eleições para prefeitos e vereadores, a maçonaria no estado de São Paulo fez campanha interna para que maçons votassem e apoiassem candidatos maçons. Segundo ele, deu certo: a maçonaria teria emplacado 13 prefeitos e 54 vereadores – ele só não diz quem e onde. Pretendem fazer o mesmo com deputados em 2010. Em Israel, a Grande Loja de Tel-Aviv é um espaço de encontro de cristãos, judeus e muçulmanos. Apesar de a maçonaria ser contra discussões políticas nos templos, todos ali estão dispostos a encontrar soluções para os problemas milenares da região. “Só em um local fechado e completamente sigiloso esse tipo de reunião improvável pode acontecer regularmente”, afirma o historiador alemão Jan Snoek, que pesquisa o tema na Universidade de Heidelberg. Ou seja: se qualquer plano de paz surgir daqui para a frente para resolver a questão entre israelenses e palestinos, é possível que haja o dedo da maçonaria. E o que os maçons acham de toda a curiosidade em torno da ordem? Em conversas privadas, reclamam muito dos livros, filmes e sites que prometem revelar seus segredos e de matérias como esta também. Argumentam que o tratamento é injusto e exagera aspectos menos importantes. Nesse caso, a postura oficial é não se manifestar publicamente. Mas há uma corrente do “falem mal, mas falem de mim”, da qual faz parte Christopher Hodapp, um americano ex-mestre maçom e autor de livros sobre maçonaria, grato ao que Dan Brown e outros fizeram pela ordem. Ele pondera: “Tínhamos dificuldades para atrair novos membros. Assim, o interesse é renovado. De certa forma, a divulgação até ajuda, porque cria um fascínio que atrai muita gente para a ordem”.
Fonte: http://deusesehomens.com.br
Notícias de Seropédica, do Brasil e do Mundo
Deixe a sua opinião sobre o post