Cuidado, você está sendo envenenado (mas não do jeito que você imagina)
Você come mais de 5 kg de agrotóxico todos os anos. E isso mata: são 157 mortes por ano, no Brasil. Entenda por que nossa comida tem tanto veneno
Isso acontece principalmente porque, por aqui, o controle de agrotóxicos é um pouco diferente de outros lugares do mundo. Quando um produto é aprovados pelos órgãos reguladores, como a ANVISA, ele recebe um tipo de “validação eterna”. Isso significa que, se não existir nenhuma queixa, ele fica lá, para sempre validado, numa boa. Mas, quando um novo estudo aponta um problema que o tal agrotóxico pode trazer para a saúde ou para o meio ambiente, existe uma pressão para que esses mesmos órgãos entrem em ação para uma nova análise. Até aí tudo bem. Mas, como você já deve imaginar, isso não acontece do dia para a noite. Essa reavaliação pode durar anos e anos. E quando é apontado que sim, o produto é realmente perigoso e deve ser retirado do mercado, os produtores e as empresas de insumos agrícolas ainda podem entrar com um recurso, que leva mais um tempão. Só para ter uma ideia, o DDT, amplamente utilizado para combater insetos, foi banido na maioria dos países na década de 70, já que comprovadamente aumenta a incidência de câncer, principalmente o de mama. Aqui no Brasil, a retirada completa do produto do mercado durou 24 anos, só acontecendo efetivamente em 2009.
E se, por um grande acaso, as empresas não conseguirem ganhar o recurso, jogam a cartada final: “Elas dizem que vão levar um prejuízo grande, porque já possuem um enorme estoque do agrotóxicos. Então, do período em que foi decidido que o insumo deveria ser retirado do mercado até a sua retirada efetiva, vai mais um bom tempo”, diz Fernando Carneiro, coordenador do Grupo Temático Saúde e Ambiente da Abrasco. Mais tempo em que você continua sendo contaminado por algo que já é comprovodamente prejudicial.
No Brasil o esquema é esse. Mas, em alguns países da Europa e América do Norte, por exemplo, agrotóxico nenhum tem essa validação eterna. De tempos em tempos, eles têm que passar por uma revalidação, independentemente de outro fator externo. Mesmo se estiver tudo ok, o insumo vai ter que ser testado de novo. Daí, caso alguma coisa diferente seja detectada, o produto é retirado do mercado com mais ugência do que aqui.
Só essa diferença já é um incentivo e tanto para o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Se até aqui você já está de queixo caído, acredite: tem mais. Eles são isentos de impostos na maioria dos estados do país. Isso mesmo, nenhum imposto. Nem federal nem estadual. Um litro de glifosato, usado tanto por pessoas em casa quanto em grandes plantações, custa em média R$ 11. Lá nos Estados Unidos, por exemplo, o mesmo produto com a mesma quantidade sai por R$ 85. Fernando afirma que a legislação que regula o assunto no Brasil sofre uma regressão em aspectos ambientais e de saúde. “Hoje, existe uma proposta para retirar o papel de órgãos como a ANVISA e IBAMA da regulamentação dos agrotóxicos. A bancada ruralista no Congresso Nacional quer dividir essa responsabilidade com várias outras instituições e pessoas.” Assim, será mais fácil colocar a questão também nas mãos de quem trabalha a favor do mercado de agrotóxicos. Consequentemente, todos os produtos que estarão sendo avaliados e reavaliados passarão pelos testes mais facilmente.
Pensando por essa perspectiva, vai ser difícil banir muita coisa por aqui. Imagine então o produto que corresponde a quase 50% do mercado de agrotóxicos no país, o glifosato. Ele já foi proibido em alguns países, como a Holanda, o Sri Lanka e a Colômbia. Agora, está passando por um longo processo de reavaliação na maioria dos lugares do mundo (inclusive por aqui). Um relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde), publicado ainda neste ano, comprovou que o herbicida, comercializado com o nome Roundup, possui agentes cancerígenos responsáveis pela formação de um tipo específico de tumor linfático.
Depois de tudo isso, ainda fica a pergunta: existe alternativa para os agrotóxicos? Sim, e ela já está sendo amplamente utilizada em países europeus. A radicalização da agricultura orgânica, por exemplo, nos pouparia de muitos problemas futuros. A rotação de culturas e o controle biológico das pragas (uso de um organismo não prejudicial à lavoura para atacar um que prejudica) são maneiras de evitar os agrotóxicos. “As empresas já possuem a tecnologia e a informação capazes de realizar isso”, crava Fernando Carneiro, que também é diretor da unidade Ceará da Fundação Oswaldo Cruz. Elas só não possuem interesse em usá-las amplamente porque a indústria dos insumos agrícolas é muito rentável. Um agricultor ecológico não recebe incentivos de nenhum lugar no Brasil: nem a iniciativa estatal, nem a privada estão dispostas a financiá-lo. É necessário um pensamento estratégico, capaz de transformar a agricultura do veneno em agricultura limpa. Enquanto isso não acontece, vamos continuar sendo envenenados.
Vilões à espreita
- Acefato
O dito-cujo já foi banido da Europa mas, por aqui, é o principal inseticida usado nas plantações, pulverizado nos brócolis que vão direto para a sua mesa. Em 2013, a Anvisa oficializou algumas restrições, como o uso de embalagens hidrossolúveis para vender os produtos em que o agrotóxico tenha sido usado – tudo para evitar que os agricultores tenham contato com ele. Ainda assim, o que se defende é que o produto não tenha apenas sua utilização restrita, mas banimento total. As suspeitas sobre o acefato incluem desde o aumento do risco de desenvolver um câncer até impactos na fertilidade. Perigo, hein?
- Paraquat
Mais um que merece atenção e que tem sido usado em larga escala em terras brasileiras. Esse produto já foi banido nos Estados Unidos e na Europa, tamanha sua toxicidade. Ainda assim, é usado como herbicida, para acabar com as ervas daninhas em plantações como a de soja. Ele está na lista da Anvisa para reavaliação, já que seu potencial para ser tóxico ao ser humano é grande.
https://www.seropedicaonline.com/wp-content/uploads/2015/06/Resultado-2011-2012_30-10-13.pdf
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