Após mais um viciado morrer de overdose, e depois do estupro de uma mulher por um mendigo em plena calçada de Copacabana, o prefeito Eduardo Paes propôs a internação compulsória de usuários.
As cenas de usuários de crack consumindo a droga, protagonizando episódios de violência e depredando o patrimônio público para comprar a próxima pedra a ser consumida se espalham pelo Rio de Janeiro, sem discriminar bairros de maior poder aquisitivo, como Copacabana e Botafogo, na Zona Sul da capital. Na última semana, o prefeito Eduardo Paes (PSD) propôs a internação compulsória dos usuários de crack, após um jovem morrer por overdose na segunda-feira (20). Pela proposta, inicialmente, 130 pessoas identificadas pelo município seriam atendidas. Paes teme que aconteça no Rio o flagelo que abate o Centro Histórico de São Paulo, solapado há anos pelo esvaziamento comercial e pela depreciação imobiliária. O estupro de mais uma mulher por um mendigo viciado em plena calçada da tradicional rua Xavier da Silveira, em Copacabana, foi apenas um exemplo do que vem ocorrendo diariamente em toda a cidade.
Um mapeamento realizado pelo jornal O Globo mostrou o que cidadãos que circulam pela cidade já sabem: há crocolândias nas zonas Sul, Norte e Oeste, além do Centro Histórico do Rio. Tais aglomerados demonstram o grande desafio social e de ordem pública que a cidade deve enfrentar para se desenvolver e oferecer mais segurança a cariocas e turistas. Mas a proposta do prefeito despertou a ira de algumas entidades de classe e da extrema esquerda, que controla uma frente “antimanicomial” na Alerj.
Ao veículo, moradores da Glória e Largo do Machado, ambos localizados na Zonal Sul, apontaram o surgimento de pequenas cracolândias espalhadas pelos bairros. Para Juliana Telles, representante da ONG Nova Chance, instituição que oferece atendimento a moradores de rua e usuários de drogas na região, os viciados se tornaram mais agressivos depois da pandemia.
“Hoje em dia, usuários de drogas se misturam às pessoas em situação de rua que consomem bebida alcoólica ou não têm mesmo onde morar. Esses primeiros são mais agressivos. Moradores de Copacabana, por exemplo, ficam aterrorizados”, contou Juliana ao jornal, acrescentando que entra em contato com Prefeitura quando algum deles aceita ser abrigado.
Na Zona Norte, Benfica é, sem dúvida, um dos casos mais emblemáticos do caos e da degradação humana que o crack pode produzir. Na Rua Couto Magalhães, há uma cracolândia cercada por muito lixo, onde os usuários consomem a droga ao ar livre e a qualquer hora do dia ou da noite. Às 9h, segundo O Globo, garis da Comlurb já recolhiam o lixo espalhado pelos viciados na rua, enquanto um usuário tentava se esconder atrás de pilhas de entulho para fumar uma pedra de crack. De Benfica, passando por Manguinhos até o Jacaré, onde fica a Cidade da Polícia Civil, a cena de grupos de usuários, com cachimbos improvisados consumindo crack, se repete.
Uma coisa que impressiona são as estatísticas das sucessivas operações conduzidas por Marcelo Maywald, Superintendente da Zona Sul (um cargo do governo Estadual), na região. As incursões têm chegado a saldos impressionantes, com milhares de objetos cortantes, pinos de cocaína e há casos de operações que revistam dezenas destes mendigos, chegando a casos em que todos os revistados têm passagem pela polícia. Sem contar os que andam pra lá e pra cá com tornozeleira eletrônica. Na ocasião de uma destas operações, a delegada de polícia Daniela Terra disse que “Esse é um trabalho muito importante, pois constatamos que a maioria deles possuem passagens, ou saíram da prisão, por roubo, furto, receptação, além de serem usuários de crack e outras drogas”, afirmou a delegada da 14ª DP.
Maria Antonia da Silva, moradora de Maria da Graça, na Zona Norte, contou ao jornal a batalha enfrentada pela sua família para tentar tirar um primo do vício das drogas.
“Tentamos uma internação compulsória, que não deu certo. Meu primo fugiu da clínica, e estamos sem notícias dele há dias. A última informação é que ele andava pela cracolândia de São Paulo”, contou.
De acordo com o Censo de População em Situação de Rua, de 2022, estudo realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), 86,1% das 7.865 pessoas que vivem nesta condição são usuárias de drogas. Para fazer o trabalho, a secretaria percorreu e identificou 57 pontos em todas as regiões, onde puderem ser vistas as “cenas de uso” – áreas de concentração para consumo de drogas por pessoas que “dormiram na rua ao menos uma noite nos últimos sete dias em relação à data da pesquisa”, segundo O Globo.
Entre julho e novembro deste ano, o Sistema de Monitoramento de População em Situação de Rua, da SMAS, registrou 6.196 atendimentos a usuários de drogas em Copacabana e no Leme. Número considerado alto, mesmo para atendimentos reincidentes. Em Botafogo, foram realizados 1.483 atendimentos no mesmo período.
Pelo levantamento do jornal também há cracolâncias em Bonsucesso, Madureira, Mangueira, Maracanã, Catumbi, Engenho de Dentro, Lins de Vasconcelos, Santa Cruz e Cidade de Deus.
Informações: O Globo
Fonte: Diário do Rio
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