Este caso foi verídico e aconteceu numa cidade do norte do país
Durante uma audiência criminal, a testemunha (um garoto de 15 anos), integrante da “classe penal” (pobre, morador da periferia da periferia, sem muita referência familiar), respondendo aos questionamentos do Promotor, passou a declarar que, à época dos fatos narrados na denúncia, quando tinha apenas 10 para 11 anos de idade, trabalhava de manhã e estudava de tarde.
Ao ouvir que o menino disse que trabalhava aos 11 anos, o Promotor, surpreso, questionou a este jovem com o que ele “trabalhava” nessa época e se era como menor aprendiz.
Diante do questionamento do MP, o menino disse que quando tinha 10/11 anos “mexia” com reparo de ventilador, tanquinho de lavar roupa, dentre outros, e que hoje, com 15 anos, trabalhava em uma marmoraria, como cortador de mármore.
Nesse momento, o Promotor, assustado com a “gravidade” do fato de o menor trabalhar em uma marmoraria, lhe questionou: “Mas você não sabe que isso (exercer a função de cortador de mármore como menor) é errado?”
A “criança”, de pronto, sem pestanejar, retrucou: “Mas cê qué que eu faça o que?! Trafique? Mate os poliça?”
Silêncio na sala de audiência, o depoimento é encerrado e todos se olham, buscando entender aquele momento.
Tenho certeza que todos os que estavam nessa audiência guardarão a fala desse garoto para o resto da vida, tamanha a frieza com que aquele menino vomitou a realidade em nossa cara.
Estamos acostumados a criar nossos (pre) conceitos com base na nossa realidade (social/cultural/…), chegando a acreditar que tudo o que não é compatível com essa (nossa) realidade está errado.
Mas, quando entramos em contato (por mais que mínimo) com a realidade do outro, percebendo que existem coisas além do nosso campo de visão, levamos um choque, um choque de realidade.
E são choques como esses que possibilitam a modificação da forma como enxergamos o mundo.
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