Carrapatos, mosquitos e barbeiros transmitem doenças mais rapidamente conforme o clima esquenta
6 de agosto de 2019

Doenças transmitidas por carrapatos, por exemplo, aumentaram 20% e os casos mais do que dobraram na última década.

INSETOS QUE TRANSMITEM doenças atuarão em áreas maiores e transmitirão doenças mais rapidamente à medida que as temperaturas do planeta se elevam, afirmam especialistas do Centro de Controle de Doenças, que monitoram doenças transmitidas por vetores.

“[Os mosquitos] são realmente sensíveis às mudanças climáticas”, diz a bióloga de vetores Lyric Bartholomay, da Universidade de Wisconsin-Madison. “Não creio que haja qualquer dúvida de que, à medida que as temperaturas mudam, o alcance e os locais que eles são capazes de percorrer mudem também”.

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Na semana passada, o banco de investimentos Morgan Stanley previu aumento dos lucros das empresas farmacêuticas nas próximas décadas conforme as mudanças climáticas expõem mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo a doenças infecciosas, como febre amarela e dengue, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Veja a explicação de especialistas de como esses pequenos parasitas transmissores de doenças estão se adaptando a climas mais quentes.

Carrapatos

O CDC já está observando um grande aumento no número de doenças transmitidas por carrapatos, como a doença de Lyme e a febre maculosa. Em 2017, o último ano com dados disponíveis, as doenças transmitidas por carrapatos aumentaram cerca de 20%, e os casos mais do que dobraram nos últimos 10 anos.

“Vimos as populações de carrapatos se expandirem para o norte”, diz Ben Beard, vice-diretor da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores do CDC. “Em temperaturas mais quentes, eles também apresentam maior capacidade reprodutiva, reproduzindo-se com mais intensidade e completando o ciclo de vida mais rapidamente”.

Os carrapatos se alojam em pessoas e animais e, para isso, ficam esperando até que um hospedeiro apareça. Com as patas traseiras presas a uma folha ou galho, eles usam as patas dianteiras para se agarrar a qualquer coisa que passe por eles. Uma vez no hospedeiro, eles se alojam na pele e inserem um tubo de alimentação farpado. É através de sua saliva que doenças como a doença de Lyme são transmitidas, e o processo de alimentação pode levar de 10 minutos a duas horas.

Muitas espécies de carrapatos, mas não todas, permanecem adormecidas durante o inverno e só emergem quando as temperaturas sobem e os dias se tornam mais longos na primavera. Beard disse que o CDC está observando casos de Lyme começarem cada vez mais cedo no ano.

A alteração da paisagem também colaborou com o aumento das populações de carrapatos. O reflorestamento de antigas terras agrícolas e a expansão dos subúrbios criaram mais condições de contato entre os humanos e os carrapatos. Com a perda de seus predadores, as populações de veados portadores de carrapatos aumentaram rapidamente.

“Isso resultou em um aumento do habitat dos carrapatos em torno de casas, onde eles podem prosperar e as pessoas acabam ficando mais expostas”, diz Beard. Ele observa que a maioria das pessoas é mordida por carrapatos em seus próprios quintais.

Mosquitos

Antes de 1999, os Estados Unidos não tinham casos conhecidos do vírus do Nilo Ocidental. Desde então, mais de 41 mil casos foram relatados nos EUA.

Bartholomay diz que a época de maior transmissão da Febre do Nilo Ocidental está se aproximando nos EUA.

Uma vez que as temperaturas sobem, os mosquitos-tigre-asiático, que carregam o vírus, começam a se alimentar e se reproduzir rapidamente.

“Quando um mosquito é infectado pelo vírus, ele primeiro precisa se replicar no interior do mosquito”, diz Bartholomay. “Então, ele passa para as glândulas salivares. Quando o mosquito se alimenta, ele libera saliva e o vírus sai com a saliva. Quando está mais quente, todos esses processos acontecem mais rapidamente”.

Nem todas as mudanças ambientais aumentam o número de mosquitos. Em Iowa, campos de drenagem repletos de água parada (para terraplanagem de terras agrícolas) tiraram dos mosquitos criadouros essenciais. Mas conforme as temperaturas sobem, o CDC prevê que o campo de atuação do mosquito aumente. Com mais comércio e viagens, os cientistas se preocupam com o fato de que doenças que ainda não ocorreram nos EUA, como a febre do Vale do Rift e a chicungunha, possam se espalhar no país pela primeira vez. Para a chicungunha, uma doença viral encontrada nos trópicos, é uma questão tempo, pois é certo que ela será introduzida nos EUA, diz Bartholomay.

“É o tipo de coisa que tira o nosso sono, pois isso seria terrivelmente devastador”, diz Bartholomay, sobre a febre do Vale do Rift. A doença pode facilmente matar um número elevado de animais pecuários e pessoas.

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Barbeiros

Assim como os carrapatos e os mosquitos, os barbeiros podem ampliar sua área de atuação para o norte à medida que as temperaturas sobem. Os barbeiros são insetos de coloração escura do tamanho de uma moeda pequena e podem viver em espaços comuns dos subúrbios, como pequenos arbustos ou concreto rachado.

Também são conhecidos como insetos do beijo, pela forma como infectam os humanos, picando-os perto da boca ou dos olhos. Um estudo da Universidade Texas A&M descobriu que cerca da metade dos barbeiros no Texas abrigava um parasita chamado Trypanosoma cruzi em seu sistema digestório. Cerca de 30% das pessoas infectadas com o parasita desenvolverão a doença de Chagas, uma doença que pode causar insuficiência cardíaca.

“Ocasionalmente, você pode apresentar sintomas quando é infectado pela primeira vez, mas, na maioria das vezes, não sente nada. O desafio dessa doença é que levam cerca de 30 a 50 anos até que a doença de Chagas se desenvolva”, diz Maria Elena Bottazzi, cientista que estuda a doença na Universidade de Baylor.

“Não são apenas as mudanças climáticas”, diz ela sobre o alcance dos insetos que está cada vez maior, “mas também o desmatamento e a desestabilização causada por conflitos”.

Casos de doença de Chagas são tipicamente encontrados apenas na América Central e do Sul. Mas, sem assistência médica adequada, portadores da doença na América Latina podem, sem saber, levar a doença para o norte e ajudar a espalhá-la com a transmissão de sangue infectado pelos mosquitos. De 2013 a 2016, os centros de saúde do Texas relataram 91 casos de doença de Chagas, 20 dos quais foram provenientes de pessoas infectadas dentro do país. Ao passo que alguns estudos afirmaram que climas mais quentes podem deslocar a doença para o norte, Bottazzi diz que não está claro se as populações de insetos estão realmente crescendo ou se os médicos estão aprimorando sua capacidade de detecção.

Futuro infeccioso

O CDC fornece informações sobre o tipo de roupa e repelente que podem ser usados para evitar picadas, bem como formas de evitar criadouros no próprio quintal.

Bottazzi observa que as pessoas infectadas podem variar de acordo com a classe socioeconômica e considera a doença de Chagas uma “doença relacionada à pobreza”.

“É diferente nos EUA porque muitas vezes as casas possuem janelas teladas e ar condicionado”, acrescenta Bartholomay. “Temos algumas coisas a nosso favor, barreiras adequadas e pronto acesso a repelentes”.

Sobre o aumento do número de doenças transmitidas por vetores, Beard diz que o CDC prevê que “essa tendência continue”.

“Não há vacina para nenhuma das doenças transmitidas por vetores nos Estados Unidos. Proteger-se contra carrapatos e mosquitos depende de medidas de proteção pessoal”, diz ele.

Aedes aegypti, mosquito que transmite a dengue e a febre amarela, entre outras doenças, no Laboratório de Entomologia Urbana da Universidade da Flórida, em Gainesville, nos Estados Unidos. FOTO DE JOEL SARTORE, NATIONAL GEOGRAPHIC PHOTO ARK

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC