Tsunami na Indonésia: “Tentei me segurar em qualquer coisa para sobreviver”
Ao menos 222 pessoas foram mortas e 843 pessoas ficaram feridas quando um tsunami atingiu as cidades costeiras do Estreito de Sunda, na Indonésia, no sábado.
Não houve alerta para as ondas gigantes que atingiram a costa à noite, destruindo centenas de prédios, varrendo carros e derrubando árvores. Suspeita-se que a erupção de um vulcão tenha causado o tsunami. Autoridades pediram que a população se mantenha longe da costa, com medo de um novo tsunami.
O fotógrafo de vulcões Oystein Lund Andersen estava na ilha de Java, na Indonésia, quando um tsunami mortal varreu sua costa noroeste.
Sem que tivesse havido um tremor, a costa da ilha foi golpeada por duas ondas, relatou o norueguês à BBC.
“De repente vi essa onda vir e tive que correr. Havia duas ondas. A primeira não foi tão forte, pude fugir dela”, contou.
A segunda foi devastadora: causou a morte de dezenas de pessoas e centenas de feridos, além de ter deixado casas e edifícios destruídos nas cidades próximas ao chamado Estreito de Sunda, entre as ilhas Java e Sumatra.
O fenômeno deixou ao menos 222 mortos, 843 feridos e 28 desaparecidos, segundo as autoridades do país do sudeste asiático. Elas recomendaram que a população não fique na costa, com medo de outro tsunami. Na televisão, o presidente Joko Widodo lamentou as vítimas causadas pelo tsunami e pediu “paciência” aos sobreviventes.
Não houve terremoto, o que normalmente dá as autoridades tempo para transmitir um alerta de tsunami. Todos foram pegos de surpresa.
O vulcão Anak Krakatoa havia registrado explosões durante a sexta e o sábado. Mas, de acordo com Andersen, “justo antes das ondas golpearem a praia, não havia nenhuma atividade (vulcânica)”.
O golpe da onda se deu às 21h30 locais (14:30 GMT).
O que causou então essa gigante onda com consequências devastadoras para a Indonésia?
Buscando a causa
Especialistas estão tentando determinar com exatidão, mas uma primeira avaliação aponta para um evento desencadeado pelo vulcão Krakatoa.
As autoridades indicam que houve um deslizamento de terra sob a água no Estreito de Sunda, que divide as ilhas de Java e Sumatra, e que isso gerou as ondas arrasadoras.
O chefe da Agência para o Controle de Desastres da Indonésia, Sutopo Purwo Nugroho, deu essa primeira explicação baseado na informação de atividade geológica registrada antes do tsunami.
Por meio do Twitter, ele atribiu a “uma combinação” do deslizamento de terras submarino provocado por uma erupção do Krakatoa com a maré alta durante a lua cheia.
Nugroho assegurou que tsunamis no Estreito de Sunda não são comuns. Tampouco erupções grandes do Krakatoa, que costuma ter apenas temores de baixa intensidade.
“Não houve nenhum terremoto que desencadearia o tsunami depois. Essa é a dificuldade de determinar sua causa”, disse.
Como aconteceu, então?
O vulcanólogo Jess Phoenix disse à BBC que quando os vulcões entram em erupção, o magma quente cria um impulso embaixo da terra.
Pode mover e quebrar rochas mais frias, o que em algumas ocasiões genera grandes deslizamentos.
Como o vulcão Anak Krakatoa está parcialmente debaixo da água, em vez de só causar um deslizamento superficial, “gerou-se um deslizamento de terra submarino”.
O fenômeno “empurra” a água à medida que se desenvolve – com potencial de gerar um tsunami.
Como todo tsunami, é uma questão de minutos ou horas para que as ondas cheguem às costas. Além disso, a maré alta da lua cheia de agora provavelmente contribuiu, sim, para a força das ondas.
Especialista em tsunamis do Earth Observatory de Cingapura, Adam Switzer, disse à BBC que é provável que o tsunami tenha sido causado por um deslizamento.
Ele diz que os deslizamentos podem passar despercebidos: “Não há explosão. Os deslizamentos só escorregam no oceano, geram a onda e a onda chega na costa em questão de minutos”.
Nos últimos meses, a atividade do vulcão Anak Krakatoa havia crescido.
A agência geológica indonésia disse que o vulcão entrou em erupção durante dois minutos e 12 segundos na sexta-feira, criando uma nuvem de cinzas que se elevou 400 metros sobre a montanha.
No sábado, houve mais atividade, como pode constatar o fotógrafo norueguês.
Na hora do tsunami, ele conseguiu escapar porque viu a primeira grande onda.
“Corri diretamente ao hotel onde minha esposta e meu filho dormiam. Acordei eles e ouvi que vinha uma onda maior. Olhei pela janela quando chegou a segunda onda. Era muito maior”, disse ele à BBC.
“A onda passou o hotel e levou os carros das ruas. Nós e outras pessoas do hotel fomos diretamente a um terreno mais alto ao lado do hotel. E ainda estamos na colina agora”, disse Andersen.
A Indonésia está em uma área propensa a terremotos – está no que se chama de “Círculo de Fogo”, uma região de terremotos e erupções vulcânicas que se estende pela borda do Oceano Pacífico.
No último 28 de setembro o país havia sofrido com um terremoto devastador seguido de um tsunami que havia deixado mais de 1.300 vítimas fatais na ilha de Célebes.
Foi também em dezembro, dia 26, em 2004, que uma série de ondas enormes provocadas por um poderoso terremoto no Oceano Índico matou cerca de 228 mil pessoas em 14 países, incluindo a Indonésia.
Vulcão mortal
Antes do Anak Krakatoa, havia o Krakatoa, seu antecessor.
Em agosto de 1883, o antigo Krakatoa causou uma das erupções vulcânicas mais violentas de que se tem registro, provocando tsunamis massivos com ondas de até 41 metros que mataram mais de 30 mil pessoas em Java e Sumatra, segundo uma reportagem da revista The Atlantic.
As erupções tiveram força equivalente a 13 mil vezes a da bomba nuclear lançada sobre Hiroshima em 1945.
As erupções foram ouvidas a milhares de quilômetros de distância e as temperaturas mundiais foram reduzidas em mais de 1 grau no ano seguinte a esse acontecimento.
A ilha vulcânica praticamente desapareceu e, em 1927, surgiu uma nova ilha, Anak Krakatoa (filho do Krakatoa).
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