Rico em biodiversidade, o Pantanal do Rio fica em Nova Iguaçu
29 de dezembro de 2024

Pantanal Iguaçuano, na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Guandu, é um achado onde fauna e flora resistem bravamente às ações humanas

A cerca de duas horas do Centro do Rio, um recanto surpreende e ainda preserva a beleza natural primitiva na Baixada Fluminense. Num mundo que começará 2025 desafiado pelas mudanças climáticas, o Pantanal Iguaçuano, na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Guandu, é um achado onde fauna e flora resistem bravamente às ações humanas, não sem o esforço da comunidade ribeirinha local. Edson Monteiro, ou Crocodilo Dundee, como é conhecido pela vizinhança, é um dos guardiães do santuário dos biguás, do passarinho garibaldi, dos tucanos-toco e de famílias inteiras de gaviões-caramujeiros. Nas águas, tem robalo, apaiari-tigre, tilápia e espécies de patos. Desde outubro, até um cisne negro é visto nadando por lá.

Esse lugar pouco conhecido fica dentro da Região Hidrográfica II do Guandu e é dividido em três partes principais: a Lagoa, o Lagoão e o Rio Guandu, onde é feita a captação de água do sistema da Cedae que abastece 9 milhões de consumidores de parte da Região Metropolitana do Rio.

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De caçador a guardião

— Estamos dentro da maior área de captação de água do país. O Rio Cabuçu, que nasce na Serra do Vulcão, deságua no Rio Ipiranga, e chega aqui já poluído por causa do descarte de esgoto sem tratamento, principalmente industrial. Mesmo assim, a natureza resiste. Ninguém acredita quando a gente diz que tem tanta beleza assim em Nova Iguaçu, mas tem — destaca Edson, que nasceu no Recife e chegou à Baixada aos 28 anos.

— Na época, emprego era muito difícil, não tinha comida. Eu caçava para sobreviver, mas sabia que não era certo. A minha mãe falava muito que tinha que proteger os animais, os rios, a floresta. Parei de caçar, comecei a fazer replantio de árvores na região e, hoje, sou guarda ambiental — revela.

Ele é chamado de Crocodilo Dundee por causa do personagem do filme da década de 1980, sobre um caçador da Austrália que vai para os Estados Unidos.

Para sensibilizar os moradores e, principalmente, as novas gerações, ele começou a fazer uma série de atividades de educação ambiental com escolas municipais. Aos poucos, o interesse foi aumentando. Hoje, a região tem até passeios guiados. Nos fins de semana, o cais, de chão de terra, fica cheio de famílias que vão passear de pedalinho, almoçar peixe fresco e andar de barco.

Ave no Pantanal Iguaçuano, na Baixada Fluminense — Foto: Custodio Coimbra
Ave no Pantanal Iguaçuano, na Baixada Fluminense — Foto: Custodio Coimbra

São muitas as paisagens pelo caminho de rio cercado por mata que, de fato, lembram o Pantanal mato-grossense. O ponto inicial do trajeto é a Lagoa, onde deságuam os rios Ipiranga e Cabuçu, que vêm de Nova Iguaçu. Depois, o barco segue para o Lagoão, passando por um santuário de tilápias, e navega pelo Rio Guandu, de onde se vê o local de captação de água. O último ponto da visita é a Lagoa dos Patos, onde funcionava um areal anos atrás; hoje, a água é cristalina.

— Aqui dá até para mergulhar. A água é transparente, não tem cheiro de nada e só vaza para fora, porque vem direto do lençol freático. Então, está sempre saindo, não deixa a água do rio entrar. É impressionante — diz Edson.

Com o objetivo de mostrar Nova Iguaçu como uma cidade produtora de água e conscientizar as pessoas sobre a necessidade de conservar a natureza, a diretora de cinema Cátia Helena decidiu fazer um filme. Nascida e criada na região, ela percorreu o Pantanal Iguaçuano com Edson, um dos protagonistas de “Nova Iguaçu, cidade das águas”, lançado em 30 de outubro, no Teatro Sylvio Monteiro, que fica no município. E ressalta que, embora esse paraíso guarde inúmeras riquezas, para preservá-lo ainda há múltiplas ameaças a eliminar.

— O que mais me chamou a atenção é que ali fica a maior área de captação do Estado do Rio e é uma área muito degradada. É urgente que essa realidade mude. A água é muito suja. E é a água que chega na nossa casa, depois de muito tratamento. Imagina se tudo ali fosse água potável? Se os rios fossem tratados e limpos antes de desaguar ali? Seria maravilhoso — vislumbra a diretora.

Pesca regional

Peixes como tilápia, traíra, cambota, cascudo-viola e cascudo-abacaxi resistem à poluição. Desde a crise causada pela geosmina, em 2020 e 2021, a quantidade de pescado diminuiu significativamente. Reinaldo Moura, de 44 anos, mora no bairro Lagoinha, e sobrevive da atividade há 28 anos. Além da tradicional pesca de rede, ele também faz a caça submarina, com arpão. Num pequeno barco e de macacão camuflado com proteção até a cabeça, ele percorre as lagoas do pantanal, das 7h às 17h.

— O mergulho, eu faço sem equipamento de oxigênio, só na apneia, no pulmão. Tem dia que está bom, cheio de peixe, mas tem vezes que eu dou 20, 30 mergulhos para pegar um peixe. A coisa piorou depois da geosmina. Jogaram um produto, e a quantidade de tilápia reduziu demais. Agora é uma luta para pegar peixe — conta o pescador.

Ele ajuda a reflorestar a mata em volta para contribuir com a preservação da região:

— É de onde eu tiro meu sustento. Meus filhos foram criados nessa lagoa. Muita gente precisa disso aqui pra sobreviver. A gente planta árvore frutífera pensando nas pessoas e nos animais. Se todo mundo cuidasse, o Pantanal estaria muito melhor.

Fonte: O GLOBO

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