Apesar de ser classificado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) como de alto potencial poluidor e “porte excepcional”, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, aprovou – sem estudo de impacto ambiental – , a instalação de quatro usinas termelétricas flutuantes, uma unidade flutuante de armazenamento de gás e 36 torres de linha de transmissão na Baía de Sepetiba, localizada no litoral sudoeste do estado, no entorno dos municípios de Mangaratiba, Itaguaí e Guaratiba.
O projeto da multinacional da Turquia do setor de energia, Karpowership, passará pelo espelho d’água da baía, além de áreas de mangue e Mata Atlântica. Segundo denúncias da organização Baía de Sepetiba Viva também não foi realizada a Análise de Riscos e Acidentes Ambientais e o Plano de Emergência Individual, estudos esses exigidos por lei.
Mas como foi considerado “estratégico” pelo governo do Rio, o empreendimento com custo estimado em R$ 3,1 bilhões foi aprovado rapidamente no ano passado, quando no Brasil todo enfrentava-se uma grave crise hídrica e havia riscos de um racionamento por falta de energia.
Para agilizar a instalação de toda a estrutura, que terá capacidade de produção de 560 megawatts de energia, o Inea autorizou que o processo de licenciamento fosse “fracionado”, sem que haja uma avaliação global de todas as suas etapas e respectivos impactos e riscos associados.
Vale ressaltar que o projeto é temporário. Só terá duração de 44 meses e após esse período, tudo será removido.
Em nota enviada ao portal de notícias G1, a Karpowership afirmou que “o projeto de geração de energia da Karpowership, localizado na Baía de Sepetiba, atende aos mais rigorosos requisitos ambientais brasileiros e internacionais. As operações dos navios com usinas termelétricas (Powerships, em inglês) têm certificações emitidas por entidades reconhecidas internacionalmente”. A companhia destacou ainda que a instalação por tempo determinado da operação “têm impacto ambiental substancialmente menor do que a construção e operação de uma termelétrica em terra”.
Segunda uma reportagem do site (o)ecco, todo o processo para a finalização do contrato entre o governo do Rio de Janeiro e a multinacional foi feito silenciosamente e rapidamente nos bastidores. Em outubro de 2021, as empresas Karpowership Brasil Energia Ltda e Karpowership Futura Energia Ltda foram registradas no Brasil e no mesmo mês já participaram do leilão de energia promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A biodiversidade da Baía de Sepetiba em risco
A Baía de Sepetiba é uma área muito importante tanto para a conservação ambiental como para a economia local. Além de gerar renda através do turismo, garante o sustento de centenas de comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Também é habitat de espécies marinhas ameaçadas de extinção, como a tartaruga-cabeçuda, o mero e o boto cinza – é ali que se encontra a maior concentração de desses golfinhos do planeta.
“Essas termelétricas a gás jogam e recolhem água no mar e ao jogá-la de volta essa água está clorada e abaixo da temperatura ambiente. Isso pode causar um grande problema para a fauna local. Existem vários microrganismos que morrem com cloro”, explicou Leonardo Flach, coordenador científico do Instituto Boto Cinza, ao G1.
No próximo dia 5 de abril será realizada uma audiência pública na Comissão de Saneamento Ambiental da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para debater o assunto.
Até lá, se você acredita que o processo precisa ter mais transparência e é essencial que a apresentação de um estudo de impacto ambiental, assine essa petição online para pressionar as autoridades – NÃO às termelétricas na Baía de Sepetiba! NÃO ao retrocesso ambiental!
Leia também:
Mortalidade de botos-cinza no Rio de Janeiro preocupa biólogos
Estudo revela potencial gigantesco mas ainda pouco explorado de estoque e sequestro de carbono dos manguezais brasileiros
Incentivo ao uso de carvão mineral pelo governo federal é retrocesso brutal em tempos de crise climática
Belo Monte: maior e mais cara hidrelétrica brasileira não produz a eletricidade prometida por seus idealizadores
Foto: Instituto Boto-Cinza
Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
Fonte: Conexão Planeta
Notícias de Seropédica, do Brasil e do Mundo
Deixe a sua opinião sobre o post