A abelha arapuá (ou irapuá) não tem ferrão. Ela é pequena, bem pretinha e tem duas pernas mais alaranjadas. A espécie é muito importante para a natureza, principalmente para a restauração florestal, reconstrução de sistemas.
O Brasil tem cerca de 250 espécies de abelha sem ferrão. Uma delas é a Trigona spinipes – nome científico da arapuá (ou irapuá). Ela também é conhecida por abelha-de-cachorro, tem características que a classificam como invocada (e até nervosinha) e é lembrada por grudar no cabelo/pelo do invasor quando se sente ameaçada.
A arapuá é a espécie que inspirou o drone do jogo lançado pelo g1 nesta sexta-feira (26), véspera do Dia da Mata Atlântica. No Bzzz!Drone, a abelha tem como objetivo monitorar e cuidar da mata. Em cada fase, ela registra animais em risco e localiza invasores responsáveis pela caça e pelo desmatamento. Veja galeria de fotos da arapuá ao final da reportagem.
Cuidar de espaços que foram degradados e resgatá-los estão entre as características dessa abelhinha preta tão pequena e reluzente.
“A arapuá é uma abelha generalista, não precisa de um ambiente super conservado. Às vezes, ela é uma das poucas espécies que existem em ambientes degradados que pode fazer a polinização. Ela faz o serviço de polinização de resgate dessas áreas“, explica Denise de Araujo Alves, pesquisadora da Esalq-USP e integrante do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).
Foto: Luisa Rivas | Infografia g1
Antonio Carlos Pereira Junior, professor de meliponicultora da Universidade de Taubaté (Unitau) e membro da Comissão Técnico Científica da Confederação Brasileira de Apicultura, completa que a arapuá é a pioneira no sistema de regeneração de matas.
“Ela vai ser a primeira abelha a chegar numa mata em formação ou regeneração, justamente por não depender de ocos de árvores para construir seu ninho. É uma abelha fantástica, importantíssima para a restauração florestal“, reforça Antonio Carlos.
Outra característica da arapuá é a corbícula – um tipo de cesto localizado em suas pernas posteriores que acomoda e transporta materiais coletados no ambiente de volta para seus ninhos.
A arapuá é uma abelha sem ferrão, mas isso não significa que ela não saiba se defender. Muito pelo contrário. A espécie tem fama de invocada porque é superagressiva quando se sente ameaçada.
“Ela tem dentinhos na mandíbula. Ela faz pequenas mordeduras na pele. É bem chatinho, mas não tem substância venenosa. Vai incomodar, mas não forma hematoma como o pernilongo”, ressalta a pesquisadora Denise Alves.
A abelha também costuma “atordoar” o invasor, voando em volta da cabeça para que ele saia de perto do ninho. É nessa hora que ela acaba “grudando” nos cabelos e pelos.
Por que invocada?
Foto: Cristiano Menezes/Embrapa
“Ela carrega resina na perna, tornando-a uma abelha pegajosa quando encostamos nela. É nessa hora que ela gruda no cabelo. Já vi relatos de crianças que mexem com a abelha e depois os pais precisam cortar o cabelo, porque fica impossível de tanta resina que gruda na cabeça”, alerta Cristiano Menezes, chefe de P&D da Embrapa Meio Ambiente.
E ela é perigosa? Os especialistas explicam que, se você sofrer um ataque de arapuá, você não vai morrer. No entanto, há riscos de ela entrar no ouvido e perfurar o tímpano, por exemplo.
Abelhas arapuás (Trigona spinipes) operárias coletando resina — Foto: Cristiano Menezes/Embrapa Meio Ambiente
Importância para a Mata Atlântica
Como explicamos no começo da reportagem, a arapuá é uma polinizadora de resgate. Dados da Fundação SOS Mata Atlântica apontam que o bioma perdeu mais de 20 mil hectares em um ano – a segunda maior área desmatada dos últimos seis anos. Ou seja, a abelha pode ser uma grande aliada no reflorestamento.
Uma praga? Cuidado nessa hora…
Foto: Cristiano Menezes/Embrapa
Para diversos agricultores, a arapuá é uma praga agrícola por destruir flores e frutos. Mas não é possível generalizar. Antes de pensar em sair exterminando a abelha, é preciso ver o contexto.
“Em algumas situações, ela pode se tornar uma praga. No cultivo de banana, por exemplo, existem relatos de que ela pode transmitir doença entre os pés da fruta”, diz Cristiano Menezes.
Segundo o chefe da Embrapa Meio Ambiente, ela tem a fama de destruir os brotos das flores, antes que a flor se abra.
“Em muitos casos, ela apenas danifica o tecido vegetal da flor sem causar problema para a frutificação. É importante observar bem caso a caso para saber se o dano que ela está causando é representativo ou se é superficial”, explica Cristiano Menezes
Como funcionam as colônias de abelhas
Foto: Cristiano Menezes/Embrapa
As abelhas são muito organizadas e todo mundo tem alguma função na colônia.
Rainha:
- A rainha é a responsável pela reprodução.
Zangões:
- Os machos, também conhecidos como zangões, têm apenas uma função: acasalar. Eles não desenvolvem nenhum trabalho na colônia.
Operárias:
- As responsáveis por tudo são as operárias. São elas que limpam a casa, que buscam e recebem alimentos, que cuidam das crias e da rainha, que constroem o ninho. As funções vão mudando com a “idade” da operária.
“As mais jovens, até uns 20 dias de idade, trabalham nas atividades internas, limpeza do ninho, construção de estruturas, apoio para produção de comida, construção de células de cria, todo processo relacionado à reprodução da rainha”, explica Menezes.
Depois, elas vão para o ambiente externo forragear (buscar alimentos, água). “Até os 20 dias, elas ficam dentro do ninho e de 20 a 40 dias elas trabalham fora”, diz.
- Princesas:
As colônias também têm as princesas (as futuras rainhas). Na arapuá, elas são produzidas com muita frequência e são usadas para a formação de novas colmeias. Mas como elas são criadas?
“Temos as chamadas células reais, que são células de cria maior, onde são produzidas as rainhas. Na abelha sem ferrão, não existe geleia real. O que faz uma larva virar rainha é a quantidade de comida. Nessas células, elas colocam mais comidas”, afirma.
De acordo com o chefe da Embrapa Meio Ambiente, serão formadas novas princesas, que vão amadurecer (em torno de 15 dias).
Se não precisarem da princesa, geralmente, elas a matam e descartam. Se forem reproduzir, elas usam a princesa para a formação da nova colmeia.
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