A semana mais quente da história: do Líbano ao Rio Grande do Sul, Terra cobra mais uma vez o preço da nossa inação
18 de julho de 2023

Nos últimos dez dias, uma série de eventos climáticos extremos tem afetado várias partes do mundo, deixando um rastro de destruição e causando preocupação generalizada sobre as mudanças climáticas. Um dos destaques desse período foram os recordes históricos de temperatura registrados no início de julho.

Muitas regiões enfrentam ondas de calor sem precedentes. Países da Europa, como França, Alemanha e Holanda, sofreram com termômetros marcando acima dos 40 graus Celsius. Essas altas temperaturas levaram a problemas de saúde pública, incêndios florestais e uma demanda sem precedentes por energia para resfriamento.

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Regiões do sudeste asiático, como Índia, Bangladesh e China, enfrentaram fortes chuvas e inundações devastadoras. Em paralelo, áreas como o oeste dos Estados Unidos e Canadá continuaram a sofrer com uma grave seca, que tem levado a incêndios florestais intensos.

Cientistas alertam que esses eventos provavelmente se tornarão mais frequentes e intensos no futuro, a menos que medidas significativas sejam tomadas para reduzir emissões de gases de efeito estufa e mitigar efeitos do aquecimento global. O tempo está se esgotando, e a urgência de agir contra as mudanças climáticas nunca foi tão evidente”.

Se você não aguenta mais ler textos como este, acima, tem nossa solidariedade: a gente também não aguenta mais escrever a mesma coisa. Aliás, esse parágrafo aí no alto nem foi feito por nós; pedimos ao ChatGPT para produzi-lo.

Ele indica que extremos climáticos descontrolados viraram o novo normal, numa temporada de desastres que se repete todos os anos, em especial no verão do Hemisfério Norte (ondas de calor e incêndios) e no verão do Hemisfério Sul (enxurradas, inundações e deslizamentos).

Vira e mexe, porém, um recorde ainda mais assombroso ganha o noticiário. Foi o caso do registro do dia mais quente da história, 3 de julho. Naquela data, a temperatura média da Terra atingiu 17,01ºC, a mais alta em qualquer momento desde o início das medições com termômetros, no século 19.

O recorde durou menos de 24 horas: no dia 4, a média chegou a 17,18ºC, valor que se manteve no dia 5 e subiu no dia 6 para 17,23ºC, dando ao mundo a semana mais quente dos últimos 150 anos pelo menos.

Nos próximos meses, à medida que o El Niño exercer sua força máxima, outras tragédias deverão se abater sobre o mundo que, no entanto, tem falhado em responder à altura.

Boa sorte para nós!

A semana mais quente da história (e outros extremos)

O mundo bateu no começo de julho três recordes sucessivos de calor. Os dias 3, 4 e 6 foram os três mais quentes já registrados desde o início das medições com termômetros, em 1880. A superfície terrestre atingiu temperaturas médias de 17,01ºC e 17,18ºC dias 3 e 4, permanecendo em 17,18ºC no dia 5 e subindo para 17,23ºC no dia 6.

É mais do que 2ºC a mais do que a média pré-industrial, de 15ºC, e supera em muito o recorde anterior, de 16,92ºC, em agosto de 2016 (o ano mais quente da história por enquanto).

A semana mais quente da história: do Líbano ao Rio Grande do Sul, Terra cobra mais uma vez o preço da nossa inação

Gráfico do Climate Reanalyzer mostra a anomalia de temperatura do início de junho
(Imagem: reprodução)

As temperaturas extremas resultam de uma combinação de três fatores:

– o verão no Hemisfério Norte, que concentra a maior parte das terras emersas e, portanto, dita o ritmo dos termômetros no ano;
– o El Niño, que chegou chegando em junho (a propósito, o junho mais quente da história segundo a Nasa, 1,07ºC acima da média, contra 0,92ºC do recorde anterior); e
– o velho e nada bom aquecimento global. Este ano está com tudo para ser o mais quente de todos os tempos – e 2024 pode ser ainda pior, devido à permanência do El Niño.

Ondas de calor com dezenas de mortos e incêndios florestais precoces vêm ocorrendo na América do Norte e na Europa. No Líbano, como mostrou Leila Salim, do OC, neste relato, a sensação térmica de 40ºC é agravada pela crise econômica que leva a cortes de energia e contas de luz impagáveis.

Não é só o norte global que sofre.

No Brasil, os últimos dias viram chuvas extremas em Alagoas, com 32 municípios em estado de emergência e mais de 7.000 desabrigados e desalojados.

No Rio Grande do Sul e no Paraná, um ciclone extratropical tocou terra e deixou, pelo menos, um morto e 1 milhão de pessoas sem energia. Os efeitos do vendaval foram sentidos até em São Paulo, onde duas pessoas morreram.

*Este texto foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, em 17/7/2023

Foto de abertura: Stéphanie Vaudry/Creative Commons/Flickr

Fundado em 2002, o OC é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil

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