A história de São Nicolau, o Bispo que inspirou Papai Noel
24 de dezembro de 2021

O Natal, para os cristãos, é o nascimento de Jesus, o Cristo. E o que esta data tem a ver com o Joulupukki, nome dado ao Papai Noel, na Finlândia; Julenissen, na Noruega; e com São Nicolau, o amigo das crianças e santo protetor dos marinheiros, mercadores e endividados?

Durante a pesquisa para o livro Anjo Russo, a escritora Zia Stuhaug, que vive há dez anos na Noruega, visitou Rovaniemi, na Finlândia, onde fica “o escritório oficial” do bom velhinho. Veja o que ela descobriu sobre a lenda do personagem natalino:

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São Nicolau x Papai Noel
Há uma grande semelhança na aparência, motivo pelo qual faz confundir estas duas figuras distintas, mas tratadas como sendo um único personagem, sempre relacionadas à época do Natal.

São Nicolau foi canonizado pela Igreja Católica, por terem sido atribuídos a ele muitos milagres. Viveu na  cidade portuária de Myra, uma antiga cidade grega de Lykia — hoje, a localidade de Demre, na Turquia —, no século IV, após ouvir os conselhos de um tio para que viajasse à Terra Santa, depois da morte de seus pais. Dizem que, no percurso da viagem, deu-se uma terrível tempestade e, quando São Nicolau rezou, a calmaria se estabeleceu. Sendo assim, ele se tornou padroeiro dos marinheiros e mercadores. Na Grécia antiga, ele era o amigo do mar, e as  pessoas acreditavam que, se invocassem o seu nome, ele  poderia salvá-las de se afogar, numa substituição a Poseidon, o deus pagão do mar, motivo pelo qual muitas cidades costeiras levam o seu nome.

Dizem que ele era filho de pais nobres e ricos e doou sua grande herança aos pobres. Mas há quem diga que este fato pertence a outro santo, o São Basílio de Cesareia, também chamado de São Basílio Magno ou Basílio, o Grande.

O fato é que São Nicolau nunca foi apegado a bens materiais e sentia alegria em ajudar os necessitados. De uma personalidade dócil e com tendência a auxiliar crianças e pessoas carentes, foi tomado de zelo pela educação e moral, tanto dos pequenos quanto de suas mães, o que levou os estudantes europeus a reverenciá-lo. Há na cidade de  Guimarães, em Portugal, uma festa estudantil chamada Festas Nicolinas, que se realiza próximo da data da morte do Santo, dia 6 de dezembro, e em sua homenagem.

Imagem do São Nicolau (Foto: Wikimedia/Dionisius )
Imagem do São Nicolau (Foto: Wikimedia/Dionisius )

São Nicolau foi o exemplo de solidariedade ao próxim: certa vez, livrou três moças de serem enviadas à prostituição pelo pai, um comerciante com a finança arruinada, que num momento de desespero, por causa da extrema pobreza em que se encontrava, não tinha recursos para sustentá-las, nem o dinheiro do dote para que elas pudessem se casar. São Nicolau  jogou três sacos de moedas de ouro pela chaminé da casa da família, e o saco caiu em cima das meias das moças, que tinham sido colocadas na lareira para secar.

São Nicolau foi amado e reverenciado por toda a Europa, depois que seus restos mortais foram transferidos para a cidade de Bari, na Itália, em 1807, e receber muitos relatos de milagres por seus devotos, ele foi canonizado pela Igreja Católica. Desde então, comemora-se no dia 6 de dezembro o Dia de São Nicolau. Sua imagem e história de vida  o popularizaram como um senhor de feições muito serenas, trajado de bispo, com batina branca e estola vermelha e com mintra — ornamento episcopal para a cabeça —, e as mãos firmes segurando um báculo —  tipo de cajado igual ao dos pastores de ovelha.

Pela sua bondade e afeição com as crianças e pelo relato do saco de moedas de ouro jogado na chaminé da família das três moças, logo os relatos se popularizaram, associando-o ao bom velhinho com um saco de presentes nas costas. A imaginação popular não parou por ali. Logo trouxeram alguns personagens do folclore europeu para lhe servir de ajudante. Afinal, o saco com presentes era enorme e as crianças, muitas. E não eram todas elas que podiam ganhar presentes e, sim, as que se comportassem bem durante o ano. Assim, logo foi difundida a imagem, em desenhos, do ajudante de São Nicolau.

Na  Holanda tornou-se popular São Nicolau (Sinterklaas) ter um ajudante chamado Pedro Preto (Zwarte-Piet), que, segundo a lenda, tem essa cor devido às cinzas das chaminés por onde ele tem que passar para deixar os presentes. Houve, recentemente, protestos na Holanda para que este personagem, avaliado como de fundo racista, fosse eliminado dos festejos natalinos, por criar desconforto na minoria daquele país. Isto porque o ajudante tem características que se mostram bem opostas à bondade de São Nicolau, sendo a ele atribuída a escolha das crianças merecedoras dos presentes e doces natalinos, e, com isso, associado ao Bicho-Papão ou Homem do Saco, cujas imagens de severidade impuseram  medo à criançada.

A origem do Papai Noel
Em 1700, os emigrantes holandeses levaram Sinterklaas à América, onde abriram sua primeira igreja a São Nicolau em Nova Amsterdã e, mais tarde, em Nova Iorque. Foi chamado de Santa Claus.

O teólogo Clement C. Moore escreveu um poema para suas filhas, com o título: “Uma visita de São Nicolau”, em 1823. Uma senhora chamada Harriet Butler tomou conhecimento do poema através das filhas de Moore e o levou ao editor do Jornal Troy Sentinel, em Nova York, que o publicou no Natal desse mesmo ano, sem fazer referência ao seu autor — só em 1844 é que Clement C. Moore reclamou a sua autoria.

No poema, ele descrevia um pai de família que, na véspera de Natal, estava tranquilo em sua casa, onde nem mesmo um camundongo se movia. Ele ouviu um barulho no quintal e olhou pela persiana. A noite estava clara por causa da luz da lua e o chão, forrado de neve. Ele ficou surpreso ao se deparar com um trenó em miniatura, cheio de presentes, puxado por oito renas pequenininhas, e conduzido por um velhinho tão esperto e ágil, que andou pelo telhado e desceu pela chaminé para deixar os presentes de Natal. Após encher as meias que estavam penduradas na lareira, saiu da mesma maneira como entrou, ficando com o casaco vermelho cheio de fuligem das cinzas. Ele soube naquele momento que era a visita de São Nicolau.

 

Ilustração de São Nicolau em 1881 (Foto: Wikimedia/Thomas Nast )

Ilustração de São Nicolau em 1881 (Foto: Wikimedia/Thomas Nast )

O poema descrevia um São Nicolau de cabelos e barba tão branca quanto a neve. As bochechas rosa e o nariz como uma cereja, rosto largo e uma barriga redonda e saliente que, quando ele sorria, se mexia como uma tigela cheia de gelatina.

O Papai Noel de botas, de rosto corado e com característica polar, sentado em uma cadeira no seu escritório, no Polo Norte, lendo uma lista de presentes pedidos pelas crianças do mundo todo tornou-se muito popular. Aproveitando-se dessa fama e interesse no personagem natalino, a Coca-Cola alimentou ainda mais o imaginário popular ao lançar, em 1931, uma propaganda com a nova versão de São Nicolau oferecendo a bebida a uma garotinha. Na imagem ele  usava casaco mais curto, um gorro vermelho no lugar da mintra, e tinha a barriga saliente descrita pelo poema de Moore. Nascia a lenda atualizada da imagem do Papai Noel que hoje vemos por todo lugar, em épocas natalinas.

A popularidade da nova versão de São Nicolau, na figura de Papai Noel, fez tanto sucesso que a cidade Finlandesa de Rovaniemi, que fica na divisa com o Polo Norte,  investiu para construir o correio oficial do Papai Noel: Santa Claus’ Main Post Office, em concorrência com Drøbak, na Noruega. Lá é possível sentar-se junto à lareira e escrever cartas ao Joulupukki, enquanto duendes e elfos  andam de lá para cá, ajudando o bom velhinho a selar e despachar todas as cartas-respostas. O correio fica dentro do complexo da Santa Claus’ Village, no Círculo Polar Ártico, e foi todo construído para se ter um Natal de sonhos. Luzes coloridas, neve por toda parte, renas, cachorros huskies, e, se tiver muita sorte, aurora boreal. O lugar é muitíssimo concorrido e, para se conseguir hospedagem, é preciso reservá-la com bastante antecedência.

Santa Claus' Village na Finlândia (Foto: Wikimedia/Ulla )
Santa Claus’ Village na Finlândia (Foto: Wikimedia/Ulla )

*Zia Stuhaug é escritora e responsável pelo livro Anjo Russo, publicado pela editora Mais que Palavras.

Por:Galileu

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