Hoje com 77 anos, Paul Alexander usa desde os 6 anos um pulmão de aço, máquina que possibilita a respiração de pessoas que não têm força para isso
Imagem de uma das alas existentes naquela época nos hospitais — Foto: The U.S. Food and Drug Administration – WikimediaCommons
Nos dias que passou em casa, Paul ficou acamado. Até que, quando engolir e respirar se tornaram ações complicadas, ele foi finalmente levado ao hospital de Parkland, no Texas. No local, enquanto ele lutava para respirar, seus pais foram informados de que seu filho não sobreviveria.
Em entrevista à revista HealthDay, Paul, que hoje tem 77 anos, relata que foi colocado em uma maca ao longo de um corredor com outras crianças, sendo a maioria já morta. Estando em uma fase mais avançada com a doença, sua sobrevivência só se deu quando um médico realizou uma traqueostomia de emergência.
Pulmão de aço
Após três dias do procedimento, o pequeno Paul recobrou a consciência. Mas, em vez de uma cama, ele estaca deitado dentro de uma máquina e em outra parte do hospital. Chamada de “Ala dos Pulmões de Aço”, essa seção estava lotada com jovens sobreviventes da pólio, presos em grandes máquinas que os mantinham vivos.
Inventado pelo médico australiano James Carrel no final dos anos 1920, o equipamento feito de aço, que também se chama ventilador de pressão negativa, permite a uma pessoa respirar em caso de paralisia dos músculos respiratórios.
Para funcionar, apenas a cabeça de Paul saía da câmara, selada com uma junta hermética, enquanto a bomba dentro da vasilha forçava seu peito a respirar. A máquina foi sua “casa” até 1954, quando March of Dimes, uma organização americana sem fins lucrativos fundada nos anos 1930 para erradicar a poliomielite, entrou em contato com a família de Paul oferecendo alternativas.
No caso, a proposta era acompanhamento com uma fisioterapeuta chamada Sra. Sullivan, que ensinou a Paul a “respiração de sapo”. Esse método alternativo também é conhecido pelo nome técnico de “respiração glossofaríngea”.
A técnica consiste em usar os músculos da garganta para forçar o ar a passar pelas cordas vocais. O paciente engole oxigênio um bocado de cada vez, empurrando-o pela garganta e entrando nos pulmões. Em menos de um ano, Paul já conseguia dominar bem a técnica, o que o permitiu usar a caixa de aço apenas para dormir, que é justamente o período em que a “respiração de sapo” não consegue ser feita.
Na fotografia, um manequim é inserido dentro do pulmão de aço fechado, deixando apenas sua cabeça para fora — Foto: Articseahorse – Wikimediacommons
Por mais que ainda precisasse utilizar o equipamento, sua vida já havia mudado. Aos 21 anos, Paul se formou com louvor no ensino médio, tornando-se o primeiro aluno de sua escola a se formar sem frequentar as aulas fisicamente, graças a um programa doméstico.
Depois, ele garantiu uma vaga na Universidade do Texas, o que tornou necessária sua mudança para Austin. Ele se formou em direito, passou no exame da ordem e se tornou praticante do direito de família em seu próprio escritório de advocacia.
Nos tribunais, defendia seus clientes em cadeiras de rodas. Atualmente, Alexander é o usuário de pulmão de aço mais longevo de todos os tempos e se mantém ocupado para aumentar a conscientização sobre o risco da poliomielite.
Um dos meios pelos quais ele tenta alertar sobre a doença é a escrita. Em 2020, ele decidiu publicar o livro de memóriasTrês minutos para um cachorro. O nome foi escolhido pela cuidadora de Paul, que se inspirou no presente que o homem ganhou de seus pais ao aprender a respiração de sapo.
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