A localização de um retrato de Raimundo Teixeira Belfort Roxo, estampada em uma medalha comemorativa do Clube de Engenharia, é um feliz acontecimento para os mais de quinhentos mil moradores do município da Baixada Fluminense que tem esse mestre da engenharia brasileira como patrono. Finalmente agora eles conhecem o rosto do personagem histórico que homenageiam.
Quem foi esse homem esquecido pela historiografia oficial? O que ele fez de extraordinário? Raimundo Teixeira Belfort Roxo, nascido no Maranhão em 1838 e falecido no Rio de Janeiro em 1896, deixou uma longa folha de serviços prestados ao país. Ao lado de Paulo de Frontin, líder de uma equipe de engenheiros e operários determinados, ele viveu uma história exemplar: o chamado “episódio da água em seis dias”, no fim do Império, verão de 1889.
Eram dias insuportáveis para os cariocas. Enquanto a corte, os ricos e os diplomatas veraneavam na serra fluminense, a população pobre vivia sem água, sob um sol de 42 graus à sombra.
O abastecimento aos chafarizes era escasso. Os comícios e as passeatas de protesto se tornavam frequentes. Rui Barbosa, que dirigia o jornal “Diário de Notícias”, dava razão ao clamor público. Pressionado, o governo imperial, que se mostrava omisso e incompetente, fez concurso público para a escolha de um escritório de engenharia que realizasse novas obras de canalização.
E foi o grande jurista quem apostou na capacidade de Paulo de Frontin, Belfort Roxo e alunos da Escola Politécnica de garantir o abastecimento dos chafarizes com fartura de água. Em vez dos seis meses de prazo, como prometiam os funcionários do governo, eles realizariam o trabalho em seis dias. E a um custo bem menor. Pressionado, o governo cedeu. Além do prazo que estipularam – equivalente a 144 horas – Frontin, Belfort Roxo e equipes de engenheiros e operários enfrentaram pressões políticas e ameaças de agressões físicas.
O engenheiro e historiador Maurício Joppert da Silva narrou o “episódio da água em seis dias” com emoção: “Foi uma verdadeira empreitada de formigas, em que todos trabalhavam ao mesmo tempo, cada um desempenhando sua tarefa (…) … Acima de tudo, enfrentava-se a malquerença do pessoal do governo e da Inspetoria de Águas…” Exatos seis dias depois do início as obras estavam terminadas. A água das cachoeiras do Rio Tinguá, na Serra do Comércio, na Baixada Fluminense, chegou à Represa do Barrelão, no Rio, canalizada em tubulação assentada à margem da linha da Estrada de Ferro Rio d’Ouro. O volume diário era de 16 milhões de litros.
Segundo o professor Nestor Goulart Reis, da FAU-USP, “no Brasil, durante todo o Império (1882-1889), como agora, os governos resistiam a investimentos nas áreas urbanas (…) Guardadas as proporções, era uma situação semelhante à de nossos dias.”
Raimundo Teixeira Belfort Roxo tornou-se bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas pela Escola Central, depois Escola Polítécnica. Como Paulo de Frontin e Pereira Passos, ele foi mandado por Dom Pedro II à Europa, com dinheiro do próprio bolso do monarca, para estudos de especialização. Diplomou-se no Instituto dos Engenheiros Civis de Londres e na Escola de Pontes e Calçadas de Paris.
No Brasil, realizou importantes trabalhos, como a ampliação e modernização do porto de São Luís do Maranhão, a inspeção das obras de construção da Estrada de Ferro Minas e Rio, além de dirigir a Inspetoria Geral de Obras Públicas do Rio de Janeiro. Belfort Roxo e seus colegas de século tornaram a engenharia um instrumento do desenvolvimento urbano, do bem-estar público e da expansão dos transportes para além do imaginável, principalmente com as vias férreas. Ele morreu sete anos depois do “episódio da água em seis dias.”
Como homenagem póstuma, seu nome foi dado à antiga Fazenda do Brejo, por onde passavam os trilhos da Estrada de Ferro Rio D’Ouro e a água encanada que alimentou durante décadas os chafarizes do Rio de Janeiro.
Fonte: Jornal O Globo/Eloy Santos
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