“Maria Benedita de Castro Delfim Pereira (1817–1891) filha da Baronesa de Sorocaba, se casou com o influente banqueiro José de Buschental aos 13 anos de idade em 1830 onde passou quatro anos na corte de Pedro I no Brasil
Em 1834 chega nos salões de Madri, cheia de tristezas e agitações após a morte do Rei Fernando VII. Era filha de D. Maria Benedita de Castro Canto e Melo, Baronesa de Sorocaba, irmã de D. Domitila, a Marquesa de Santos, a quem disputara por pouco tempo, na, ladeira da Glória, o amor do estouvado, magnânimo D. Pedro I. Como corressem boatos de que era filha bastarda do Imperador, o que não era verdade, José Büschenthal alardearia em 1855, conforme depõe José Leon Suarez, parentesco afim com D. Pedro II.
O pai de Maria Büschenthal era, de fato, o marido da Baronesa de Sorocaba, Boaventura Delfim Pereira, oficial de cavalaria. Ela nascera no Rio Grande do Sul, no ano de 1817, quando Boaventura Delfim Pereira combatia contra as tropas do caudilho Artigas son as ordens do Marquês de Alegrete, tendo casado com José Büschenthal aos 14 anos de idade.
Essa mulher excepcional por muitos titulos dominou por espaço de meio século a vida social da capital da Espanha através de todos os governos e regimes que ali se sucederam no meio de graves e contínuas mutações dos cenários politicos. De chegada a Madri, o casal Bushental pousou na hospedarla denominada Casa de Hermann.
Passou-se, depois, para luxuosa mansão na Rua Atocha. Dentro em pouco, o salão da brasileira, a quem o argentário israelita dava um luxo espantoso, reunia a fina flor da sociedade castelhana em tertúlias e festas memoráveis, rivalizando, senão vencendo em brilho, outros salões aristocratas da mais alta categoria: o da Duquesa de Medina Coeli, o da Condessa de Campo Alange e o da Condessa de Montijo, cujas duas filhas casariam, uma com o Duque de Alba, outra com Napoleão III, Imperador dos Franceses. Esta seria a famosa Imperatriz Eugênia.
Maria Büschenthal deslumbrou Madri. Nas suntuosas festas que oferecia à alta sociedade, às vezes se apresentava com a cabeça coroada de beija-flores. Rodeavam-na todas as celebridades da época, na política, nas armas, nas letras, nas artes e nas ciências: Emilio Castelar, o General Espartero, Monteverde, Lopez Dominguez, Olozaga, o General Narvaez, O’Donnell, Echegaray, La Hoz, Castro y Serrano, Girard de la Rosa, Baselga, Carreras, Bernardo Lopez.
Foi intima amiga da Rainha Isabel II. Freqüentou os salões no reinado de Amadeu I, da primeira República espanhola, da restauração monárquica, de Afonso XII e de Maria Cristina.
Esta última soberana pretendeu expulsar Büschenthal da Espanha, mas não o consegulu. Seu camarote na Ópera de Madri se tornou verdadeiro clube de notoriedades. Era tão frequentado que teve o apelido de tranvia, o bonde, quando esses veiculos surgiam na capital da Espanha. Ali se discutiam arte, literatura e politica. A formosa, espirituosa e bondosa brasileira, que auxiliava todos os necessitados, polarizava, pode-se dizer, a vida social. Era a figura máxima da vida mundana madrilenha.
Foi Maria Büchenthal quem pôs em voga o recanto poético do Prado de Madri, conhecido pelo nome de El Gabinete, e quem pôs em moda os passeios vesperais de carruagem descoberta, apresentando-se ricamente vestida nesses corsos da fidalguia. A ela se referiam escritores, cronistas e historiadores: Prosper Merrimée, Ossorio y Gallardo, o Marquês de la Torre Hermosa, Llanos y Torrigita, o Conde de Romanones, Euseblo Blasco, José Franco Rodriguez e o Conde de Benalua. Fizeram o seu retrato grandes pintores como Antônio João Weber e Bernardo Lopez, irmão do célebre Vicente Lopez. Esta última tela, que data de 1842, quando Maria Büschenthal já tinha 25 anos e amadurecera na agitada existência que levava desde os 17, se encontra na galeria dos Condes de Muguiro.
Depois que o marido faliu, a notável brasileira foi residir em modesta moradia na Rua do Principe, onde, durante cérca de 8 anos, féz serenamente frente à adversidade. Realizou, mais tarde, uma viugem à América do Sul, ao Prata e ao Brasil, a tratar de interêsses pessoais. A fortuna de José Büschenthal tinha sido tão grande dêste lado do Atlântico que o Prado de Montevidéu foi construído em grande parte dos terrenos da antiga chácara de sua propriedade.
D. Maria da Glória Pereira de Castro Buschenthal faleceu viúva a 20 de Junho de 1891, saindo seu féretro da casa onde residia em Madri, na Rua Serrano, para o cemitério de Santa Maria, onde jaz sepultada. Diz a propósito Argeu Guimarães, citando “La Correspondencia de España” de 21 de junho de 1891: “O convite para o enterramento foi feito por suas irmãs Margarida e Matilde, residentes no Rio de Janeiro, e por seus sobrinhos, cunhado e afilhado.
Sua morte foi doce e tranqüila -teve a-agonia dum justo. Rodearam o cadáver Castelar, Castro y Serrano, Lopez Dominguez, La Hoz, Girard de la Rosa, e os médicos Easelga e Carreras; a cunhada e o sobrinho, as senhores Echegaray, Miranda e Lora. Foi um grande entèrro”. “El Heraldo” de Madri, na mesma data, teceu-lhe sentido necrológio: “O nome de Maria Büschenthal não será fàcilmente esquecido na boa sociedade madrilenha, nem no mundo da arte e das letras, de que sempre se rodeou….. mulher que fol notável por sua extraordinária formosura, querida pelo seu gran- de coração, admirada pelo seu claro talento e celebrada pelo esplendor com que fazia uso de suas riquezas…… Poder! Fortuna! Beleza! Tudo se consome desta maneira na terra! Maria Büschenthal conservou tudo isso durante longo tem- po: de todas as rainhas de sua época foi a que mais tempo reteve o cetro e a coroca. E’ bem certo que reinou sobre suditos invariàvelmente fiéis: OS corações de quantos a conheceram. Assim, um jornal espanhol coroou na morte, com o título de Rainha dos Corações, à brasileira Maria Büschenthal.”
Fonte: Uma brasileira reina em Madrid. Gustavo Barroso.

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