Quando o Brasil decidiu de que lado estava na 2ª Guerra Mundial e rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo, em 1942, uma parcela da população brasileira repentinamente passou a ser perseguida: imigrantes alemães, japoneses e italianos, e seus descendentes.
O Brasil fez ações de contenção dos ‘inimigos de guerra’, que eram os estrangeiros do Eixo — os alemães, italianos e japoneses.
Durante a 2ª Guerra, o Brasil manteve 31 campos de concentração.
Alguns estrangeiros foram mandados para presídios comuns – como os de Ilha Grande e Ilha das Flores (RJ), mas a maioria foi para campos de concentração, organizados pelo Ministério da Justiça.
A rotina no campo de Guaratinguetá era acordar cedo, pegar enxada e picareta e dar duro. Cada prisioneiro levava um número nas costas. O café da manhã tinha dois pãezinhos e uma caneca de café. No almoço e no jantar era só arroz com feijão. Às quintas e aos domingos, era dia de macarrão.
OS JAPONESES:
Boa parte deles foi enclausurada em 11 campos de concentração espalhados pelo país, cujo objetivo era, entre outros, evitar que os imigrantes agissem como agentes infiltrados para seus países de origem.
Um desses campos, o de Tomé-Açu (PA), único localizado na região amazônica, se diferenciou dos demais por aprisionar apenas imigrantes japoneses. Lá eles viviam sob regras rígidas, com racionamento de energia e toque de recolher, além de censura de correspondências e proibição de se agrupar.
Até o ano de 1942, a colônia japonesa que existia à beira do rio Acará, hoje município de Tomé-Açu, vivia basicamente do cultivo de arroz. Os primeiros imigrantes chegaram em 1929, por meio da Companhia Nipônica de Plantação, que dispunha de terras na região.
Em 17 de abril de 1942, os japoneses perderam o direito aos seus bens, por meio de uma declaração de caducidade, e a vila às margens do rio Acará foi isolada.
- Nascia o Campo de Concentração de Tomé-Açu.
As 49 famílias que viviam na região, à época, eram agricultores, e tinha pouco conhecimento sobre os combates que ocorriam em sua terra natal. Mesmo assim, elas foram consideradas “prisioneiros de guerra”, termo geralmente usado para militares apreendidos em combate, mas que, naquele momento, também foi usado para civis.
Em Belém, brasileiros saqueavam, queimavam as lojas e as casas dos japoneses.
Ao longo da história, os campos de concentração brasileiros assumiram diversas formas. No caso de Tomé-Açu, a colônia de imigrantes foi isolada dentro do perímetro do campo. As casas, o hospital e outras construções comunitárias foram, do dia para noite, subordinados ao poder do Estado.
O campo se estruturou como uma verdadeira cidade. A vigilância e a segurança eram garantidas por um destacamento militar, sob a administração do capitão João Evangelista Filho.
Houve confisco de bens dos imigrantes: livros, aparelhos de rádio, armas e embarcações foram levados por autoridades brasileiras, que, por vezes, usufruíam desses bens em benefício próprio.
Cortar a comunicação dos imigrantes com o mundo exterior era uma prioridade do governo brasileiro. Correspondências eram censuradas nas agências de correio de Belém e, se houvesse denúncia de que alguém estava ouvindo a rádio do Japão, por exemplo, a polícia bateria na porta daquelas pessoas e elas teriam sérios problemas.
Tampouco era permitido se reunir com os outros habitantes do campo.
As pessoas eram vigiadas diariamente pelas forças policiais locais para não se comunicarem umas com as outras.
Além das restrições de locomoção e de comunicação, os imigrantes se dedicavam à subsistência do campo, de acordo com normas de trabalhos braçais estipuladas pelo governo Vargas.
O campo também sofria com o racionamento de energia e, às 21h, soava o toque de recolher.
O fim da guerra
A clausura durou até 1945, quando os campos foram extintos após a decretação do fim da guerra. Mas as consequências do período de perseguição perduraram por décadas.
Estigmatizados e empobrecidos, muitos imigrantes tiveram dificuldade para conseguir empregos ou tocar negócios próprios.
Depois que acabou a guerra, o governo liberou essas pessoas como se não tivesse tido responsabilidade nenhuma pelo ocorrido. Jamais houve indenização.
(Tomé-Açu)
Elas não voltaram para seus países de origem. Ou eram imigrantes já estabelecidos no Brasil ou pessoas que não tiveram condição de retorno, então, buscaram a vida de outras maneiras.
Combalida pelo período de reclusão, a cidadezinha de Tomé-Açu do pós-guerra, distante 200 km da capital, oferecia poucas perspectivas para os colonos, razão pela qual muitos deles deixaram a região. Eles foram para Belém, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná.
Alguns anos mais tarde a cidade decolou economicamente com o boom da pimenta-do-reino, chegando a ser a maior produtora mundial da commodity.
O período áureo da pimenta acabou no final da década de 1960, quando uma doença (a fusariose), dizimou as plantações, ao mesmo tempo em que o valor da especiaria sofreu uma queda brusca no mercado internacional.
Cerca de mil descendentes de japoneses vivem ainda hoje em Tomé-Açu. As construções da época da 2ª Guerra foram quase totalmente destruídas na região e há poucos registros fotográficos do período.
O campo de concentração permanece na memória dos que lá viveram e dos que preservam as histórias de seus ascendentes.
Na era Vargas, não houve apenas campos de concentração para imigrantes.
- No Ceará houve campos de concentração da seca.
Os campos de concentração cearenses não eram como os nazistas, com objetivo claro de exterminação.
Foram criados em 1932 para impedir os famintos de continuarem sua viagem às cidades grandes, proibindo sua locomoção, desta forma, a morte foi inevitável.
Com falta de alimentos, falta de infraestrutura e um contingente humano cada vez maior, doenças começaram a se proliferar.
Na época, foram sete os campos de concentração construídos no estado: Ipu, Fortaleza, Quixeramobim, Craiús, Crato e Senador Pompeu — o único que ainda mantém a estrutura utilizada na época.
Dados oficiais estimam que 73,9 mil pessoas passaram por esses campos, sendo 16,2 mil só em Senador Pompeu.
Fonte: Quora
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