O pau-brasil foi o primeiro produto de interesse econômico originário das novas terras que, pelo Tratado de Tordesilhas, cabiam a Portugal e que, posteriormente, se tornaram o Brasil.
Os portugueses construíram feitorias, algo como armazéns, geralmente protegidos por paliçadas, para recolher e armazenar os troncos de pau-brasil à espera dos navios que os transportariam a Portugal. As principais feitorias construídas nessa fase inicial, antes do início do povoamento efetivo, estavam localizadas em Cabo Frio (RJ), Porto Seguro (BA) e Igarassu (PE).
Para a extração da madeira nativa da Mata Atlântica, os portugueses contratavam os indígenas, que realizavam o trabalho de abate das árvores e do seu transporte até as feitorias. O corte das árvores de pau-brasil era trabalhoso, porque as árvores não cresciam em grupos, umas perto das outras, mas ficavam espalhadas pela mata, de modo que o conhecimento do território pelos indígenas permitia que eles localizassem as árvores com maior facilidade. Ao entregar as toras nas feitorias, os indígenas eram pagos com facas, canivetes, espelhos e outros itens que eles valorizavam, num tipo de comércio chamado de escambo.
“O pau-brasil é muito conhecido, porque sua exploração foi a primeira atividade econômica exercida pelos portugueses na América Portuguesa durante o século XVI. A exploração do pau-brasil foi muito intensa, principalmente em uma fase conhecida como Período Pré-colonial, que se estendeu até meados da década de 1530. A exploração da madeira ocorria por meio do escambo com os indígenas.
Tópicos deste artigo
1 – Características
2 – Origem do nome
3 – Contexto histórico
4 – Como era a feita a exploração do pau-brasil?
5 – Consequências da exploração
Características
O pau-brasil é uma árvore típica da Mata Atlântica (Paubrasilia echinata) e que no século XVI era conhecida pelos índios tupis de ibirapitanga. É uma árvore que pode alcançar até 15 metros e possui galhos com espinhos.
A árvore ganhou importância para os portugueses por conta da sua madeira, que poderia ser utilizada na construção de inúmeros objetos (como móveis e caixas), mas, principalmente, porque a resina da madeira era utilizada para produzir corante utilizado para tingir tecidos.
Os historiadores apontam que na Europa medieval já se conhecia uma árvore semelhante ao pau-brasil. Essa, porém, era originária da Ásia, e é conhecida como Biancaea sappan. Os registros apontam que a madeira e o corante dessa árvore eram conhecidos por nomes como “brecilis” e “brezil”. Esse corante era utilizado para tingir tecidos na Europa, e esse nome circulava em diversas partes do continente, já nos séculos XII e XIII.
O forte tom avermelhado extraído da resina presente no pau-brasil era utilizado para tingir tecidos na Europa.
Com a chegada dos portugueses ao Brasil, a árvore foi enxergada como mercadoria potencial para ser revendida na Europa e, assim, sua exploração foi logo iniciada. A primeira pessoa que recebeu o direito de explorar o pau-brasil, segundo as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, foi Fernão de Loronha, em 1501|1|.
Fernão de Loronha (ou Noronha) ganhou direito de exploração do território, em 1501, e, logo depois, recebeu a ilha de São João (atual Fernando de Noronha) como capitania. Fernão de Loronha, então, obteve o direito de explorar o pau-brasil e, por isso, foi proibido de importar a variedade asiática da árvore brasileira.
Em 1511, aconteceu a primeira exportação de pau-brasil para Portugal, quando 5 mil toras da árvore foram levadas para Portugal no navio chamado Bretoa|2|. Nesse mesmo ano, o arrendamento dado a Fernão de Loronha teve fim e foi transferido para Jorge Lopes Bixorda, e, a partir de 1513, todo interessado a explorar o pau-brasil poderia fazê-lo, desde que pagasse os impostos devidos à Coroa (20%).
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Origem do nome
O nome do pau-brasil é alvo de muita especulação e de debate entre os historiadores. O consenso atualmente é que o termo “brasil” fazia referência à resina encontrada na madeira que possui tom avermelhado. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling sugerem que o termo “brasil” e todas as suas variações são oriundas do termo latino “brasilia”, que significava “cor de brasa” ou “vermelho”|3|.
Com o tempo, o nome utilizado para se referir à madeira e ao corante foi sendo utilizado para nomear a nova terra. Isso aconteceu a partir de 1512, quando a mercadoria chegou ao mercado europeu. A nomenclatura da América Portuguesa foi algo que variou bastante durante os primeiros anos da presença portuguesa.
A América Portuguesa foi chamada de diversos nomes como Ilha de Vera Cruz, Terra dos Papagaios, Terra de Santa Cruz e Brasil, por exemplo. A questão do nome do Brasil gerou certa polêmica, uma vez que alguns portugueses não aceitaram bem a substituição do nome como Pero Magalhães de Gandavo.
Esse cronista publicou, em 1576, um livro chamado “História da Província de Santa Cruz”, no qual relatava diversas coisas referentes à América Portuguesa e em certo trecho de seu relato defendia o retorno do nome “Terra de Santa Cruz” por questões religiosas.
Outra questão importante a respeito da nomenclatura do pau-brasil é que, até mesmo no tupi, o nome utilizado pelos nativos para se referir à árvore fazia menção à cor presente na madeira. O termo “ibirapitanga” significa “árvore vermelha”.
Contexto histórico
A exploração do pau-brasil, durante o século XVI, estava inserida no contexto da chegada dos portugueses na América. A chegada dos portugueses ao Brasil foi em 22 de abril de 1500, quando a expedição de Pedro Álvares Cabral avistou o Monte Pascoal, na atual região de Porto Seguro, no estado da Bahia.
A chegada dos portugueses ao Brasil deu início ao processo de exploração das terras. Esse processo só se tornou um processo colonizatório na década de 1530, quando foi implantado o sistema de capitanias hereditárias. Antes da implantação do sistema de capitanias, a presença dos portugueses era exclusivamente litorânea por meio de feitorias.
Como era a feita a exploração do pau-brasil?
A exploração do pau-brasil pelos portugueses era acompanhada pelas feitorias construídas pelos portugueses em locais litorâneos da América Portuguesa. As principais feitorias construídas pelos portugueses, nesse primeiro momento de sua presença na América, foram as feitorias localizadas no Cabo Frio, Porto Seguro e Igarassu (Pernambuco).
As feitorias portuguesas eram basicamente locais nos quais os portugueses armazenavam toda a madeira extraída. As feitorias eram cercadas por uma paliçada de madeira que os resguardava de possíveis ataques de povos indígenas hostis e de estrangeiros que, nesse caso, eram os franceses os grandes concorrentes dos portugueses na exploração do pau-brasil.
O funcionamento das feitorias, em grande parte, foi resultado do registro feito durante a chegada da embarcação Bretoa, que esteve na América Portuguesa, em 1511, como citamos anteriormente. Nessas feitorias, os portugueses contratavam o trabalho dos indígenas para que eles realizassem o trabalho de derrubada das árvores.
Isso porque as árvores de pau-brasil não ficavam amontoadas umas próximas às outras, mas eram espalhadas pela floresta e, assim, o conhecimento do território pelos indígenas os possibilitava localizar as árvores com mais facilidade. A relação de trabalho era pelo escambo. Os índios extraíam e levavam as toras para as feitorias, e os portugueses retribuíam pagando-lhes com facas, canivetes, espelhos e outros objetos do tipo.
A necessidade de construção das feitorias foi explicada pelo historiador Jorge Couto que afirmou que as feitorias foram construídas, porque na expedição de Gonçalo Coelho pela costa brasileira, em 1501-1502, os portugueses perceberam que o trabalho de extração da madeira enquanto as naus estavam ancoradas no litoral brasileiro era muito caro e, por isso, foi proposta a construção de feitorias que armazenariam a madeira extraída para que, de tempos em tempos, uma nau viesse recolher as toras|4|.
As boas relações com os indígenas eram uma condição essencial para o sucesso da feitoria, uma vez que era por meio do trabalho deles que a extração da madeira era realizada. A fortificação da feitoria ou sua construção próxima a um forte era também essencial, pois garantia a segurança dessa feitoria.
Isso porque, além dos povos indígenas hostis, os portugueses lidavam com os franceses que, nos primeiros anos do século XVI, invadiram as terras portuguesas (segundo o Tratado de Tordesilhas) para negociar com os indígenas e contrabandear pau-brasil para a Europa. Um exemplo foi a expedição de Paulmier de Gonneville que veio para cá em 1503 para tentar explorar o pau-brasil.
A crescente presença francesa na costa brasileira forçou Portugal a investir no desenvolvimento de expedições que tinham como função monitorar a costa brasileira. Essas expedições, caso avistassem embarcações francesas, tinham autorização para abrir fogo. Os franceses, inclusive, tentaram estabelecer-se no Brasil, primeiro no Rio de Janeiro e depois no Maranhão.
Consequências da exploração
A intensa exploração do pau-brasil quase levou a árvore à extinção e, ainda hoje, ela é considerada uma espécie ameaçada.
A exploração do pau-brasil foi o meio pelo qual os portugueses instalaram-se no Brasil. Por meio dela, instalaram feitorias e fortes na costa brasileira e estabeleceram relações amigáveis com certos povos indígenas.
Essa atividade, porém, aconteceu em proporção tão intensa que foi responsável pela quase extinção do pau-brasil, já que milhões de árvores foram derrubadas. A extração da madeira seguiu sendo realizada até meados do século XIX, e a recuperação da quantidade de árvores na natureza somente aconteceu na segunda metade do século XX.
|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 32.
|2| Idem, p. 32.
|3| Idem, p. 32.
|4| COUTO, Jorge. A gênese do Brasil. In.: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta: A experiência brasileira. São Paulo: Editora Senac, 1999, p. 57-58.
*Créditos da imagem: Commons
Por Daniel Neves
Graduado em História”
Veja mais sobre “Pau-brasil” em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/pau-brasil.htm
Descobrimento do Brasil – Pau-brasil
A fim de não deixar o Brasil totalmente abandonado, Portugal iniciou a exploração de vários produtos naturais da colônia: madeira, especiarias, sementes, ervas medicinais, alguns animais, etc.
Esses produtos eram muitas vezes obtidos dos índios em troca de alguns presentes: colares, pentes, machados. De todos os produtos naturais, o que mais significado teve foi o pau-brasil. Contudo, sua exploração não representou atividade marcante na história da colônia, pois não provocou a colonização da terra, nem a fixação de povoamentos.
Sua procura se deve ao fato de extraírem dele uma tinta de cor vermelha, muito usada como corante na indústria de tecidos.
A exploração desse produto era rudimentar e predatória. A madeira era cortada pelos índios e empilhada nas praias em grandes armazéns. Os navios que aqui chegavam levavam-na para a Europa.
As florestas litorâneas de pau-brasil se estendiam do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro, sendo que Pernambuco, Porto Seguro e Cabo Frio eram as regiões de maior concentração do produto.
O pau-brasil só podia ser explorado com a autorização do rei de Portugal. Por isso se diz que o pau-brasil era monopólio (link dicionário) do rei.
Esse privilégio era dado pelo rei, que, em troca, ficava com boa parte dos lucros.
A extração do pau-brasil foi realizada em diversas partes do território. Quando o pau-brasil acabava num lugar os comerciantes passavam a explorá-lo em outro e, assim, iam derrubando as florestas. Como essa atividade não exigia que os europeus se fixassem na América, nos primeiros trinta anos não foram construídos povoados, apenas construções fortificadas chamadas feitorias, em alguns pontos do litoral, para defesa e armazenamento do pau-brasil ou de outras mercadorias retiradas da terra.
As notícias sobre a grande quantidade de pau-brasil existente no litoral, passaram a atrair outros países europeus. Em especial a França que, sentindo-se prejudicada pelos termos do Tratado de Tordesilhas, não reconhecia sua validade. O governo francês, então, patrocinou grupos de corsários que começaram a percorrer a “costa do pau-brasil”, negociando a extração da madeira diretamente com os índios, por meio do escambo.
Em consequência da pressão exercida pelas frequentes incursões de franceses e de outros europeus às suas terras, a Coroa portuguesa organizou expedições, chamadas “guarda-costas“, para expulsar os corsários.
A primeira ocorreu em 1516 e, a segunda, em 1526. Cristóvão Jacques comandou as duas expedições guarda-costas organizadas pela Coroa.
Ambas mostraram-se insuficientes para combater o contrabando e a constante ameaça de ocupação estrangeira, diante da vasta extensão do litoral. O historiador brasileiro Capistrano de Abreu ressaltou outra grande dificuldade: as alianças feitas entre os europeus e os indígenas. Os Tupinambás se aliavam, com frequência, aos franceses e os portugueses tinham ao seu lado os Tupiniquins. E, segundo Capistrano, “durante anos ficou indeciso se o Brasil ficaria pertencendo aos Peró (portugueses) ou aos Mair (franceses).”
Entretanto, a existência de sobreviventes de naufrágios, degredados e desterrados portugueses no Brasil, além de favorecer o contato com os índios, facilitou a defesa e a ocupação da terra. Esses homens, que teriam chegado com as primeiras viagens e permanecido pelas mais diversas razões, já estavam adaptados às condições físicas e sociais do território e ao modo indígena de viver. Alguns deles sucumbiram ao meio, a ponto de furar lábios e orelhas, matar prisioneiros segundo os ritos nativos, e alimentar-se de sua carne. Acreditavam nos mitos existentes, incorporando-os à sua maneira de viver, como é o caso daquele homem que passou a se julgar um tamanduá. Enfurnava-se, de quatro, em todos os buracos, à cata de formigas, seu alimento predileto. Outros, ao contrário, revoltaram-se e impuseram sua vontade, como o bacharel de Cananeia. Havia, ainda, tipos intermediários, que conviviam com os nativos e com eles estabeleciam laços familiares. Casavam e tinham filhos com as índias, constituindo, na maioria das vezes, numerosa família, composta de várias mulheres e de um grande número de filhos mamelucos (link dicionário)
Uma árvore de pau-brasil
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