A Escola de Cirurgia da Bahia foi criada pela decisão n. 2, de 18 de fevereiro de 1808, poucos dias após a chegada do Príncipe Regente Dom João VI à Bahia.
A proposta foi do médico José Correia Picanço, cirurgião-mor do Reino, que ficava encarregado da escolha de seus professores. A escola ficaria acomodada no Hospital Real Militar da Bahia, que funcionava no antigo Colégio dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus. D. José de Saldanha da Gama, conde da Ponte, capitão-general da capitania da Bahia, foi autorizado por d. Fernando José de Portugal e Castro, marquês de Aguiar, ministro assistente ao despacho, a fazer os gastos necessários para sua imediata inauguração.
A Escola de Cirurgia da Bahia tinha por atribuição “a instrução dos que se destinam ao exercício desta arte” e sua criação pode ser vista como parte do processo de institucionalização da medicina no Brasil, iniciado com a vinda da família real e complementado pela criação da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro. Estes dois cursos de medicina e cirurgia foram as primeiras escolas de ensino superior do Brasil, visto que este tipo de instituição era até então proibido na colônia, e logo foram seguidos por outros estabelecimentos, como a Academia dos Guardas-Marinhas (1808), a Academia Real Militar (1810) e a Academia de Artilharia e Fortificações (1810).
No século XVII, os hospitais da Companhia de Jesus no Brasil foram importante espaço de estudo das artes de cura, comparável à Universidade de Évora, em Portugal. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, os hospitais militares e os da Misericórdia se tornaram igualmente centros de ensino de cirurgia, onde destacadas figuras receberam as primeiras noções desta arte, como José Soares de Castro, Manuel José Estrela e o próprio José Correia Picanço. Dessa forma, nada mais adequado para a instalação das primeiras escolas de ensino médico e cirúrgico no Brasil do que os hospitais militares da Bahia e do Rio de Janeiro.
Entre 1808 e 1815 foram nomeados o cirurgião Manoel José Estrela para a cadeira de cirurgia especulativa e prática, e o cirurgião José Soares de Castro para a disciplina de anatomia e operações cirúrgicas. Segundo as instruções recebidas por Manoel José Estrela, transmitidas pelo cirurgião-mor do Reino, José Correia Picanço, os alunos da Escola de Cirurgia deviam ter conhecimento da língua francesa, e o curso teria duração de quatro anos. Quando concluído, seriam passadas as certidões competentes, declarando o aluno apto a fazer o exame.
Subordinava-se a Escola de Cirurgia da Bahia ao governador e capitão-general da capitania, sendo expedidas as matérias de seu interesse pela Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil. Segundo o decreto de 1º de abril de 1813, Manuel Luís de Carvalho era o diretor de Estudos de Medicina e Cirurgia na Corte e Estado do Brasil.
Somente em 1826, pela lei de 9 de setembro, as academias médico-cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia foram autorizadas a conceder as cartas de cirurgião e de cirurgião formado aos que concluíssem seus cursos, o que até então era competência do cirurgião-mor do Reino. Além disso, ficava assegurada a autonomia das academias na revalidação de diplomas estrangeiros, atribuição que antes era desempenhada por uma banca examinadora composta de dois de seus professores e presidida pelo cirurgião-mor.
Vultos como Manuel Vitorino, Afrânio Peixoto, Nina Rodrigues, Oscar Freire, Alfredo Brito, Juliano Moreira, Martagão Gesteira, Prado Valadares, Pirajá da Silva e Gonçalo Muniz, projetaram nacional e internacionalmente Faculdade pelas suas atuações de ensino e pesquisa.
Um dos pátios do antigo Colégio foi destruído pelo fogo em 1801. Em 1808, foi instalado o Real Hospital na ala que restara. Novo incêndio, em 1905, consumiu o edifício que foi reerguido em estilo eclético para abrigar a Faculdade de Medicina da Bahia.
O conjunto arquitetônico foi tombado desde 1938, hoje está na lista do IPHAN.
Por: Quora
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