Foi realizado neste ultimo domingo (20/03) Missa de Ramos, pelo Padre Jefferson Silva Oliveira, na Paroquia Maria Mãe da Igreja no Bairro Campo Lindo em Seropédica. A procissão deu-se inicio no canal que corta o Bairro com percurso até a Igreja Dom Bosco, centenas de pessoa portavam ramos lembrando a entrada triunfal de jesus em Jerusalém.
O Padre Jefferson falou na sua homília. “Se olharmos atentamente para o Senhor, veremos no Evangelho deste Domingo de Ramos que o Senhor avança e entra triunfalmente em Jerusalém e é recebido como um rei vitorioso. Não obstante, montado num jumento, se apresenta como um soberano humilde, não-violento. E isto já nos adverte que seu reino não é deste mundo”.
Jesus recebe silencioso todas estas aclamações do povo e, ante a curiosidade de alguns gregos que querem vê-lo, diz umas palavras que, até mesmo para os discípulos mais próximos são, no mínimo, enigmáticas. “É chegada a hora em que o Filho do Homem será glorificado”.
O Padre Jefferson lembra ainda que Pôncio Pilatos tinha curiosidade em conhecer este homem que tantos milagres fez em sua peregrinação. “Pilatos estava de pé e pronto para receber esse grupo de visitantes madrugadores, pois havia sido informado, por aqueles que na noite anterior haviam assegurado o seu consentimento para empregar os soldados romanos na detenção do Filho do Homem, de que Jesus seria trazido perante ele bem cedo. Havia sido arranjado que esse julgamento tivesse lugar em frente ao pretório, uma construção feita em complemento à fortaleza de Antônia, onde Pilatos e a sua esposa possuíam o seu quartel-general, para quando permanecessem em Jerusalém”.
Nenhum tribunal judaico tinha autoridade para aplicar a pena de morte; Roma imperial havia reservado para si própria tal prerrogativa. A proclamação unida dos sinedristas, de que Jesus merecia a morte, não terá efeito enquanto não fosse sancionada pelo legado do imperador, que naquela época era Pôncio Pilatos, governador, ou mais corretamente, procurador da Judéia, Samaria e Iduméia. Pilatos mantinha residência oficial em Cesaréia, na costa do Mediterrâneo; porém era costume seu estar presente em Jerusalém ao tempo das grandes festas hebraicas, provavelmente com o intuito de manter a ordem, ou de sufocar prontamente qualquer perturbação entre as vastas e heterogêneas multidões que apinhavam a cidade nessas ocasiões festivas.
O governador e seus acompanhantes estavam em Jerusalém naquela momentosa época de Páscoa. Cedo, na manhã de sexta-feira, o “conselho todo”, quer dizer, o Sinédrio, levou Jesus manietado ao solo do tribunal de Pôncio Pilatos, mas, com minucioso escrúpulo, abstiveram-se de entrar no local para não se contaminarem, porquanto o lugar do tribunal fazia parte da casa de um gentio, e nalgum compartimento poderia haver pão levedado, e até mesmo a proximidade poderia torná-los cerimonialmente impuros. Deixamos a cada um classificar o caráter de homens temerosos da mera proximidade com o fermento, ao mesmo tempo que se mostravam sedentos de sangue inocente!
Em consideração por seus escrúpulos, Pilatos saiu do palácio e, como lhe entregassem o Prisioneiro, perguntou: “Que acusação trazeis contra este homem?” A pergunta, embora estritamente adequada e judicialmente necessária, surpreendeu e desapontou os líderes sacerdotais que, evidentemente, haviam esperado que o governador aprovasse seu veredito e, como mera formalidade, desse sentença de acordo; mas, em lugar de agir assim, Pilatos estava evidentemente disposto a exercer sua autoridade de jurisdição original. Com mal disfarçada humilhação, o seu porta-voz, provavelmente Caifás, respondeu: “Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.” Agora foi a vez de Pilatos fingir suscetibilidade, retrucando, como se dissesse: Muito bem. Se não quereis apresentar acusação segundo a ordem devida, tomai-o e julgai-o de acordo com a vossa lei; não me perturbeis com o assunto. Os judeus entretanto tornaram: “A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.”
O apóstolo João insinua, nesta última frase, a determinação da parte dos judeus de levarem Jesus à morte, não somente com a sanção dos romanos, mas também por intermédio de executores romanos; porque, como facilmente podemos ver, se Pilatos tivesse aprovado a sentença de morte e entregado o Prisioneiro aos judeus para sua aplicação, Jesus teria sido apedrejado, de acordo com o castigo hebraico para a blasfêmia; ao passo que o Senhor havia claramente predito que Sua morte seria por crucifixão, que era um método romano de execução, jamais usado pelos judeus. Além do mais, se Jesus tivesse sido morto pelos líderes judaicos, ainda que com assentimento do governo, poderia levantar-se uma insurreição entre o povo, porque havia muitos que acreditavam Nele. Os astuciosos hierarcas estavam determinados a conseguir a Sua morte mediante condenação romana.
“E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que Ele mesmo é Cristo, o rei.” É importante notar que nenhuma acusação de blasfêmia foi feita a Pilatos; houvesse isso sido apresentado e o governador, inteiramente pagão, tanto de coração quanto intelectualmente, teria provavelmente desprezado a denúncia como totalmente indigna de ser ouvida, porquanto Roma, com seus muitos deuses, cujo número aumentava rapidamente pelo costume pagão da deificação dos mortais, desconhecia ofensa tal como a blasfêmia, na acepção judaica. Os sinedristas acusadores não hesitaram em substituir a blasfêmia, que era o maior crime conhecido no código hebraico, pela acusação de alta traição; a mais grave ofensa relacionada na categoria romana de crimes. Ante as acusações vociferantes dos principais dos sacerdotes e anciãos, o sereno e majestoso Cristo não Se dignou de replicar. A eles, Sua última palavra já havia sido dita, até que chegasse a ocasião designada para um outro julgamento no qual Ele haveria de ser o Juiz, e aqueles os prisioneiros a serem julgados.
Pilatos surpreendeu-se ante o porte majestoso, ainda que submisso, de Jesus; havia sem dúvida muito de realeza naquele Homem; nunca antes havia uma pessoa igual se apresentado diante dele. A acusação, contudo, era séria; homens que pretendessem direitos reais poderiam tornar-se perigosos para Roma; entretanto, o Acusado nada respondera diante da acusação. Entrando no salão de julgamento, Pilatos fez chamar a Jesus. É evidente que alguns dos discípulos, e entre eles, quase certamente João, também entraram, como se depreende da narrativa detalhada dos acontecimentos que o quarto evangelho registra. Toda gente tinha liberdade de entrar, uma vez que a franquia ao público era um aspecto real e largamente divulgado dos julgamentos romanos.
Pilatos, evidentemente sem qualquer animosidade ou preconceito contra Jesus, perguntou-Lhe: “Tu és o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?” A contra-pergunta do Senhor significava, e assim foi entendida, conforme a réplica de Pilatos o demonstra, em outras palavras, o seguinte: Perguntais isto no sentido romano e literal, como se eu fora rei de um reino terreno, ou no sentido judaico e mais espiritual? Uma resposta direta, “Sim”, teria sido verdadeira no sentido messiânico, mas inverídica de acordo com o sentido terreno; e um “Não” poderia ter sido inversamente considerado verdadeiro ou falso. “Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? a tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim: que fizeste? Respondeu Jesus: O Meu reino não é deste mundo: se o Meu reino fosse deste mundo, pelejariam os Meus servos, para que Eu não fosse entregue aos judeus: mas agora o Meu reino não é daqui. Disse-lhe pois Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que Eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz.”
Tornou-se claro para o governador romano que aquele Homem maravilhoso, com Sua exaltada ideia de um reino não deste mundo, e de um império da verdade no qual haveria de reinar, não era um insurreto político, e seria absurdo considerá-Lo uma ameaça às instituições romanas. Aquelas últimas palavras a respeito da verdade, haviam sido as mais enigmáticas de todas; Pilatos ficara impaciente e talvez um pouco alarmado com a importância delas. “Que é a verdade?” exclamou ele, mais numa atitude de apreensão do que de inquirição, na expectativa de uma resposta, enquanto se adiantava para deixar o salão. Aos judeus de fora, ele anunciou a absolvição do Prisioneiro: “Não acho nele crime algum”, foi o veredicto.
Mas os principais dos sacerdotes, escribas e anciãos do povo não se dissuadiram. Sua sede do sangue do Santo havia-se tornado uma obsessão. Desgovernada e ferozmente gritaram: “Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.” A referência à Galiléia sugeriu a Pilatos uma nova orientação de procedimento. Havendo confirmado, por inquirição, que Jesus era galileu, decidiu enviar o Prisioneiro a Herodes, o governante vassalo daquela província, que se encontrava em Jerusalém na ocasião. Agindo assim, Pilatos esperava livrar-se de mais responsabilidade no caso, e além disso Herodes, com o qual tinha estado em inimizade, poderia apaziguar-se com o ato.
Herodes Antipas, o degenerado filho do seu infame antepassado, Herodes, o Grande, era naquele tempo tetrarca da Galiléia e Peréia, e por costume popular, ainda que sem sanção imperial, era lisonjeiramente chamado de rei. Havia sido ele quem, para cumprir um voto ímpio, inspirado pelos voluptuosos agrados de uma mulher, havia ordenado o assassínio de João Batista. Governava ele como vassalo de Roma, e professava ser ortodoxo nas observâncias do judaísmo. Tinha vindo a Jerusalém, com toda a pompa, para festejar a Páscoa. Herodes agradou-se de que Pilatos lhe houvesse enviado Jesus, não só por ter sido um ato voluntário da parte do procurador, constituindo uma preliminar para a reconciliação entre os dois governantes, conforme os eventos posteriores confirmaram, mas também porque tinha sido uma forma de satisfazer a curiosidade de Herodes em ver a Jesus, de quem havia ouvido tanto, cuja fama o havia aterrorizado, e por quem esperava, agora, ver realizado algum milagre interessante.
O temor que Herodes havia sentido a respeito de Jesus, a quem supersticiosamente julgara ser a reencarnação de sua vítima assassinada, João Batista, fora substituído por divertido interesse, quando vira o tão famoso Profeta da Galiléia em cadeias à sua frente, vigiado por uma guarda romana e acompanhado por oficiais eclesiásticos. Herodes começou a interrogar o Prisioneiro, mas Jesus permaneceu em silêncio. Os principais dos sacerdotes e escriba vociferavam, veementemente, suas acusações, mas nenhuma palavra foi pronunciada pelo Senhor. Herodes é o único personagem histórico ao qual Jesus aplicou um epíteto pessoal desrespeitoso. “Ide e dizei àquela raposa”, disse Ele certa vez a alguns fariseus que Lhe haviam vindo com a história de que Herodes pretendia matá-Lo. Tanto quanto sabemos, Herodes foi, mais tarde, distinguido como o único ser que viu Cristo face a face, falou-Lhe, mas nunca Lhe ouviu a voz.
Para os pecadores penitentes, as mulheres em prantos, as crianças buliçosas; para os escribas, fariseus, saduceus e rabis; para o sumo sacerdote perjuro e seu obsequioso e insolente lacaio, bem como para Pilatos, o pagão, Cristo tivera palavras — de conforto ou instrução, de advertência ou repreensão, de protesto ou de denúncia — entretanto, para Herodes, a raposa, Ele teve somente desdenhoso e majestático silêncio. Profundamente melindrado, Herodes passou das perguntas insultuosas aos atos de escárnio malévolo. Ele e seus homens de armas divertiram-se à custa do Cristo sofredor, “desprezaram-no e, escarnecendo dele”, o fantasiaram, “vestiram-no de uma roupa resplandecente e tornaram a enviá-lo a Pilatos.”Herodes nada havia encontrado em Jesus para justificar a condenação.
O procurador romano, vendo que não poderia furtar-se a nova consideração do caso, convocou “os principais dos sacerdotes, os magistrados e o povo e disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-O na vossa presença, nenhuma culpa, das de que O acusais, acho neste homem. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte. Castigá-lo-ei pois, e soltá-loei.” O desejo de Pilatos de salvar Jesus da morte era justo e genuíno; sua intenção de açoitar o Prisioneiro, cuja inocência havia afirmado e reafirmado, era uma infame concessão à prevenção dos judeus. Ele sabia que a denúncia de sedição e traição não tinha base, e que o próprio forjamento de tal acusação pela hierarquia judaica, cuja lealdade simulada a César era apenas uma capa para o ódio inerente e imorredouro, era ridículo ao extremo; e percebia plenamente que os líderes sacerdotais lhe haviam entregado Jesus movidos por inveja e dolo.
Era costume do governador, pela Páscoa, perdoar e libertar qualquer dos prisioneiros condenados que o povo quisesse indicar. Naquela ocasião, existia no cárcere, aguardando ser executado, “um preso bem conhecido, chamado Barrabás”, que havia sido condenado por sedição, por haver incitado o povo à revolta, e cometido um assassínio. Esse homem estava condenado pela exata acusação de que Pilatos havia declarado especificamente, e Herodes por dedução, que Jesus era inocente, e além do mais Barrabás era assassino. Pilatos imaginara pacificar os sacerdotes e o povo libertando Jesus como alvo do indulto pascal; isso seria um reconhecimento tácito da culpa de Cristo ante o tribunal eclesiástico, e praticamente um endosso da sentença de morte, cancelada pelo perdão oficial.
Desse modo, perguntou-lhes: “A quem quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus que é chamado Cristo?” Parece ter havido um breve intervalo entre a pergunta de Pilatos e a resposta do povo, durante o qual os principais dos sacerdotes e anciãos se ocuparam no meio da multidão, insistindo em que pedissem a libertação do insurreto assassino. De forma que, ao repetir Pilatos a pergunta: “Qual dos dois quereis que vos solte?” a congregação de Israel clamou “Barrabás”. Pilatos, surpreendido, desapontado e enraivecido, perguntou: “Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado. O governador, porém, disse: Mas que mal fez Ele? E eles mais clamavam, dizendo: Seja crucificado.”
O governador romano perturbou-se extremamente e estava intimamente atemorizado. Para mais ainda aumentar sua perplexidade, recebeu uma mensagem de advertência de sua esposa, no momento em que se assentava na cadeira de juiz: “Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.” Os que não conhecem a Deus são caracteristicamente supersticiosos. Pilatos temia imaginar que terrível portento o sonho de sua esposa poderia pressagiar, mas, verificando que não conseguiria prevalecer, e antevendo um tumulto entre o povo se persistisse na defesa de Cristo, pediu água e lavou as mãos diante da multidão, um ato simbólico de negar responsabilidade, que todos entenderam, proclamando ao mesmo tempo: “Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso.” Então se levantou aquele terrível clamor auto-condenatório do povo do convênio: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” A História presta aterrador testemunho do cumprimento literal daquela pavorosa invocação. Pilatos soltou Barrabás, e entregou Jesus aos soldados para ser açoitado.
O chicoteamento era uma pavorosa preliminar da morte na cruz. O instrumento de castigo era um açoite de muitas pontas, guarnecidas de metal e pontiagudos pedaços de osso. Há casos narrados em que o condenado morria sob o látego, escapando, assim, aos horrores da crucifixão em vida. De acordo com os brutais costumes da época, Jesus, enfraquecido e sangrando pelo pavoroso açoitamento que havia sofrido, foi entregue aos soldados semi-selvagens para que se divertissem. Aquela não era uma vítima comum, de maneira que o grupo todo se reuniu no pretório ou grande vestíbulo do palácio, para tomar parte no diabólico divertimento. Arrancaram de Jesus as vestes exteriores, e vestiram-No de um manto de púrpura. Depois, com um senso de demoníaco realismo, teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na sobre a cabeça do Padecente; uma cana foi-lhe colocada na mão direita como um cetro real, e ao se encurvarem no arremedo de homenagem, saudavam-no dizendo: “Salve, Rei dos judeus!” Arrebatando-Lhe a cana ou vara, brutalmente o feriram na cabeça com ela, fazendo penetrar-Lhe os cruéis espinhos na carne; esmurraram-no e cuspiram Nele com vil e criminosa perversidade.
Pilatos, provavelmente, havia observado essa cena bárbara. Interrompeu-a e resolveu fazer nova tentativa de tocar as cordas da piedade judaica, se é que tal coisa existia. Saiu e disse à multidão: “Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.” Esta era a terceira proclamação definida do governador, quanto à inocência do Prisioneiro. “Saiu pois Jesus fora, levando a coroa de espinhos e o vestido de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem!” Pilatos parece ter confiado na lastimável aparência do açoitado e sangrento Cristo para abrandar o coração dos judeus enlouquecidos, mas o efeito fracassou.
Pensai no terrível fato: um gentio, um pagão, que não conhecia a Deus, rogando aos sacerdotes e ao povo de Israel pela vida do próprio Senhor e Rei deles! Quando, inabaláveis ante aquele espetáculo, os principais dos sacerdotes e oficiais clamaram com crescente espírito de vingança, “crucifica-o, crucifica-o”, Pilatos pronunciou a sentença fatal: “Tomai-o vós e crucificai-o”, mas acrescentou com amarga ênfase: “Não encontro falta nele.”
Deve-se lembrar que a única acusação apresentada contra Cristo ao governador romano havia sido a de sedição; os perseguidores judaicos tinham evitado cuidadosamente até mesmo a simples menção à blasfêmia, que havia sido a ofensa pela qual haviam considerado Jesus digno de morte. Agora que a sentença de crucifixão havia sido conseguida de Pilatos, despudoradamente tentavam fazer crer que a decisão do governador era, tão somente, a ratificação da sentença de morte que eles próprios haviam decretado; desse modo, disseram: “Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei deve morrer, porque se fez Filho de Deus.” O que significaria isso? Aquele título impressionante, de Filho de Deus, feriu ainda mais profundamente a perturbada consciência de Pilatos.
Uma vez mais conduziu Jesus para a sala do tribunal e, atemorizado, perguntou-Lhe: “Donde és tu?” A pergunta era como se pretendesse saber se Jesus era humano ou sobre-humano. Uma confissão direta da divindade do Senhor telo-ia aterrorizado, mas poderia não esclarecer o governante pagão, de maneira que Jesus nada respondeu. Pilatos ainda mais se surpreendeu, e talvez se haja ofendido de certa maneira ante essa aparente desconsideração por sua autoridade. Exigindo uma explicação indagou: “Não me falas a mim? não sabes que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?” Respondeu-lhe então Jesus: “Nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” As posições se haviam invertido; Cristo era o Juiz, e Pilatos sujeito à Sua decisão. Ainda que não tivesse sido declarado inocente, o romano fora considerado menos culpado que aquele ou aqueles que haviam entregado Jesus ao seu poder, e que haviam exigido dele uma condenação injusta.
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