José Luis Moreira não é daqueles dirigentes que gostam de ser o centro das atenções. Discreto, o vice-presidente de futebol do Vasco – fiel escudeiro de Eurico Miranda desde 2001 – divide o tempo entre o Cruz-Maltino e uma empresa no ramo de taxi que comanda há 35 anos. Aos 66 anos, garante que consegue conciliar os dois, basicamente por uma razão:
– Faço isso aqui por amor. Não sou profissional, sou amador. Mas sou duro na empreitada. Se tem uma coisa que conheço é futebol, e estou aqui para servir o Vasco.
Sócio do clube há 52 anos – só teve cargo a partir de 2001, quando assumiu a mesma pasta que ocupa hoje – José Luis Moreira recebeu a reportagem em São Januário, local que conhece bem. Em pouco mais de meia hora, analisou a gestão nestes cinco primeiros meses. Ele garantiu que pretende reforçar o elenco, mas desconversou sobre possíveis nomes. De todo modo, uma coisa é certa: só jogará no Vasco quem aceitar a política financeira do clube, que é a de pagar pouco, mas em dia. Uma promessa que não pode falhar.
Como avalia esses primeiros cinco meses de trabalho?
Já tínhamos o caminho, conhecíamos o Vasco lá de trás. Não foi tão difícil. Trouxemos pessoas gabaritadas e montamos uma equipe sólida. Pegamos um time totalmente desacreditado, com contratos a vencer, alguns já vencidos, e iniciamos um trabalho que culminou no título carioca.
O que mudou em relação à gestão anterior a de vocês?
Continuamos com a filosofia lá de trás, nos mesmos moldes de quando saímos, em 2008. Algumas mudanças foram feitas, sem dúvida. Mas poucas. Sinceramente, não vejo muita alteração neste quadro.
E qual o mérito para já retornar vencendo o Carioca?
Quando se promete, não pode falhar. Prometemos salários em dia. Pode não ser o desejado, mas está em dia. Isso é uma alavanca muito grande para o sucesso da equipe. Cumprir e honrar a palavra do presidente. Prometemos pagar todo dia 10 e agora já pagamos no dia 8. Estamos fazendo isso com maestria.
Muitos clubes pagam salários altos, mas devem aos jogadores. No Vasco, então, não terá isso?
O presidente quer, e também compartilho isso. Nossa filosofia é pague pouco, mas pague em dia. E não é pouco, é razoável. Muita gente acha que é pouco, mas eu já acho um grande salário. Quem quiser se enquadrar, tem conversa. Se não, é melhor nem procurar o Vasco.
Nesta filosofia, o que o torcedor pode esperar no Brasileirão?
Um time com muito apetite. O Carioca nos deu gosto pela vitória. Estamos focados no Brasileiro e na Copa do Brasil, e não vamos apenas participar. Os concorrentes podem ser mais poderosos, mas no futebol ganha quem tem mais vontade. Salário não ganha jogo. A filosofia é essa. Pedimos paciência para o torcedor, e o Carioca veio. Agora, pedimos paciência de novo (risos).
O que o Vasco almeja, então?
O Vasco nunca é só participante. O Vasco sempre entra para ganhar.
Mas para ganhar precisa reforçar o elenco. Ou não?
Precisa de um ou outro, mas a equipe está praticamente montada. Chegaram esses dois (Julio Cesar e Diguinho), vão somar, e outros virão. Vamos analisar quem se enquadra na nossa política financeira e, aí sim, reforçar a equipe nos pontos que o treinador sabe que tem necessidade.
Quantos reforços devem chegar? E para quais posições?
Estamos sempre abertos para jogadores de qualidade. Um time nunca fecha o grupo. Se o jogador é bom, o Vasco está sempre disposto, mas dentro da política financeira. Prefiro me resguardar sobre detalhes, porque ainda estamos conversando. Na hora H, todos ficarão sabendo (risos).
Existe chance de perder alguém no meio do ano? Luan e Thalles, por exemplo, têm mercado…
O presidente diz que se um jogador estiver interessado em sair, nem adianta ficar. Se vier uma proposta irrecusável, não podemos abrir mão. Mas, por enquanto, não tem nada de concreto. Só especulação mesmo.
O elenco, hoje, está muito cheio. Alguém pode ser emprestado?
Isso é algo que ainda analisamos. Eu, o Paulo (Angioni) e o Doriva temos nos reunindo. Alguns meninos ainda precisam amadurecer. Para isso, precisam jogar. Têm coisas em andamento, mas nada fechado. Creio que o número ideal é entre 30 e 33. Estamos analisando caso a caso.
Como é a relação com Eurico?
Quase um irmão. Conheço desde 1968. Temos as nossas discussões, mas qual casal não briga? (risos). Ele me respeita e eu o respeito. Ele é leal comigo, e eu sou leal com ele. Assim se define nossa relação.
O presidente usa a frase ‘o respeito voltou’ como um mantra. Dentro do clube, o que mudou?
O respeito voltou a partir do momento que os jogadores respeitam os dirigentes. Aqui não tem conversa fiada. Entro e saio, não vejo nada de anormal. O respeito voltou com o presidente, comigo, com outro diretores. Está tudo muito saudável aqui. Não estou preocupado com os que estavam na gestão anterior. O que importa é que hoje está tudo familiarizado aqui.
O Vasco tem uma dívida com você ainda da primeira gestão. Como anda isso?
Prefiro não falar a respeito disso, porque águas passadas não movem moinho. Não estou preocupado com isso, mas uma coisa é certa: é meu. Se vou receber um dia ou não… Fiz com prazer. Se outras pessoas não quiserem reconhecer, não tem problema.
Qual seu sonho?
Voltar a ser campeão. Cada vez mais títulos, só isso. Qualquer título vale, mas uma tríplice coroa seria ideal (risos). Quero deixar minha trajetória nem que seja em um muro, na galeria, qualquer lugar. Quero que meus filhos e netos vejam o que fiz aqui. Se largarmos uma empresa à deriva, ela vai embora. Estamos segurando tranquilamente, porque sabemos administrar.
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