Após o quinto gol, em lance de bate e rebate dentro da área do Nova Iguaçu, o Vasco diminui o ritmo, mas mostra categoria na troca de passes entre Christiano, Guiñazu e Jhon Cley. Próximo da jogada e já visivelmente cansado, Dagoberto aplaude e, talvez sem perceber, acompanha o ritmo dos vascaínos que batem palmas e cantam bem alto. Era o retrato do clima de euforia que contagiou São Januário neste domingo de vitória por goleada – 5 a 1 sobre o Nova Iguaçu.
A cena relatada acima mostra uma sintonia fina entre um grande jogador carente de carinho e uma grande torcida carente de um grande jogador. Líder e com cinco vitórias consecutivas, o Vasco sentia falta de um domingo de bom futebol e de idolatria imediata como viveu em São Januário ao lado de Dagoberto . A atração começou antes da bola rolar, quando vascaínos se espremeram no vidro atrás do gol para fotografar e incentivar Dagoberto. Depois, no anúncio do sistema de som, ele já era ovacionado em São Januário. O estádio recebeu mais de 13 mil pessoas, o maior público do ano na Colina Histórica.
No templo que viu Romário consagrar a camisa 11 – imortalizada depois por Eurico Miranda, homenagem aos 1.000 gols do atual senador da República que depois foi retirada por Roberto Dinamite -, Dagoberto parece iniciar uma história feliz com a mesma camisa e, pelo menos por um dia, com a mesma precisão do Baixinho. O gol veio na única e solitária finalização do jogador em 90 minutos em campo.
Aos gritos de “Olê, lê, olá, lá, Dagoberto vem aí e o bicho vai pegar” , o vascaíno lembrou o melhor do estilo do Baixinho ao amortecer a bola de costas, ajeitar na coxa e, com apenas um quique, colocar no cantinho.
– Fui feliz, é um dos dias mais gostosos da minha vida – disse o experiente jogador, que completa 32 anos no domingo que vem na partida contra o Flamengo e no intervalo já mostrava emoção com a recepção em São Januário. – Chegar num clube dessa grandeza, com toda sua história e ser recebido assim é muito bom.
Ainda aos 31 de idade, Dagoberto correu e fez jus à promessa de intensidade a cada momento que passa dentro de campo. Voltou para marcar mais do que o habitual e chegou a acompanhar até a linha de fundo o lateral-direito do Nova Iguaçu. Se física e tecnicamente a equipe ainda tem muito a melhorar, mostrou disposição e participou da partida a todo momento. Mesmo que fosse apenas com palavras de incentivo aos companheiros.
Dagoberto roubou três bolas na partida – mesmo número dos maiores ladrões de bola da partida, Jhon Cley e Guiñazu – e errou apenas três passes– um deles, antes do gol, numa triangulação com Cley e Gilberto –, procurando o tempo todo Christiano pela esquerda, que participou bem mais da partida com a entrada do atacante no time. No jogo todo, ele recebeu três faltas e não cometeu nenhuma. A finalização perfeita era o que faltava para uma festa como há tempos não se via em São Januário.
Em uníssono, arquibancada e social cantaram músicas tradicionais que levantaram a torcida. É o início de uma trajetória em São Januário, mas Dagoberto já pode contar que vestiu uma camisa que tem sido tão maltratada em São Januário nos últimos tempos. A 11 tem um dono de respeito. E a torcida vascaína que não vê seu time ser campeão há 11 anos do Carioca pode se amarrar à essa coincidência para celebrar seu novo candidato a ídolo.
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