Vacinação não bate meta e doenças ameaçam crianças
14 de setembro de 2020

Especialistas estão preocupados porque não cumprir o calendário oficial de vacinas é como quebrar um pacto social pela erradicação de doenças.

O medo de contaminação e o isolamento social impostos pela pandemia do novo coronavírus fez com que muitos pais não levassem seus filhos para receber as vacinas de rotina. O resultado é que serviços de imunização que podem salvar vidas não conseguiram atingir as metas, deixando milhões de crianças expostas a 11 doenças.

Números oficiais mostram que o Brasil não atingiu a meta para nenhuma das principais vacinas indicadas a crianças. Dora nasceu há um mês e saiu da maternidade particular em São Paulo sem a vacina BCG contra a tuberculose.

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“Eles falam que está em falta, que está difícil e que não tem previsão para chegar”, conta Victória Schwarz, arquiteta.

Depois de procurar muito, Vitória achou a BCG num posto de saúde que aplica a vacina uma vez por semana.

“Acho super importante vacinar porque é o que controla essas doenças para não se espalharem dessa maneira e viver isso que a gente está vivendo agora”, afirma.

Às vezes, falta o produto, em outras, o que falta é consciência sobre a importância de evitar sequelas graves e até a morte por doenças que chegaram a ser erradicadas no país.

“A gente fala que o programa de imunização é vítima dele mesmo, por conta justamente disso. Como a gente teve sempre um grande sucesso no programa de imunização, as pessoas deixaram de ver a doença e deixaram de se preocupar com ela”, explica Adriana Peris, coordenadora do Programa Municipal de Imunizações.

A falta de atenção ao calendário e as informações falsas são outros fatores que estão levando o Brasil a perder uma de suas maiores conquistas na área da saúde. A meta é sempre vacinar de 90 a 95% das crianças, mas os últimos dados do Ministério da Saúde, que são de 2019, mostram que estamos ficando longe disso.

A vacina pentavalente também esteve em falta em vários estados em 2019. Com três doses, ela protege contra tétano, coqueluche, difteria, hepatite e meningite, mas a cobertura não atinge nem 70% das crianças. Contra a poliomielite, a cobertura foi de apenas 83%. A BCG, que anda em falta, chegou a ter quase 100% de cobertura em 2018, mas caiu para 85%.

Na cidade de São Paulo, no primeiro semestre, menos de 60% dos bebês tomaram a BCG. Dados preliminares do Ministério da Saúde mostram queda grande na cobertura de todas as vacinas em 2020 no Brasil.

Enquanto o mundo sonha com uma vacina contra a Covid-19, muita gente está deixando de ir aos postos de saúde para tomar as que já existem. Os especialistas estão preocupados porque não cumprir o calendário oficial de vacinação é como quebrar um pacto social pela erradicação de doenças, um esforço que precisa ser de todos e que é ainda mais importante agora.

“Infecções pelo pneumococo, coqueluche, por exemplo, são infecções muito sérias que, somadas ao coronavírus, vão dar um problema ainda mais sério para esses indivíduos, para essas crianças. Mas, de uma forma geral, todas as vacinas têm grande importância nesse momento, porque nós estávamos numa situação controlada e de repente a gente passa a ter um descontrole total sobre essas doenças”, explica Marcelo Otsuka, pediatra e infectologista.

Se depender de mães como a Giuliana, que estava nesta terça (8) vacinando o seu pequeno Joaquim, isso não vai acontecer.

“Eu acho que as pessoas hoje em dia têm que vacinar, sim, independente de classe social, independente de religião. A vacina é a proteção do mundo”, destaca Giuliana Dias Calvo, empresária.

O Ministério da Saúde declarou que os dados da cobertura vacinal ainda são preliminares e que estados e municípios têm até o final de setembro para informar os resultados de 2019. O ministério afirmou também que tem distribuído regularmente as cotas estabelecidas para a vacina BCG. A prefeitura de São Paulo disse que todas as vacinas do calendário nacional continuam sendo oferecidas nas unidades básicas de saúde do município.