Infecções pela bactéria Mycoplasma pneumoniae têm crescido no mundo; fenômeno está associado à resistência antimicrobiana e queda na imunidade pós pandemia
Há algumas semanas, a China relatou um surto de pneumonia em crianças associado à bactéria Mycoplasma pneumoniae. Agora, pelo menos outros nove países ao redor do mundo também registraram um número maior de infecções pela bactéria neste ano. São eles: França, Estados Unidos, Dinamarca, Holanda, Suécia, Suíça, País de Gales, Eslovênia e Cingapura. Nestes locais, as crianças também são as principais afetadas.
Enquanto as autoridades de saúde pública monitoram a incidência global de infecções respiratórias graves, os pais estão atentos às notícias. Apesar da preocupação, especialistas e autoridades de saúde, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmam que se trata de um fenômeno esperado para um período pós-pandemia e ressaltam que não há nenhum novo agente patogênico associado a esses surtos.
— Esse aumento das infecções por Mycoplasma pneumoniae pode estar associado à pandemia. A gente teve medidas restritivas importantes nesse período que fizeram com que muitos dos vírus e bactérias que são transmitidos pelo ar parassem de circular. Agora, eles voltaram a circular e encontram um grande número de pessoas suscetíveis, em especial crianças que ficaram isoladas devido ao fechamento das escolas — diz o infectologista Julio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
Além disso, essa bactéria já tende a causar um aumento nas infecções a cada três a sete anos por razões que não são bem compreendidas. Como não havia surtos relatados desde antes da pandemia, esse aumento nos casos já era esperado em muitos países.
O que está causando o aumento de pneumonia em crianças?
O aumento dos casos e internações por pneumonia em crianças tem sido associados à bactéria Mycoplasma pneumoniae. De acordo com Croda, essa é uma bactéria comum, que sempre existiu e, na maioria dos casos, causa apenas síndrome gripal com sintomas parecidos com o da gripe. Tanto que esta infecção também é chamada de pneumonia “andante”, pois não reque repouso ou hospitalização. Entretanto, em alguns pacientes, o quadro pode evoluir para uma pneumonia mais grave que necessita de internação.
Quais países já detectaram a doença?
Até o momento, pelo menos dez países, em diversos continentes, registraram um aumento nos casos de infecção e pneumonia. São eles: China, França, Estados Unidos, Dinamarca, Holanda, Suécia, Suíça, País de Gales, Eslovênia e Cingapura.
Por que esse aumento agora?
Especialistas e autoridades de saúde atribuem o aumento dos surtos de doenças respiratórias causadas por vírus e bactérias à suspensão das medidas de isolamento impostas pela Covid-19. Durante a pandemia, as crianças ficaram isoladas em casa. Isso criou um grupo com poucas defesas imunológicas contra patógenos causadores de doenças comuns, preparando o terreno para grandes surtos quando a população voltasse a circular livremente e esses agentes patogênicos regressassem.
A resistência aos antibióticos também pode influenciar nesse cenário ao contribuir para o surgimento de casos mais graves, que demandam hospitalização. Os macrolídeos, em especial a azitromicina, são os antibióticos mais utilizados no tratamento desse tipo de infecção.
Há motivo para preocupação?
— Sim. Esse cenário causa preocupação porque temos população suscetível e, eventualmente, pode aumentar o número de hospitalizações, principalmente em crianças — pontua o presidente da SBMT.
A nova pneumonia pode chegar no Brasil?
Para Croda, é perfeitamente possível haver um aumento de casos de pneumonia por Mycoplasma pneumoniae no Brasil.
— Temos população suscetível ,como em outros países — avalia o infectologista.
Ele ainda explica que esse patógeno não é de notificação compulsória e não existe um sistema de monitoramento específico para esse agente. Isso significa que pode já haver a circulação do micoplasma, “mas desconhecemos o impacto porque não monitoramos”.
Neste caso, o ideal é passar a realizar testes para micro-organismos, principalmente em caso de internação.
Como essa bactéria é transmitida?
A Mycoplasma pneumoniae pode se espalhar através de gotículas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra.
Quais são os sintomas da nova pneumonia?
De acordo com o infectologista, o sintoma mais comum da infecção por Mycoplasma pneumoniae é a tosse seca. Mas também pode haver outros sintomas gripais como dor de garganta, cansaço, febre, dor no peito, desconforto e dor de cabeça. Como os sintomas são os mesmos de infecções causadas por outros patógenos, como vírus, só é possível saber qual vírus ou bactéria está associado a esse sintoma após a realização de testes específicos.
Qual é o tratamento para pneumonia?
Segundo Croda, casos leves não necessariamente precisam de antibiótico, havendo apenas tratamento sintomático. Já os casos mais graves necessitam de antibiótico. Os mais usados para tratar esse tipo de pneumonia são conhecidos como macrolídeos, em especial a azitromicina.
A nova pneumonia tem cura?
A maioria dos casos de pneumonia por Mycoplasma pneumoniae é tratado com o uso de antibióticos. Mortes podem acontecer, mas são raras. Segundo Croda, a letalidade é semelhante à da pneumonia por influenza.
Quais são os grupos de risco para a nova pneumonia?
As crianças são o principal grupo de risco pela falta de infecção prévia. Em seguida, estão os idosos.
Por que ela foi chamada de pneumonia misteriosa?
Inicialmente, os surtos relatados no Norte da China de pneumonia em crianças não tinham a causa definida, de acordo com infectologistas. Mas havia a suspeita de que eles estivessem associados a patógenos respiratórios que estavam em alta no país, como o influenza, o vírus sincicial respiratório (VSR) e a própria Mycoplasma pneumoniae.
Quando o surto de pneumonia começou?
Em meados de novembro, autoridades chinesas da Comissão Nacional de Saúde já falavam sobre um aumento da incidência de doenças respiratórias no geral, como gripe, Covid-19, bronquiolite infantil e Mycoplasma pneumonia. Na França, houve aumento dos casos de infecções respiratórias por Mycoplasma pneumoniae desde setembro, com aumento acentuado a partir de novembro.
Na Holanda, há também um crescimento observado desde agosto. Suécia, Eslovênia, País de Gales, Suíça e Cingapura também registraram um aumento nos casos de Mycoplasma entre abril e setembro deste ano.
Fonte: EXTRA GLOBO
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