Medo de pegar coronavírus tem afastado os portadores de hipertensão, diabetes e deficiências respiratórias das unidades de saúde; médica alerta para riscos
Não precisa nem contrair o coronavírus para sentir os efeitos colaterais. Só o medo de ir a uma unidade de saúde já tem afetado principalmente para quem tem doenças crônicas. Segundo estimativas da Associação Mineira de Medicina da Família e Comunidade, cerca de metade desses pacientes têm abandonado os tratamentos.
“Essas pessoas devem manter o uso correto e diário dos medicamentos. A interrupção pode levar ao descontrole da doença, com maior risco de internação hospitalar por infarto, AVC e outras causas clínicas. Além do mais, se forem contaminadas pela Covid-19, ficarão mais vulneráveis às formas graves, aumentando a chance de precisar de uma vaga na CTI e elevando o risco de óbito”, alerta a presidente da associação, Lidiane Oliveira Vilela.
Ela é médica da família na rede municipal de Varginha, no Sul de Minas. “Eu percebi uma queda de 50% nos atendimentos”, conta Lidiane. Colegas dela, que antes atendiam cerca de 30 pessoas por dia, têm atendido 15. “São portadores de diabetes, hipertensão, doenças respiratórias e distúrbios como ansiedade. Se não controlarem, podem causar lesões dos órgãos”, alerta.
O abandono dos tratamentos já pode ser sentido nas estatísticas de óbitos em casa. Desde o início da pandemia (26 de fevereiro) até o dia 27 de abril, Minas Gerais registrou mais de 4.000 mortes domiciliares, 18,6% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são de um levantamento feito pelo portal da transparência da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil).
Lidiane alerta ainda para outras apreensões: a validade das receitas e a mudança no fluxo de trabalho dos médicos da família e comunidade. “Algumas prefeituras chegaram a suspender o serviço dos agentes que visitam as famílias. Em alguns casos, o motivo foi economizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Em outros, foi afastar profissionais que são do grupo de risco. Mas a situação fica ainda mais preocupante, pois a redução vem exatamente num momento em que os pacientes precisam receber essas visitas em casa, para garantir orientações corretas”, afirma a médica.
Segundo ela, a situação econômica é outra ameaça ao tratamento dos pacientes de doenças crônicas. “Alguns medicamentos que não são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são caros e, sem emprego, muita gente vai deixar de comprar”, comenta.
Fonte: O TEMPO
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