Gripe aviária: 4 perguntas para entender por que ela é uma emergência
26 de maio de 2023

Depois de quase dois anos em que está circulando pelo mundo e causando a morte de milhões de aves, o vírus H5N1 chegou ao Brasil, que, até o momento, tem oito casos confirmados

Nos últimos anos, a avicultura mundial tem enfrentado uma crise crescente em meio ao aumento de casos de gripe aviária. A Organização Mundial para Saúde Animal (OIE) estima que, desde outubro de 2021, foram mais de 42 milhões de registros de aves atingidas pela doença, 15 milhões de animais domésticos mortos por ela e outros 193 milhões sacrificados para combater a disseminação do vírus.

A União Europeia, o Reino Unido, os Estados Unidos e diversos países do Mercosul já haviam confirmado a presença da variante H5N1 em seus territórios. Alguns locais apenas têm registrado a infecção em aves silvestres, mas outros já indicam a chegada do agente viral a granjas de produção, atingindo frangos de corte e galinhas poedeiras.

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No Brasil, os primeiros três casos da doença foram notificados em 15 de maio deste ano. Todos exemplares migratórios, encontrados no litoral do Espírito Santo. De lá pra cá, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou o diagnóstico de mais cinco aves com a doença, somando oito infectadas em três espécies diferentes (trinta-réis-de-bando, atobá-pardo e trinta-réis real). Outros casos ainda são investigados.

 

Focos de gripe aviária no continente americano — Foto: Reprodução/Embrapa Suínos e Aves

Focos de gripe aviária no continente americano — Foto: Reprodução/Embrapa Suínos e Aves

Mesmo com a presença do vírus nas aves marinhas, a condição não afetou o status do país de livre da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade. Isso mantém o fluxo normal do comércio internacional, mas desperta o alerta para que medidas passem a ser tomadas.

Foi diante desse cenário que o Mapa declarou, na segunda-feira (22), estado de emergência zoossanitária por seis meses. “A medida possibilita a mobilização de verbas da União e a articulação com outros ministérios, organizações governamentais e não governamentais. Todo esse processo assegura a força de trabalho, a logística, os recursos financeiros e os materiais tecnológicos necessários para executar as ações visando a não propagação da doença”, explica o ministro Carlos Fávaro, em nota oficial.

A seguir, entenda melhor os riscos por trás dessa doença.

O que é a gripe aviária?

Também conhecida como influenza aviária, essa doença é causada justamente por um agente viral influenza A, da mesma espécie que a gripe sazonal. A variante H5N1, responsável pela crise atual, é altamente contagiosa e pode ser transmitida pelo contato direto e indireto com as aves infectadas.

“As aves silvestres aquáticas são consideradas reservatórios naturais do vírus. Esses agentes, então, são passados pelas secreções orais, respiratórias e digestivas para os animais suscetíveis, que podem ser outras aves e até mamíferos – como os próprios seres humanos, mesmo que raramente”, explica a médica veterinária Helena Lage Ferreira, professora associada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

Por isso, é importante evitar o contato com exemplares infectados, mesmo aqueles já mortos. Apesar disso, não há risco de infecção pelo consumo da carne ou dos ovos dessas aves. O Ministério da Saúde investiga quatro casos suspeitos de pessoas que tiveram contato com as aves doentes. Até o momento, não há nenhuma confirmação de contaminados. Outros 38 exames, realizados em moradores de Espírito Santo e do Rio de Janeiro, onde as aves foram encontradas, voltaram negativos para H5N1.

Dentre os sintomas da gripe aviária em aves estão tosse, espirros, muco nasal, falta de coordenação motora, diminuição da produção de ovos e/ou alterações em suas cascas, hemorragias nas pernas, edema nas juntas, inchaço da crista e barbela, diarreia, desidratação, coloração arroxeada nas penas e lesões na pele. A morte repentina (em menos de 48 horas) de muitos animais é sinal de infecção no plantel.

Ao identificar qualquer um desses sinais, o avicultor deve comunicar o Serviço de Defesa Agropecuária Oficial da região. Se as aves estiverem no piquete, devem ser fechadas no aviário, junto dos equipamentos utilizados. Roupas e calçados que entrarem em contato com os animais devem ser retirados e o indivíduo deve tomar banho e aguardar pela orientação dos profissionais do órgão.

Já nos seres humanos, a gripe aviária causa sintomas parecidos com os da gripe sazonal: febre, tosse, secreção nasal, dor de garganta, dor muscular, dor de cabeça, conjuntivite, diarreia, dificuldade para respirar e, em casos mais graves, pneumonia. “Vale lembrar, porém, que não necessariamente todos os sinais clínicos se fazem presentes”, destaca Ferreira.

Como se prevenir?

A infecção em humanos está associada à exposição aos animais infectados ou ao ambiente contendo o vírus. Por isso, as pessoas devem evitar frequentar locais onde foram encontrados animais doentes. Caso sejam avistados animais enfermos, “a recomendação é de não entrar em contato com os animais e imediatamente chamar o serviço veterinário oficial”, indica a especialista. “Os profissionais possuem o treinamento adequado e a expertise para desencadear as ações necessárias”.

Estamos caminhando para uma nova pandemia?

Segundo a professora Helena Lage Ferreira, não. “Todas as evidências científicas sugerem que a classificação de risco atual para uma nova pandemia é baixa”. Mas lembra que os vírus influenza possuem mecanismos de evolução eficientes, daí porque merecem ser monitorados continuamente. “Na prática, a declaração de emergência zoossanitária reconhece que a infecção pelo vírus H5N1 é uma grande ameaça ao setor avícola do Brasil. Por isso, sua importância para o combate da doença”, frisa.

A medida institui uma concentração de recursos humanos, financeiros, tecnológicos de todos os setores — não apenas daqueles ligados aos serviços veterinários federais, estaduais e municipais — voltados à questão. A especialista considera que isso deve refletir em uma minimização dos impactos à avicultura (comercial e não comercial) e à fauna silvestre brasileira.

“Nenhuma medida é 100% efetiva, mas elas ajudam — e muito. O desafio para combater o vírus é enorme, porém ele não é exclusivo do Brasil. Essa é a maior epizootia causada pelo H5N1, afetando milhões de aves em todos os continentes do mundo (com exceção da Antártida). Isso permite uma discussão constante sobre as melhores formas de controle da doença”, conclui a médica veterinária.

Fonte: Revista Galileu

 

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