Agentes comunitários de saúde e funcionários do hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, realizaram uma manifestação contra a situação caótica no setor de Saúde do município na manhã desta quarta-feira.
Depois de um abraço simbólico à unidade hospitalar, o grupo caminhou até a Avenida Brasil. Aproximadamente 200 pessoas ocuparam o acostamento e uma pista de rolamento da via.
O protesto foi organizado pelo Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde do município. Na última sexta-feira, a categoria recebeu o salário referente ao mês de novembro, mas benefícios de alimentação e transporte não foram pagos.
O presidente do sindicato, Ronaldo Moreira, diz que a categoria decidiu fazer a manifestação em solidariedade aos funcionários do Hospital Albert Schweitzer, que estão com salário atrasado há dois meses. Em um carro de som, Moreira conclamava os participantes com frases como “a nossa luta é todo dia porque a saúde não é mercadoria”.
Juntos com agentes comunitários de saúde, funcionários protestaram contra a situação da categoria, que tem salários atrasados já há dois meses e corre o risco de não ter o 13o. Entre os manifestantes, estava a técnica de enfermagem Alexandra Bonfim Sá, de 32 anos. Sem salário, Alexandra teve a luz cortada há três dias em sua residência e ela e o filho de 10 anos têm se alimentado com a ajuda de patentes e amigos.
– Sou técnica de enfermagem e tenho vindo trabalhar por amor à profissão. Eu não tenho o que comer em casa. Há três dias estou sem luz. Cortaram a luz por falta de pagamento. Tenho deixado meu filho de 10 anos na casa de minha mãe para que ele não sofra. É uma situação muito humilhante, a mais profunda de toda a minha vida – desabafou Alexandra.
300 pessoas
Antes de a passeata começar, quando o protesto se concentrou em frente ao Hospital Albert Schweitzer, pelo menos 300 pessoas se aglomeraram na rua em frente à unidade e nas calçadas. E muitas delas eram funcionárias da unidade, como Fernanda Fernandes, enfermeira do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) adulto do hospital.
– Os 10 leitos do CTI estão ocupados, mas faltam medicamentos como antibióticos, hipertensivos e glicose. Graças a Deus, não pago aluguel. Moro com minha mãe e tenho um emprego em unidade particular que me ajuda a sobreviver. Mas vejo a situação de minhas colegas e fico muito triste – lamentou Fernanda.
A penúria por que passa o Albert Schweitzer afetou muito a vida do segurança Jorge Batista, de 43 anos. Com suspeita de trombose na perna esquerda, ele procurou a Unidade de Pronto Atendimento (Upa) da Vila Kennedy, mas o raio-x de lá estava quebrado. De lá, foi até a Clínica da Família Nilda Aguiar, em Padre Miguel, na Avenida Brasil, onde não havia médico. Continuou sua peregrinação e foi parar no Albert Schweitzer, mas não havia lá médico especializado.
– Há 4 dias estou sem dormir de tanta dor que sinto na perna. Estou com dores na perna esquerda inteira. Estou perdendo força nela. Isso é suspeita de trombose. Por isso, recomendaram uma tomografia computadorizada. Alguém precisa falar para o Crivella que não precisamos de roda-gigante nem de fogos de artifício no fim do ano nem de carnaval. E sim de saúde – reclamou Jorge Batista.
A dona de casa Rosângela da Silva Alcântara, de 53 anos, é irmã da agente comunitária Roselaine da Silva de Alcântara, de 46. Rosângela usou o nariz de palhaço e participou da manifestação em solidariedade aos profissionais de saúde, assim como sua irmã, que trabalha na Clínica da família José Fain, também em Realengo.
– É uma vergonha o que está acontecendo na área da saúde no Rio. Estou aqui em solidariedade a minha irmã e a todos os seus colegas – disse Rosângela.
Roselaine, por sua vez, disse que na clínica onde trabalha faltam vários insumos e medicamentos.
– Estou há 4 anos e 11 meses trabalhando nessa profissão de técnica de enfermagem. Nunca passei por momentos como estes. Nos hospitais públicos as pessoas estão sendo internadas por classificação de risco.
Os manifestantes saíram em passeata por ruas de Realengo passando por cerca de 3 km na Avenida Brasil empunhando cartazes com dizeres como “cadê o 13o?”; “Queremos dignidade”. E cantando músicas feitas para o protesto como “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro”.
Clima de desespero no Pedro II
Já no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, o clima entre pacientes e parentes era de desespero nesta quarta-feira. As irmãs Ana Cristina e Daiana Pestana não sabiam o que fazer com a mãe Ana, de 85 anos, que sofreu um AVC no último dia 9. Por não haver médico, a idosa recebeu alta nesta quarta-feira sem que fossem avaliadas as sequelas que teria em função do problema. Como também não há maqueiro, o acompanhante de uma paciente próxima à idosa ajudou a socorrê-la e levá-la até um táxi numa cadeira de rodas.
– Não tem maqueiro, não tem médico e não tem ambulância. Sofreu um AVC isquêmico e recebeu alta hoje porque não tem médico. Seria preciso investigar as sequelas que terá. Não temos condições de mantê-la em casa. Vamos fazer o possível e o impossível, mas está difícil – comentou Ana Cristina.
Moradora de Paciência, Nair Martins Gomes, de 66 anos, sofreu um surto psicótico no início da tarde desta quarta-feira. Parentes e um grupo de vendedoras ambulantes ajudaram a conter a mulher que se debatia muito e foi levada para o Hospital Pedro II. Como não havia maqueiro, o grupo que precisou arrastá-la até a sala vermelha do hospital, onde finalmente foi atendida por uma médica.
Já o tio de Márcia Naboracy, José Carlos, de 67 anos, está a 10 dias internado para amputar a perna direita, danificada por problemas de diabetes:
– Ele está há 10 dias aqui correndo o risco de pegar uma infecção hospitalar. Não tem médico vascular. Não tem como fazer a cirurgia porque a equipe está ausente por falta de pagamento – lamentou Márcia.
Fonte: Extra
Notícias de Seropédica, do Brasil e do Mundo