A atividade física virou remédio contra Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, epilepsia, depressão e até enxaqueca. Mas como fazer com segurança?
Em 2050, as pessoas acima dos 65 anos representarão um terço da população do planeta. E esse é o grupo mais suscetível a males marcados pela destruição dos neurônios, como o Alzheimer. A projeção é que ele afete 135 milhões de indivíduos daqui a três décadas. Alguns problemas, por outro lado, afligem o cérebro independentemente da idade. É o caso da depressão, que faz 322 milhões de vítimas pelo mundo hoje e deve ser o transtorno mais incapacitante do globo em 2020. Os números assustam e pedem que não fiquemos parados. De verdade: exercitar-se com regularidade já configura uma medida cientificamente comprovada para prevenir e controlar doenças que consomem a massa cinzenta. É bom que os brasileiros levem essa história a sério. Por aqui, 47% dos cidadãos são sedentários.
Quem se perde no conforto do sofá é o cérebro. Além de melhorar o abastecimento de sangue, oxigênio e nutrientes, a atividade física pode fazer a cabeça trabalhar de forma mais ágil e prepará-la para enfrentar tanto doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson…) como psiquiátricas (depressão, ansiedade etc).
Os cientistas já decifraram que o suor da camisa induz um fenômeno chamado neurogênese, a formação de novos neurônios. Parece mágico, mas é pura bioquímica: durante a atividade, há um aumento na liberação da substância BDNF (sigla em inglês para fator neurotrófico derivado do cérebro), envolvida na produção, conservação e funcionamento das células nervosas.
Níveis mais altos de BDNF, que podem se manter elevados até oito horas depois do exercício, estão associados à proteção contra diversos perrengues. “Sua presença diminui a inflamação local, melhora as conexões entre os neurônios e preserva o córtex pré-frontal, essencial para as tarefas que exigem planejamento e organização”, expõe a educadora física Andréa Camaz Deslandes, coordenadora do Laboratório de Neurociência do Exercício da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os cariocas, aliás, descobriram recentemente que um hormônio fabricado pelos músculos durante o exercício tem potencial para reverter a perda de memória característica do Alzheimer – feito que nenhum medicamento alcançou até o momento. Batizado de irisina, ele foi identificado pela primeira vez em 2012 e atua na regulação do metabolismo corporal.
Agora é alvo de estudos por seu papel de socorro ao cérebro. Pode estar aí uma das chaves moleculares que explicam o poder da malhação não só para a prevenção como para o tratamento dessa e de outras doenças.
Exercício vira remédio
As evidências do impacto positivo da atividade física no controle de problemas neurológicos não se resumem a Alzheimer. Pessoas com condições crônicas como epilepsia, esclerose múltipla e enxaqueca também têm a ganhar com um treino prescrito e supervisionado.
Aí que está: as indicações estão cada vez menos genéricas, do tipo “você precisa se exercitar”. A tendência é traçar as modalidades mais compatíveis e personalizar o treinamento. Em geral, o benefício vem na esteira do tempo de prática e da constância – não adianta malhar umas semanas e depois parar – e do respeito a possíveis limitações.
Manter uma vida ativa antes de qualquer desordem cerebral se manifestar é o melhor dos cenários. Assim se cria uma reserva cognitiva, nome para a capacidade de a massa cinzenta lidar com eventuais danos e se adaptar a eles.
Provavelmente há uma razão evolutiva para isso. Nossos ancestrais precisavam se movimentar e pensar mais do que seus pares para sobreviver. Esse é um elo forjado há milênios”, teoriza Michael Wheeler, pesquisador da Universidade Baker, na Austrália, que estuda os efeitos do sedentarismo na cachola.
Em pleno século 21, nunca foi tão importante se mexer pelo bem da cabeça – inclusive se ela já é alvo de uma doença, como você verá a seguir.
1) Alzheimer
Muito ligado à perda da memória, é o tipo mais comum de demência no Brasil, onde afeta 1,2 milhão de pessoas. A atividade física já é associada à diminuição do risco de desenvolver a doença, mas pode ajudar também a desacelerar sua progressão.
Isso porque induz transformações no cérebro para compensar a devastação de neurônios – fenômeno que, entre outras áreas, afeta o hipocampo, responsável pelas memórias recentes. Os exercícios aeróbicos (caminhada, trote…) parecem ser os mais indicados.
Um experimento com roedores feito na UFRJ desvendou que a irisina, aquele hormônio produzido pelos músculos com o exercício, chega a reverter a perda de memória. O achado precisa ser confirmado em gente como a gente, mas abre uma esperança para o tratamento do problema.
Já se sabe que pessoas com Alzheimer em estágio moderado ou grave têm menores níveis de irisina no cérebro. “Os mecanismos de ação ainda não estão totalmente elucidados, mas nosso trabalho demonstrou que ela protege as sinapses, as conexões entre os neurônios”, diz a bióloga Fernanda Felice, uma das autoras da pesquisa.
Fonte: Saúde Abril
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