No mês passado, cientistas relataram que um remédio experimental foi capaz de proteger macacos contra infecções causadas pelo vírus Nipah, uma doença letal e uma ameaça pandêmica crescente para a qual não existe vacina aprovada nem cura. A droga antiviral, chamada remdesivir, também está sendo testada atualmente contra o vírus do Ebola no surto da doença em andamento na República Democrática do Congo.
O único tratamento disponível hoje em dia para infecções causadas pelo vírus Nipah é um anticorpo monoclonal ainda experimental; ele foi testado durante um surto do vírus na Índia no ano passado.
Nos testes mais recentes, oito macacos-verdes africanos receberam doses letais do vírus Nipah. Em seguida, a metade dos animais recebeu uma dose intravenosa do remdesivir. Todos os quatro macacos que receberam a medicação sobreviveram; os outros morreram em oito dias.
Se o uso desse remédio contra o Nipah for aprovado, “vai nos dar uma opção extra de tratamento que poderia começar a ser ministrado rapidamente. Em média, uma pessoa que chega ao hospital infectada morre em dois dias, por isso é difícil protegê-las após a contaminação”, afirmou Emmie de Wit, virologista no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês) e um dos líderes do estudo.
Os vírus do Ebola e do Nipah pertencem a famílias virais diferentes, mas o remdesivir –fabricado pela Gilead Sciences e também conhecido como GS-5734– é aparentemente eficaz contra ambos. Em camundongos ou células cultivadas em laboratório, a medicação também mostrou algum nível de eficácia contra outras duas ameaças pandêmicas: a Febre de Lassa e a MERS-CoV (síndrome respiratória do Oriente Médio associada ao coronavírus). Além de ser eficiente contra o vírus sincicial respiratório, que infecta crianças no mundo todo.
O vírus Nipah, que causa encefalite e pneumonia, é letal em 70% dos casos, pode ser contraído de animais ou ser transmitido entre pessoas. Como o Ebola, ele normalmente circula em morcegos.
Foi identificado pela primeira vez na Malásia, em 1999, quando matou dezenas de criadores de porcos e funcionários de abatedouros. As vítimas foram contaminadas por porcos criados sob a copa de árvores colonizadas por morcegos. Os suínos, por sua vez, contraíram o vírus ao comerem frutas contaminadas pela saliva ou pelas fezes dos morcegos.
Em 2001, um surto letal em Bangladesh, deflagrado entre pessoas que consumiram seiva crua de tamareira, foi diretamente relacionado a morcegos frutíferos. Fotografias tiradas com câmeras de infravermelho mostraram os morcegos subindo nos potes de argila amarrados às árvores para a coleta da seiva, depositando saliva e urinando neles. (remédio)
Em 2017, quando doadores e fabricantes de vacinas constituíram uma parceria de 500 milhões de dólares (quase dois bilhões de reais) para desenvolver vacinas contra três doenças com potencial de pandemia, o Nipah estava entre as principais prioridades. (Os outros dois foram Lassa e MERS.)
Nos testes, os quatro macacos sobreviventes receberam a primeira dose do remdesivir 24 horas após terem sido infectados e, na sequência, uma infusão diária durante 12 dias. Dois deles desenvolveram problemas respiratórios leves, que desapareceram em três semanas, enquanto os outros dois não apresentaram nenhum sintoma.
Em 2015, cientistas anunciaram que uma vacina experimental contra o Nipah tinha protegido três macacos contra o vírus. O próximo passo, contou de Wit, será testar até quanto tempo após a infecção a medicação poderá ser administrada para curar os animais.
Fonte: Panorama Farmacêutico
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