Doenças ‘invisíveis’: estafa e depressão fazem cada vez mais vítimas
22 de setembro de 2019

Especialista explica o que ocorre nos dois casos

Nas últimas semanas, a cantora Anitta, de 26 anos, foi diagnosticada com estafa, uma doença que é reconhecida como o acúmulo de funções, que causa desgastes físicos e mentais. Desde então, o foco para problemas relacionados à saúde mental, como depressão, acabou sendo maior e a discussão sobre esse assunto mais necessária. Por isso, é importante entender o que é a estafa e a depressão, dois transtornos sérios e que podem levar a desgastes mentais enormes.

Segundo a psicóloga Sandra Torres, especialista em psicologia clínica, estafa é “um desgaste enorme de energia, muito cansaço. A pessoa tem um desgaste mental e físico, pode ser causada também por preocupações constantes. Eu diria que é quando a pessoa ultrapassa seus limites, vai além do que pode fazer.” Ela ainda completa dando exemplos: “Pode ser, por exemplo, quando você é mãe e trabalha fora, também tem que pensar nos filhos, cuidar da casa, é um acúmulo muito grande de funções e é necessário ter cuidado.”

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Marco Antônio Stivanelli, de 20 anos, é estudante de jornalismo da Universidade Federal Fluminense e foi diagnosticado com estafa no começo do ano. O jovem, que recebeu a notícia por seu psicólogo, diz que começou a ficar ansioso, não conseguia prestar atenção nas coisas e começou a perceber algo estranho. “Eu tentava fazer as coisas, mas eu não conseguia.”

Marco, em nenhum momento, confundiu a estafa com depressão, mesmo antes de seu diagnóstico. “Eu não sabia o que era, não sabia que era estafa, mas eu sabia que não era depressão, porque eu tenho depressão funcional. Quando eu tenho crises de depressão, sei que é algo que eu não tenho vontade de fazer nada, com estafa, eu tinha vontade, eu tentava fazer, mas eu não conseguia, não funcionava.”

A vida de Marco é corrida, pois o jovem, além de fazer faculdade, também escreve textos para sites, faz academia e precisa ir bem no estágio. Sobre isso, ele completa:“Eu já tinha muita coisa para fazer e depois comecei a ter mais, tentava dar o meu melhor em tudo, fazer tudo. Até que teve uma fase que eu nem tentava mais, porque eu sabia que não ia conseguir.” Ele conclui: “Eu ia escreveralgo e parecia que eu não conseguia escrever nada, eu não via sentido mais nas palavras, não conseguia fazer frases. Parecia que meu cérebro estava quebrado e eu me estressava cada vez mais.”

Marco vive angustiado e com medo de ter uma outra crise de estafa e não conseguir lidar com seus afazeres. “Eu tenho medo de voltar a ter crise, porque não tem o que fazer, preciso fazer minhas coisas, mas eu tento evitar. E se isso acontecer de novo, eu vou sofrer mais, porque eu preciso continuar com as minhas coisas, ninguém entende que você tem um problema mental, você tem que engolir e continuar dando conta das coisas. Por causa desse estresse, cheguei a ter até problemas de pele.” Para evitar que esse quadro se repita, o jovem estudante diz que tenta se divertir e curtir um cinema, às vezes, ou ir em um parque. “Mesmo sabendo que eu tenho muitas coisas para fazer, eu preciso me forçar a ter essa pausa, se não eu não consigo progredir. Eu tô entendendo que as vezes você parar é melhor do que ficar focado fazendo só aquela coisa. Eu vejo que eu preciso fazer uma pausa.”

Um outro transtorno mental bem conhecido é a depressão, que, segundo a Organização Mundial de Saúde(OMS), é considerado “o mal do século”, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Para Sandra Torres, a estafa pode desencadear uma depressão, mas nunca é só isso. “A depressão é um desequilíbrio químico, que pode ser endógena, causada por fatores internos na pessoa, ou exógena, do mundo para você. É uma tristeza profunda e vontade de não fazer nada. A estafa pode causar sim depressão, mas associado a outros fatores, como não gostar do seu trabalho, por exemplo.” Ela também afirma que a estafa sozinha não necessariamente causa depressão, que é uma soma de fatores, mas se a pessoa já tem algum desequilíbrio químico ou algum fator que possa levar à depressão, a estafa pode acabar ajudando no processo.

Rosa Borges, jovem de 21 anos, foi diagnosticada com depressão no final de 2017. Ela conta que não achava que tinha algo tão sério como essa doença. “Na época em que comecei a desenvolver o transtorno, eu tinha terminado um curso de comissária de bordo. Estava nervosa e pensando muito na prova que tinha que fazer para oficialmente me tornar aeromoça. Então, eu comecei a ter muitos pensamentos ruins, acelerados, tive insônia, perdi o apetite, eu não queria mais sair de casa, esqueci de lado a higiene pessoal também. Só queria ficar na cama, nem ver filmes eu queria ver. Só ficava dormindo. Não tinha vontade de interagir com ninguém, eu ficava sozinha. Mas nunca pensei que eu pudesse ter depressão.”

A jovem demorou a acreditar que estava com depressão, acreditava que era só uma fase e que ia passar, por isso, ela demorou a procurar um médico. Rosa só foi a um especialista quando ficou um mês sem querer sair de sua casa. Parte do motivo da jovem ter procurado o psiquiatra para um diagnóstico foi pela preocupação que ela percebeu que estava causando em sua família. Foi neste momento que seu quadro de depressão foi confirmado.

A jovem ainda chegou a tentar suicídio, ela também tem crise de ansiedade. Mas Rosa diz que se cuida muito para evitar outra crise. “Vou ao psiquiatra todo mês, conto para ele tudo que estou sentindo e tomo meus remédios.” Ela também não tem medo de ter outra crise. “Não tenho medo de ter outra crise, porque tudo que eu sinto eu volto pro psiquiatra, sempre tento me reerguer também.”

Apesar da estafa e da depressão serem dois transtornos diferentes, ambos causam angústia na vida das pessoas e são situações que afetam o mental, sendo, muitas vezes, difíceis de perceber. Mas, para cuidar dessas situações, Sandra Torres diz que, no caso da estafa, o ideal é dar uma pausa, tirar umas férias e descansar bastante, o sono também influencia na melhora do paciente. Já no caso da depressão, a psicóloga recomenda o uso dos remédios, o acompanhamento médico, paralelo ao psicoterápico, além de uma boa alimentação e exercício físico.

É importante observar ao seu redor, pois os dois transtornos podem acontecer nas mais diversas pessoas. O importante é ajudar ao próximo que pode ter algum desses sintomas, pois quanto mais rápido o diagnóstico, mais cedo pode se iniciar o tratamento, para evitar maiores danos mentais ou físicos ao paciente.

Fonte: O São Gonçalo