O Brasil está envelhecendo, e rápido. De acordo com dados do IBGE, em 2030, o número de idosos vai superar o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. Em 2050, 30% da população terá mais de 60 anos. Mas, para que essa longevidade seja, de fato, motivo de comemoração, é preciso reorganizar o sistema de saúde, o que inclui programas de prevenção, uso de tecnologia e um olhar que considera a saúde do idoso em todas as dimensões.
“A organização do sistema de saúde no Brasil é exatamente a mesma dos anos 1960, com o modelo de portas abertas de que a gente tinha necessidade lá atrás, para doenças infecciosas e agudas. Vou, recebo uma prescrição, volto para casa, tomo e fico bem”, afirmou Martha Oliveira, CEO do grupo Laços Saúde, durante painel sobre envelhecimento no Summit Saúde e Bem-Estar 2023, evento realizado pelo Estadão no último dia 5.
A mudança demográfica, no entanto, trouxe aumento da incidência e prevalência de doenças crônicas, que precisam ser observadas longitudinalmente e não com visitas pontuais a consultórios e hospitais. Como o sistema não foi atualizado frente à nova demanda, há prejuízos na efetividade de tratamentos e gastos desnecessários de recursos.
Um caso bem típico, diz Martha, é o da polifarmácia – o uso de cinco ou mais medicamentos. “Quando recebo uma população de idosos, eles tomam, em média, 16 medicações. E isso não acontece por conta da necessidade daquela pessoa, acontece por conta da desorganização do sistema. O paciente vai, de forma aguda e pontual, em vários profissionais ou em várias instituições, recebe diversas prescrições, pega aquilo tudo e toma. Polifarmácia, no idoso, significa risco de queda, de desorientação.”
E, se nos anos 1960, não haveria alternativa a essa situação, hoje a tecnologia permite a construção da jornada do paciente. A implementação de prontuários eletrônicos, por exemplo, já é o primeiro passo para o cruzamento de informações e para se ter uma visão do todo. Informações úteis para o acompanhamento integrado dos problemas de saúde, mas, e talvez principalmente, para o desenho de uma estratégia de prevenção.
“Quando começamos a levar em conta a forma de acompanhar essa jornada, a gente tem essa temática da predição e da prevenção muito mais ativada, muito mais real”, afirmou Rafael Palombini, presidente e CEO da GE Healthcare para a América Latina, outro debatedor do painel.
Falar em prevenção é mandatório, principalmente num País como o Brasil, que “ficou velho antes de ficar rico”, nas palavras de Paulo Bertolucci, neurologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que participou do debate. “Temos de ser pragmáticos; trabalhar na prevenção é nossa única chance aqui para não explodir o orçamento.”
Um bom exemplo, diz ele, é o programa de tratamento da aids. “Ele jamais falhou, porque lá atrás alguém fez um cálculo e, para cada real investido em antiviral, se economizava R$ 3 no sistema de saúde, em tratamento das complicações.” No caso das doenças crônicas ligadas ao envelhecimento, a lógica é a mesma.
Para isso, ao mesmo tempo em que o sistema de saúde precisa se reorganizar – com treinamentos e ênfase nos programas de saúde da família – é preciso investir pesado na conscientização da população. Até porque, complementa Bertolucci, o idoso é uma construção social. “Ele é o que se espera que ele seja. Se você for esperto, mesmo sendo idoso, vai falar: ‘Ninguém vai falar o que eu sou. Eu é que vou’. E isso é o que permite você sair fazendo exercício em vez de ficar com um chinelo de chita, vendo TV.”
Por fim, há o aspecto cultural. Não adianta investir em tecnologia, prevenção e até mesmo no empoderamento dos idosos, se o olhar do restante da sociedade para essa parcela da população for preconceituoso e não validar as dores e os benefícios do melhor cuidado até o fim da vida.
“Ah, tá cansado? É da idade. Ah, tá com esquecimento? Faz parte. Não, isso não faz parte e nem é comum ao envelhecimento”, afirma Karina Fontão, diretora médica executiva da AstraZeneca Brasil que também participou do debate. Assim, é preciso ter um novo olhar para o idoso. “Há experiências de pacientes com mais de 80 anos, extremamente ativos, que fizeram um transplante de medula. Por isso, se tem falta de ar, dá para tratar. Se tem uma cardiopatia, cuida também. O tratamento pode melhorar muito a qualidade de vida. E todos queremos envelhecer.”
Fonte: Estadão
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