Com a nova descoberta, será possível pensar em terapias ainda mais específicas e que potencializem as chances de cura da doença
Embora a radioterapia seja um tratamento bem estabelecido contra o câncer, ainda existem processos que cientistas precisam entender melhor. Há décadas, os médicos tentam entender, por exemplo, o porquê de a radioterapia matar células do mesmo tumor de múltiplas maneiras – o que implica em uma diferença na percepção da morte celular pelo sistema imunológico.
À princípio, isso pode soar como um detalhe. Mas a verdade é que decifrar a razão por trás dessa distinção de processos é chave para avançar nas pesquisas sobre como desencadear uma resposta imunológica em cadeia que leve à morte de quaisquer outras células cancerígenas dentro do organismo. Conquistar tal feito poderia revolucionar a forma como se pensa o cuidado da doença.
Depois de anos de experimentos, uma equipe do Instituto de Pesquisa Médica Infantil (CMRI), na Austrália, afirma ter encontrado, por fim, uma solução para esse mistério. Seus resultados aparecemem um artigo publicado nesta segunda-feira (13) na revista científica Nature Cell Biology.
Por trás da morte celular pela radioterapia
“O resultado surpreendente da nossa pesquisa é que o reparo do DNA, que normalmente protege células saudáveis, pode também determinar como as células cancerígenas morrem após a radioterapia”, explica Tony Cesare, autor do projeto, em nota. “Descobrimos que os processos naturais de reparo celular podem reconhecer quando um dano avassalador ocorreu (por exemplo, da radioterapia) e instruir uma célula cancerígena sobre como morrer”.
Percebeu-se que, quando o DNA danificado pela radioterapia foi reparado por um método chamado “recombinação homóloga”, as células cancerígenas morreram durante o processo de reprodução (mitose). Se a ocorre nesta etapa, ela passa despercebida pelo sistema imunológico, então, ativa uma resposta em cadeia.
“No entanto, células que lidaram com o DNA danificado pela radiação por meio de outros métodos de reparo de DNA sobreviveram ao processo de divisão celular, mas o fizeram liberando subprodutos do reparo de DNA na célula”, destaca Cesare. “Para a célula, esses subprodutos de reparo parecem uma infecção viral ou bacteriana. Isso faz com que a célula cancerosa morra de uma maneira que alerta o sistema imunológico; é o que queremos”.
A partir disso, os cientistas demonstraram que bloquear a recombinação homóloga mudou a maneira como as células cancerígenas morriam – agora sua morte evocava uma forte resposta imunológica. A equipe também observou que as células cancerígenas que têm mutações no BRCA2 (um dos genes necessários para a recombinação homóloga) não morrem na mitose após a radioterapia.
Novas chances de tratamento – e esperança de cura
Mais do que só resolver um grande quebra-cabeça científico, os novos achados tornarão possível iniciar tratamentos medicamentosos pensados especificamente para bloqueia a recombinação homóloga e, consequentemente, forçar as células cancerígenas tratadas com radioterapia a morrer de uma maneira que alerta o sistema imunológico. Com a sinalização da existência de um câncer, as funções naturais do sistema se encaminharão de destruir essas estruturas malignas.
Harriet Gee, radio-oncologista que colaborou com a iniciativa, conclui: “Nossa pesquisa abre margem para novas oportunidades de aumentar a eficácia da radiação por meio da combinação com outras terapias, particularmente a imunoterapia, para aumentar as curas do câncer”.
Fonte: Galileu
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