Cientistas brasileiros desenvolvem vacina contra o vício em cocaína e crack
26 de outubro de 2023

Calixcoca, o imunizante desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ainda deve passar por fase clínica de testes. Iniciativa ganhou o prêmio Euro no último dia 18

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram a Calixcoca, uma vacina terapêutica para o tratamento da dependência em cocaína e em sua derivação potente, o crack. O imunizante demonstrou resultados promissores em fase de testes pré-clínicos.

Segundo a Agência France-Presse (AFP), a vacina desencadeia uma resposta imunológica que bloqueia a cocaína e o crack de atingirem o cérebro, o que pode ajudar usuários a quebrar o ciclo da dependência. Em outras palavras, os usuários não ficam mais “chapados” com a droga.

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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia a pesquisa sobre a Calixcoca. O estudo é tema da bolsa de Produtividade em Pesquisa do professor Frederico Garcia, que conta também com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), entre outros.

Como funciona a Calixcoca

A vacina “induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea, explica comunicado da UFMG. Essa ligação transforma a droga em uma molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica do cérebro, estrutura que regula o transporte de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central.

“Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência”, afirma Frederico Garcia, em comunicado. “Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga.”

A Calixcoca até agora se mostrou eficaz em testes com animais, produzindo níveis significativos de anticorpos contra a cocaína e poucos efeitos colaterais. O imunizante também protegeu fetos de ratos contra a droga, sugerindo que pode ser usado em humanos para proteger bebês não nascidos de grávidas dependentes químicas.

“A vacina impediu a ação da droga sobre a placenta e o feto [nas ratas]”, conta o coordenador do estudo. “Observamos menos complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que [nas cobaias] não vacinadas.”

Prêmio Euro

A pesquisa da vacina Calixcoca levou a iniciativa destaque da segunda edição do Prêmio Euro Inovação na Saúde, que é organizado pela multinacional farmacêutica Eurofarma. A cerimônia de entrega foi realizada em 18 de outubro, em São Paulo.

Vacina Calixcoca mostrou resultados promissores em ensaios com animais — Foto: CCS/Faculdade de Medicina da UFMG
Vacina Calixcoca mostrou resultados promissores em ensaios com animais — Foto: CCS/Faculdade de Medicina da UFMG

A equipe da UFMG ganhou 500 mil euros (cerca de R$ 2,6 milhões). A Calixcoca foi a iniciativa mais votada por médicos de 17 países, superando outros 11 projetos inovadores desenvolvidos na América Latina, entre eles a SpiN-Tec, vacina contra a Covid-19 (também da UFMG), e o fitoterápico para tratamento da diabetes mellitus e obesidade, desenvolvido na Universidade de Uberaba (Uniube).

“Sabemos como é difícil ter uma pessoa dependente em casa, como é sofrido para um acometido pela dependência ter que lidar com a ambivalência de usar ou não droga e como é ainda mais difícil para uma gestante dependente proteger seu feto e lidar com a dor da abstinência”, declarou Garcia no discurso de agradecimento do prêmio. “Temos a missão de cuidar dessas questões.”

A vacina agora está prestes a entrar na fase final: testes clínicos. “Estamos, agora, caminhando para o registro do medicamento na Anvisa”, disse o coordenador em comunicado.

“Também estamos atrás de um parceiro que nos ajude a sintetizar os lotes piloto, que é uma obrigação imposta pela Anvisa para o registro de um medicamento. Após essas etapas, passamos para os testes em humanos.”

Fonte: Revista Galileu

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