Caso Abel Braga: especialista explica alto índice de doenças cardíacas em ex-atletas
3 de abril de 2019

Cardiologista destaca que intensidade de exercícios deve ser mantida durante a vida toda

O final da semana passada foi agitado pelo problema cardiológico do técnico do Flamengo. Abel Braga teve uma crise de arritmia cardíaca durante jogo contra o Fluminense, pela Taça Rio. A imprensa esportiva fez um levantamento rápido e detectou mais de sete técnicos famosos de futebol com alguns problemas do coração. Desde arritmias até doença obstrutiva das coronárias, que pode evoluir para infarto do miocárdio. Para evitar que isso ocorra se faz o tratamento por cateterismo, a chamada intervenção por angioplastia, quando se esmaga a placa de gordura que cresceu dentro da artéria coronária e nela se coloca uma pequena “mola” (stent) para mantê-la desobstruída ou então se faz a cirurgia de ponte de safena.

Muitos leitores da nossa coluna semanal, nos perguntaram do porque dessa súbita epidemia entre eles. Não temos respostas definitivas ainda, mas, avaliando inúmeros ex-atletas profissionais e vários amadores de alto nível técnico esportivo, notamos algumas características clínicas semelhantes entre si e diferente dos esportistas de nível moderado.

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Ainda sem focar nos treinadores de futebol, mas apenas analisando o ex-atleta de modo geral, vamos abordar alguns fatos médicos. O ex-atleta também chamado de atleta master, veterano e sênior, em geral com mais de 40 anos e até com praticantes na faixa dos 80 anos, seguiram hábitos de vida muito parecidos mesmo em modalidades esportivas diferentes: treinaram, jogaram e se alimentaram muito e descansaram pouco. E não podemos esquecer, alguns também beberam muito. Isso fez a diferença ao se aposentarem dos esportes.

Ablação foi o método utilizado na cirurgia do treinador — Foto: TV GloboAblação foi o método utilizado na cirurgia do treinador — Foto: TV Globo

Ablação foi o método utilizado na cirurgia do treinador — Foto: TV Globo

Dentre ex-atletas que hoje apresentam cardiopatias, constatamos que além das doenças com histórico familiar como hipertensão arterial, diabete e colesterol elevado, a prática esportiva intensa não os protegeu no seu futuro. Principalmente aqueles que se tornaram sedentários e mantiveram os abundantes hábitos alimentares e, por consequência se tornaram obesos com doenças crônicas cardiovasculares.

Os ex-atletas que se tornaram treinadores de futebol e recentemente tiveram problemas cardiológicos foram, por coincidência, profissionais muito ativos no período que praticaram o esporte profissional. Ao mudarem de profissão, escolheram justamente uma das que mais tem fortes emoções esportivas, altas pressões de torcedores e uma instabilidade profissional única, pelas exigências exageradas e algumas vezes despropositadas, dos seus contratantes ávidos por resultados positivos e títulos dos seus times.

Podemos concluir que não há proteção contra as doenças cardiovasculares e degenerativas comuns no envelhecimento, sem manter uma vida saudável por toda a vida. Não existe poupança de benefícios pela prática esportiva interrompida. Nem consideramos a prática de atividade física uma vacina para sempre contra as doenças em geral. Ao parar, perde-se os benefícios em poucos dias.
Fonte: G1