Ruas cheias, centros comerciais movimentados, filas enormes. Após a flexibilização nas medidas de isolamento, é possível ver um número cada vez maior de pessoas circulando sem máscaras e ignorando as normas de distanciamento na Baixada. Nesta terça-feira, o número de mortos pela Covid-19 na Baixada Fluminense era de 3.166, e o de casos chegou a 47.577. Além disso, a região possui seis municípios entre os dez com as maiores taxas de letalidade em todo o estado do Rio, segundo estudo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Pesquisadores da instituição elaboraram o Atlas da Evolução da Pandemia de Covid-19 na Região Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro, onde mostram que as cidades de Nilópolis e São João de Meriti têm as maiores taxas de letalidade da Baixada, com 13,5% e 12,8%, respectivamente. Os dois municípios só ficam atrás, no estado, para Rio das Flores.
O professor de cartografia Gustavo Mota De Sousa, do Laboratório Integrado de Geografia Física Aplicada (Liga – UFRRJ), com apoio dos professores André Santos da Rocha e Leandro Dias de Oliveira (LAGEP- UFRRJ), mapeou os dados de casos confirmados e óbitos sobre o novo coronavírus, com base em informações da Secretaria de Estado da Saúde.
Belford Roxo é a terceira cidade da Baixada Fluminense com menor taxa de letalidade. Segundo Gustavo, o motivo pode ter sido pela quantidade de testes realizados, já que o cálculo da taxa de letalidade é feito com o número de óbitos multiplicado por cem e dividido pelo número de casos.
— A redução em Belford Roxo pode ter tido a ver com a testagem. Outra hipótese é o fato de a população estar indo mais cedo para o hospital, já conhecer mais a doença. Com muita testagem, aumento do número de casos confirmados, não tendo tanto óbito, a letalidade acaba reduzindo — explicou Gustavo Mota.
A vendedora Valentina Menezes, de 23 anos, percebeu em seu bairro, Jardim Iguaçu, em Nova Iguaçu, o descuido das pessoas em relação às medidas de isolamento. No último dia 4, seu avô foi internado com Covid no Hospital da Posse. Ele teve alta da unidade nesta terça-feira. Valentina percebeu que, até na emergência, acompanhantes de doentes não se protegiam do vírus:
— No próprio hospital ainda chega muita gente com Covid, e as pessoas acham que não está acontecendo nada. A unidade super cheia e os familiares entram sem máscara. Acho que eles não têm noção de que é sério mesmo.
Valentina mora com os avós e chegou a ter a doença em agosto. Ela disse que eles tomavam cuidados para não contaminar os idosos:
— No dia 30 de setembro, meu avô começou com os sintomas. No dia 4, a oxigenação baixou, aí começou a falta de ar e chamamos a Samu. Ele morria de medo de pegar a doença. Só saía de casa quando era muito urgente e usava máscara e álcool gel o tempo inteiro. Acho que foi algo que ele pegou que veio contaminado.
Outra preocupação para muitos pais é a volta das aulas presenciais. Mesmo com o retorno ao trabalho, a confeiteira Marina Vulcanis, de 36 anos, se desdobra para fazer as atividades escolares com os quatro filhos: Bruno, de 15, Alice, de 11, Ana Laura, de 9, e Giovanni, de 8 anos.
— No início da pandemia, podia me dedicar mais a eles. Agora que tudo está começando a voltar, estou tendo que conciliar com o trabalho. Ao mesmo tempo que dou aula, faço o orçamento para um cliente. O mais difícil é conciliar os horários. Mas a volta das aulas presenciais ainda não é a solução dos meus problemas — avalia a confeiteira.
No bairro onde mora, Parque Lafaiete, em Duque de Caxias, Marina diz ficar assustada com o comportamento das pessoas em relação à Covid:
— A banalização da doença é o que mais me assusta. As pessoas não se importam com a gravidade ou acham que não é grave. Esse é o complicado do retorno das aulas presenciais. A gente não sabe como o familiar do outro aluno está se comportando e não temos domínio sobre isso.
Prefeituras flexibilizam, mas pedem que protocolos sejam seguidos
A maioria dos municípios liberou, além dos serviços essenciais, comércios e outros serviços, mas exigindo que sejam cumpridos protocolos sanitários. Em Magé, as aulas presenciais em todo o sistema de ensino seguem suspensas até 30 de outubro, podendo haver prorrogação. Hoje, há nove pacientes internados no Centro de Tratamento para a Covid-19.
Em Mesquita, não há previsão de retorno das aulas presenciais. Já a rede privada têm autonomia para deliberar pela reabertura, desde que autorizadas pelo Governo do Estado. A Vila Olímpica de Mesquita não foi reaberta para a prática esportiva. Nela, funciona um polo de atendimento exclusivo para Covid-19.
Já a Prefeitura de Belford Roxo prorrogou, até o dia 21 de outubro, as medidas restritivas e de flexibilização do comércio e de outros setores. Na cidade, há 50 pacientes internados com Covid. Em Caxias, as aulas na rede pública municipal estão suspensas até hoje. Há 12 pacientes internados no no Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo. Já no Hospital São José, exclusivo para Covid, a ocupação dos 128 leitos do hospital é de 45,3%.
O Hospital Geral de Nova Iguaçu, por sua vez, conta com 17 pacientes internados com Covid. As escolas privadas do município estão seguindo o decreto do Governo de Estado para retorno. A rede municipal não retornará com atividades presenciais em 2020. Em Queimados, aulas em unidades privadas, eventos de aniversário em salões de festa e cursos livres são algumas das atividades liberadas.
A Prefeitura de São João de Meriti vai manter fechados, até 30 de novembro, escolas municipais, clubes, associações recreativas, casas de shows, teatros, mas não informou sobre pacientes internados. Em Seropédica, há quatro pacientes internados. Em Guapimirim, as aulas estão suspensas, por tempo indeterminado, nas unidades da rede pública e privada de ensino. Quatro pacientes estão internados no Hospital Municipal José Rabello de Mello.
Fonte: Extra
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