Quatro em cada 10, buscam informações na internet para concluir sozinhos o diagnóstico. Práticas que, se em alguma medida empoderam o paciente junto aos serviços médicos, comprometem ainda mais a própria saúde. O uso indiscriminado de medicamentos pode levar à dependência, mascarar sintomas de algumas doenças e agravar outras. Neste 5 de maio, o país celebra o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, justamente para alertar à população sobre os danos que algumas substâncias em uso contínuo podem trazer ao organismo.
O Brasil é o sétimo país no mundo que mais consome remédios. Quase 50% dos brasileiros se automedica uma vez por mês e um em cada quatro consome remédios por conta própria todo dia ou uma vez por semana, segundo pesquisa do Instituto Data Folha e do Conselho Federal de Farmácia (CFF), publicada em abril deste ano. O uso indiscriminado de medicamentos é uma das principais causas de intoxicação na população brasileira. Cerca de 60% das pessoas que mantêm esse hábito o fazem sob a justificativa de já ter utilizado a substância antes, 47% porque têm acesso fácil o medicamento e 44% a partir da experiência de terceiros com a mesma substância.
O problema é que, a cada hora, duas pessoas se intoxicam por esse motivo no país. De acordo com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 33% dos casos de doenças agravadas acontecem em função desse uso. Entre 2011 e 2015, dados do Ministério da Saúde mostram que 60 mil pessoas foram para o hospital em decorrência do uso abusivos de remédios sem prescrição médica. Os casos de abuso mais frequentes ocorrem com analgésicos e anti-inflamatórios.
“O uso crônico pode piorar ou agravar uma condição ou mascarar uma doença. Uma pessoa que tem dor de cabeça e passa a fazer uso dede algum analgésico de forma frequente pode piorar a dor, pode gerar uma dor de cabeça crônica. O uso de anti-inflamatórios pode causar problemas no aparelho digestivo, problemas renais”, explica o médico especialista em dor pela Universidade de São Paulo (USP) Leandro Braun, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas em Dor (Sobramid).
“A utilização crônica de fármacos para combater ou prevenir dores no estômago, como o omeprazol, se utilizados por muito tempo podem levar o paciente a desenvolver anemia pela diminuição da absorção de ferro proveniente da alimentação”, disse o farmacêutico Diego Medeiros, coordenador e professor do núcleo de pós-graduação da Faculdade IDE.
Nesses casos, o tratamento se torna mais difícil, já que associada à dor ou motivo base para a automedicação entram em jogo as consequências dela, como quadros depressivos. Outro risco associado à automedicação é a dependência química. “O nosso sistema nervoso é muito sensível. A substância exógena, o remédio, atua como se fosse uma droga. Você passa a sentir falta e passa, a tomar para curar e não percebe que a persistência da dor pode ser do abuso da própria medicação”, detalhou Leandro Braun.
A automedicação se caracteriza, de maneira geral, para casos em que as pessoas tomam medicamentos todos os dias ou por mais de 15 dias dentro de um mês. Pacientes diabéticas, hipertensos, com doenças cardiovasculares e idosos são os que têm maior risco de complicações relacionadas ao uso abusivo de analgésicos e anti-inflamatórios. Há indícios que podem ajudar a saber se o remédio está prejudicando o organismo. “Por exemplo, quando há recorrência de dores estomacais (comum com o uso de anti-inflamatórios) ou infecções intestinais recorrentes (comum com o uso contínuo de fármacos para diminuir a acidez estomacal)”, alerta Diego Medeiros.
O Brasil é o país onde há mais automedicação no mundo. Entre os fatores, acredita o médico Leandro Braun, estão a dificuldade no acesso aos medicamentos, a dificuldade em marcar consultas eletivas no sistema público de Saúde e o desconhecimento dos efeitos adversos da medicação. O levantamento do Conselho de Farmácia detectou, ainda, uma modalidade específica de automedicação. A praticada por pessoas que passaram por um profissional, estão com um diagnóstico e uma prescrição, mas não cumprem a receita. Dos entrevistados na pesquisa, 57% relataram já ter alterado doses sem orientação prévia. A principal alteração foi reduzir a dose, sob o pretexto de que o medicamento fez mal ou a doença já estava controlada Para 17%, a justificativa foi de que o medicamento é muito caro.
Médico Leandro Braun alerta para os riscos. Crédito: Divulgação |
Quando o assunto é dor de cabeça, o índice de automedicação é ainda maior entre os brasileiros. Cerca de 80% das pessoas que tem dores frequentes nessa região do corpo se automedicam e 50% deles seguem indicações de leigos, de acordo com levantamento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). No país, dos cinco medicamentos mais consumidos, três são analgésicos dispensados de prescrição do profissional para a compra. A questão é ainda mais grave se considerado que as crises esporádicas de dor de cabeça afetam 95% de todos os brasileiros, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
A dor de cabeça pode ser primária ou decorrente de outras doenças. Tensão, falta de sono, óculos com grau incorreto, ruídos altos, cheiros fortes ou pancadas podem gerar dores agudas, ou seja, pontuais, nas regiões próximas ao cérebro. Quando a dor é recorrente e passa de três meses pode ser classificada como dor crônica. O recomendado, nesses casos, é procurar um médico para que definição de tratamento. “É importante que o paciente que tem dor de cabeça com frequência, acima de quatro por mês, procure um médico para fazer o tratamento adequado”, afirmou o médico Leandro Braun.
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