Curiosidades: Orcas estão atacando barcos no Mediterrâneo. E cientistas já sabem por quê
29 de agosto de 2024

Ataques de orcas a embarcações aumentaram nos últimos quatro anos. O comportamento é considerado atípico para a espécie, mas pesquisadores tem uma hipótese pra explicá-lo

Desde 2020, os relatos de ataques de orcas (Orcinus orca) a embarcações têm se tornado cada vez mais frequentes na Europa, especialmente no Mar Mediterrâneo. Estima-se que, nos últimos quatro anos, cerca de 600 casos de interações perigosas entre esses animais e navios tenham sido registrados.

Mas por que um animal considerado dócil com humanos está apresentando esse comportamento? Pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Golfinhos Nariz-de-Garrafa, na Espanha, sugerem em um novo artigo na revista científica Ocean & Coastal Management que talvez essas orcas estejam passando por um treinamento interno. Estranho? A gente explica.

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Conhecidas por alguns como “baleias assassinas”, as orcas, na verdade, pertencem à família dos golfinhos e não protagonizaram muitos registros de ataques a embarcações. Elas são predadoras ágeis no reino animal, e seus machos podendo atingir quase 10 metros de comprimento. Elas têm interceptado barcos nas costas do Marrocos, Espanha e Portugal, frequentemente atacando veleiros menores e concentrando seus ataques especialmente nos lemes — peça localizada na parte traseira e essencial para a navegação.

Um desses casos aconteceu em maio de 2024, em águas marroquinas no Estreito de Gibraltar. Na ocasião, um grupo de orcas se chocou com um iate de 15 metros de comprimento, causando o afundamento da embarcação. Os tripulantes conseguiram ser resgatados a tempo pelo serviço de resgate marítimo da Espanha.

Desde 2020, pesquisadores espanhóis têm analisado o comportamento das orcas e descobriram que certos grupos começaram a caçar atuns-rabilho (Thunnus thynnus), um peixe grande e robusto que pode atingir velocidades de até 45 quilômetros por hora na água. Essa mudança na dieta, juntamente com os ataques registrados, pode sugerir que as orcas estão envolvidas em algum tipo de treinamento para aperfeiçoar suas técnicas de caça.

Os veleiros se deslocam de maneira rápida e silenciosa próximo à superfície da água, de forma similar às presas das orcas, tornando-os o alvo ideal para a prática de caça. Os cientistas ainda perceberam que, na maioria dos ataques, são as orcas jovens que atacam os veleiros, mesmo que as vezes os adultos pareçam estar ensinando os membros mais novos do grupo a realizar esses ataques.

“Isso é como um brinquedo de treinamento”, disse Bruno Díaz López, o biólogo-chefe do instituto, em entrevista ao The New York Times. “É uma pena que nós, humanos, estejamos no meio desse jogo, mas elas estão aprendendo.”

As orcas são animais extremamente sociais e geralmente vivem em grandes grupos, que podem ter até 40 indivíduos. Elas vivem em uma espécie de sociedade matriarcal, com as fêmeas mais velhas sendo as principais responsáveis por transmitir conhecimentos e comportamentos para os filhotes. Além disso, as orcas tem o hábito de atacar suas presas em conjunto, utilizando diversas técnicas colaborativas para obter alimento.

As orcas vivem em grandes grupos — Foto: Renaud de Stephanis/CIRCE Conservación Information and Research
As orcas vivem em grandes grupos — Foto: Renaud de Stephanis/CIRCE Conservación Information and Research

“Esses comportamentos podem potencialmente servir como um exercício para orcas, onde as embarcações agem como estímulos para brincadeiras, fomentando técnicas cooperativas, preparando-se para perseguições e facilitando melhorias nas habilidades motoras, simulando, em última análise, técnicas de caça”, descrevem os autores no artigo.

Os motivos para o uso das embarcações como ferramentas de simulação de caça ainda não são totalmente compreendidos pelos pesquisadores, que destacam a necessidade de mais estudos sobre o assunto. No entanto, entender que esses comportamentos podem ser apenas uma forma de brincadeira para as orcas pode ajudar a conscientizar as tripulações e desenvolver estratégias para prevenir esses ataques.

Fonte: Revista Galileu

 

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