Oceanos em luas de Urano é possibilidade real, aponta estudo
25 de março de 2023
Uma ou até mesmo duas das 27 luas de Urano podem ter oceanos sob suas superfícies geladas. É o que aponta um novo estudo liderado pelo Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins (APL), no qual pesquisadores re-analisaram dados de partículas energéticas e campos magnéticos de quase 40 anos obtidos pela espaçonave Voyager 2, da NASA – a única espaçonave até agora a ter ido para Urano.
 
A hipótese surge a partir da conclusão de que uma das duas (ou mesmo as duas) luas em questão, Ariel e Miranda, estão adicionando plasma ao ambiente espacial por meio de um mecanismo desconhecido e misterioso.
 

“Não é incomum que as medições de partículas energéticas sejam precursoras da descoberta de um mundo oceânico”, disse Ian Cohen, cientista espacial da APL e principal autor do novo estudo. Dados de partículas e campo magnético forneceram, por exemplo, algumas das primeiras dicas que levaram à identificação das duas luas oceânicas inequívocas do sistema solar: Europa de Júpiter e Encélado de Saturno.

“Há alguns anos defendemos que as medições de partículas energéticas e campos eletromagnéticos são importantes não apenas para entender o ambiente espacial, mas também para contribuir para a investigação da ciência planetária mais ampla”, completa Cohen.

O estudo volta aos dados de partículas do instrumento Low-Energy Charged Particle (LECP), construído pela APL na Voyager 2, e encontra algo peculiar: uma população presa de partículas energéticas que a espaçonave havia observado durante a partida Urano.

Originalmente, os cientistas atribuíram a presença dessas particulas ao fato de a Voyager 2 possivelmente ter voado através de um fluxo aleatório de plasma sendo “injetado” da cauda distante da magnetosfera do planeta. Mas, com os 40 anos que se passaram desde então, sabe-se que essa explicação não se sustenta. Segundo Cohen, “uma injeção normalmente teria uma dispersão muito mais ampla de partículas do que o observado.” e essas partículas estavam todas apertadas perto do equador entre as luas Ariel e Miranda.

Assim, a equipe tentou recriar as observações da Voyager 2 e determinaram que a verdadeira explicação deveria incluir uma fonte forte e consistente de partículas e um mecanismo específico para energiza-las. Mais do que isso, depois de considerar várias possibilidades, eles concluíram que as partículas provavelmente vieram de uma lua próxima.

O time suspeita que as partículas surgem de Ariel e/ou Miranda por meio de uma coluna de vapor semelhante à vista em Encélado ou por pulverização catódica – um processo em que partículas de alta energia atingem uma superfície, ejetando outras partículas no espaço.

Infelizmente, a partir de uma única observação da região e sem dados sobre a composição do plasma ou medições de toda a gama de ondas eletromagnéticas dentro dele, não há como determinar definitivamente a origem das partículas. No entanto, mesmo antes desta revisão, os cientistas já suspeitavam que as cinco maiores luas de Urano – incluindo Ariel e Miranda – podem ter oceanos abaixo da superfície. Isso porque as imagens da Voyager 2 de ambas as luas mostram sinais físicos de ressurgimento geológico, incluindo possíveis erupções de água que congelou na superfície.

“Sempre podemos fazer uma modelagem mais abrangente, mas até que tenhamos novos dados, a conclusão será limitada.” admite Cohen, que não deixa de destacar que, de qualquer forma: “Os dados são consistentes com o potencial muito emocionante de haver uma lua oceânica ativa lá”.

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