Em entrevista ao boletim Olhar Digital News na última terça-feira (24), o astrônomo Marcelo Zurita falou sobre a recém-descoberta paralisação do núcleo interno da Terra
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, um estudo feito por cientistas chineses a partir de dados de terremotos descobriu que o núcleo interno da Terra parou de girar mais rápido do que o planeta – e isso pode trazer consequências.
De acordo com os sismólogos Yi Yang e Xiaodong Song, da Universidade de Pequim, autores da pesquisa, que foi publicada nesta segunda-feira (23) na revista Nature Geoscience, o resultado foi surpreendente.
Na noite desta terça-feira (24), em entrevista a Marisa Silva, apresentadora do programa Olhar Digital News, Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, explicou como isso foi descoberto, o que pode estar acontecendo e quais as possíveis consequências.
Se você não acompanhou, assista abaixo:
Ouça o som do campo magnético da Terra
Desaceleração do núcleo interno da Terra pode explicar os dias mais curtos?
Você já teve a sensação de que os dias têm sido cada vez mais curtos? Obviamente, essa impressão tem a ver com o nosso ritmo de vida, os afazeres, as responsabilidades e compromissos da vida moderna. No entanto, parece que tem alguma explicação geofísica para isso: sim, o núcleo interno da Terra estar desacelerando pode diminuir, ainda que em milésimos de segundos, a duração dos dias.
Segundo Zurita, embora seja um comportamento até então desconhecido, a desaceleração da rotação do núcleo interno da Terra, aparentemente, é algo normal. “Acredita-se que isso pode ter um efeito tanto no campo magnético da Terra quanto na duração dos dias e noites, inclusive que isso pode explicar alguns fenômenos que a gente vem observando nos últimos anos e que não se sabia explicar, como a diminuição da duração dos dias”, disse ele, complementando que “faz algum tempo que os dias estão mais rápidos, alguns milésimos de segundos mais curtos”.
Ele explicou que o núcleo interno da Terra não só desacelerou seu ritmo de rotação como, agora, parece estar girando ao contrário em relação à rotação do planeta em torno de seu próprio eixo.
“O núcleo interno costumava girar um pouco mais rápido do que a Terra. Então, ele desacelerou e, provavelmente em um momento próximo de 2009, esse núcleo interno passou a girar na mesma velocidade do planeta. Os cientistas acreditam que, agora, ele está girando mais lento do que a Terra, então, não apenas ele parou como passou a girar no sentido contrário”.
Embora isso seja uma “novidade” para os cientistas, o próprio estudo diz que não é a primeira nem será a última vez que acontece. E Zurita explica: “O que estamos vendo, muito provavelmente, é um comportamento que já existia no núcleo interno. Eles identificaram que, lá no início dos anos de 1970, isso ocorreu também”.
O que vai acontecer daqui para a frente?
Em entrevista ao jornal espanhol El País, um dos autores do estudo revelou outras possíveis consequências, além do efeito sobre a duração dos dias. “A alteração na rotação também pode modificar o campo gravitacional como um todo e causar deformações na superfície, o que alteraria também o nível do mar e, por sua vez, a temperatura global do planeta”.
Zurita, no entanto, foi bem menos alarmante em relação a isso em suas colocações. “Se o núcleo interno da Terra continuar perdendo velocidade e permanecer girando ao contrário, a princípio, não tem efeitos significativos para a gente”.
Segundo ele, alguns associam isso à perda do campo magnético da Terra. “Mas, o campo magnético da Terra não existe por causa da rotação do núcleo interno, e sim, por conta das correntes convectivas que existem no núcleo externo. Alguns estudos indicam que essas correntes ajudavam a acelerar a rotação do núcleo interno. No entanto, existe também uma pressão da gravidade gerada pelo manto e pelo núcleo externo que acaba freando isso”.
Nosso colunista exemplificou o que está acontecendo usando como referência uma gangorra. “Ele gira rápido para um lado, dá uma tensão magnética, ele desacelera, gira ao contrário um pouquinho, e depois vai gerar uma tensão negativa e ele vai voltar a acelerar”.
Segundo Zurita, o que alguns cientistas esperam (e isso não é uma unanimidade no meio científico) é que isso vai acabar se tornando algo periódico. “Essa rotação vai ser invertida aproximadamente a cada 60 ou 70 anos. Isso significa que não tende a acontecer de frear ainda mais e ficar girando para sempre ao contrário”.
Cabe ressaltar que, como ele disse ao finalizar a entrevista, todos esses estudos são muito recentes, “mas mostram que a gente continua aprendendo sobre o nosso planeta”.
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