Fios na horizontal foram detectados pela primeira vez perto do buraco negro supermassivo central da nossa galáxia, após estudos de décadas de filamentos verticais
Cientistas descobriram uma nova população de filamentos misteriosos perto do buraco negro supermassivo central da nossa galáxia, Sagitário A*. A descoberta, baseada em quatro décadas de investigação, foi publicada na última sexta-feira (2) no periódico The Astrophysical Journal Letters.
O líder do estudo, o professor de física e astronomia Farhad Yusef-Zadeh, da Universidade do Noroeste, na cidade de Evanston, nos Estados Unidos, já havia descoberto em 1984 um grupo anterior de filamentos verticais gigantes perto do buraco negro. De modo diferenciado, a nova população de fios se estende na horizontal.
Após descobrir os filamentos verticais junto dos cientistas Mark Morris e Don Chance, o especialista colaborou com outros pesquisadores na descoberta de duas gigantescas bolhas emissoras de rádio perto de Sagitário A*. Então, Yusef-Zadeh trabalhou com Ian Heywood, Richard Arent e Mark Wardle na revelação de mais mil fios verticais.
Após estudar os filamentos na vertical por décadas, o professor ficou chocado ao descobrir suas contrapartes horizontais, que estima terem cerca de 6 milhões de anos. Segundo ele, esses fios podem ter vindo de algum tipo de fluxo de uma atividade do passado.
Verticais x horizontais
Os dois grupos de filamentos, verticais e horizontais, são unidimensionais e podem ser vistos com ondas de rádio, parecendo estar ligados a atividades no centro galáctico. Embora compartilhem várias semelhanças, Yusef-Zadeh acredita que eles têm origens diferentes.
Os verticais, que são perpendiculares ao plano galáctico, varrem a Via Láctea, elevando-se até 150 anos-luz de altura. Os horizontais, paralelos ao plano, lembram os pontos e traços do código Morse, marcando só um lado de Sagitário A*.
Além de possivelmente vindos de locais divergentes, os filamentos existem em quantidades diferentes: há várias centenas de verticais e apenas algumas centenas de horizontais. Os fios na vertical, que medem até 150 anos-luz de altura, superam em muito o tamanho daqueles na horizontal, que têm de 5 a 10 anos-luz de comprimento.
Outra diferença é que os filamentos verticais são magnéticos e relativísticos, enquanto os horizontais parecem emitir radiação térmica. Além disso, os fios na vertical abrangem partículas que se movem próximo à velocidade da luz; já os outros parecem acelerar o material térmico em uma nuvem molecular.
Cientistas descobriram filamentos perto de Sagitário A*, o buraco negro supermassivo central da nossa galáxia — Foto: F. Yusef-Zadeh et.al
Yusef-Zadeh credita as descobertas dos novos fios à tecnologia aprimorada de radioastronomia, particularmente ao telescópio MeerKAT do Observatório de Radioastronomia da África do Sul (SARAO).
Para identificar os filamentos, a equipe do professor usou uma técnica para remover o fundo e suavizar o ruído das imagens do MeerKAT, isolando os fios das estruturas circundantes.
Segundo Yusef-Zadeh, foi uma surpresa encontrar de repente as novas estruturas. “Descobrimos que esses filamentos não são aleatórios, mas parecem estar ligados à saída de nosso buraco negro”, ele conta, em comunicado. “Ao estudá-los, poderíamos aprender mais sobre a rotação do buraco negro e a orientação do disco de acreção.”
Conforme avalia o especialista, os fios horizontais parecem surgir de uma interação do material que flui com objetos próximos. Ele acrescenta que o trabalho sobre esses fios misteriosos nunca estará completo. “Sempre precisamos fazer novas observações, desafiar continuamente nossas ideias e fortalecer nossa análise”, afirma.
Fonte: Revista Galileu
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