A importância das mulheres na Ciência
11 de março de 2023

Quando se pensa em grandes cientistas, os nomes de pesquisadoras mulheres muito raramente vêm à tona. Isso ocorre especialmente devido à falta de estímulo para a presença feminina em profissões que normalmente são divulgadas como “masculinas” – uma vez que há a crença de que homens são mais racionais e que o gênero feminino é mais delicado e pertence à ambientes de assuntos domésticos. Porém, contra todas as expectativas, o registro de mulheres nas ciências remonta desde a Antiguidade e algumas cientistas se destacaram por contribuir com estudos e descobertas muito importantes para toda a humanidade.

Um exemplo amplamente divulgado é a Hipátia de Alexandria, a mais antiga matemática do mundo. Nascida em Alexandria, no Egito, provavelmente entre 351 e 370 d.C., ela se dedicou à múltiplas áreas do conhecimento, mas principalmente à filosofia, à astronomia e à matemática. Foi Hipátia que inventou o densímetro, instrumento que permite medir a densidade de líquidos.

Nos tempos atuais, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara que as mulheres desempenham um papel vital nas comunidades científicas e tecnológicas. Assim, as instituições de pesquisa devem incentivar a maior participação das mulheres em seus estabelecimentos. Nesse sentido, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional da Mulher e das Meninas na Ciência. Somado ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, essas datas visam promover um reconhecimento das mulheres e de suas contribuições nas mais diversas áreas de pesquisa e inovação, promovendo a igualdade de gênero e o empoderamento delas.

Porém, ainda hoje, as mulheres na Ciência enfrentam muitos desafios e preconceitos, especialmente nas Geociências – grande área onde a Paleontologia está inclusa.

Mary Anning e seu cachorro, pintados antes de 1842

Claro que uma das paleontólogas mais famosas é a inglesa Mary Anning, que viveu no Reino Unido na primeira metade do século 19 e descobriu centenas de fósseis, especialmente de répteis marinhos. Porém, outras geocientistas acabam ficando na obscuridade. É o caso, por exemplo, de Maria Matilda Gordon, uma eminente geóloga, paleontóloga e política escocesa. Ela foi a primeira mulher a receber o título de doutora em Ciências pela Universidade de Londres e a primeira mulher a receber o título de PhD pela Universidade de Munique. Maria, através da observação e medição das estruturas geológicas nas montanhas Dolomitas, foi capaz de determinar que havia duas fases de dobramento e deformação estrutural, levando a uma nova interpretação da estrutura tectônica dos Alpes. No total, ela escreveu mais de 30 artigos baseados em suas pesquisas e descobertas nessa região, alguns dos quais são considerados trabalhos essenciais para a Geologia.

Marília da Silva Pares Regali

Já no Brasil, podemos ressaltar a geóloga Marília da Silva Pares Regali, especialista em Palinologia (a parte da botânica que estuda os grãos de pólen, esporos e outras estruturas), que foi a primeira pessoa formada em Geologia e primeira mulher a ingressar na Petrobras. Ela participou dos estudos dos primeiros poços perfurados na plataforma continental brasileira, especialmente da bacia do Recôncavo, bacia do Tucano, bacia de Sergipe e de Alagoas. Assim, Marília desempenhou um papel crucial no entendimento da evolução tectônica das bacias sedimentares no nosso país.

Por isso, iniciativas como o projeto Meninas com Ciência, nascida no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2017, são extremamente necessárias para que haja uma quebra de estereótipos e a erradicação da discriminação contra mulheres nas ciências. O Meninas com Ciência é um curso gratuito, concebido e executado por diferentes cientistas do Museu Nacional, para alunas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, sejam de escolas públicas ou particulares. Nesse projeto, ocorrem oficinas práticas e lúdicas de Meteorítica, Geologia e de áreas da Paleontologia e da Arqueologia.

Os recursos do Meninas com Ciência são gerenciados pela SAMN – Associação Amigos do Museu Nacional/UFRJ e o projeto já recebeu patrocínio da Empresa Shell Brasil Petróleo para a realização de algumas edições. Desde a sua criação, o curso enfrentou diversos desafios, como a perda de toda a sua estrutura física por causa do incêndio do Museu Nacional em 2018, mas a equipe resiste. Por ser uma ação pioneira na área das Geociências, o Meninas com Ciência inspirou a execução de projetos muito similares em outros Estados, tais como São Paulo, Rio Grande do Sul e Pará. Que venham mais mulheres nas ciências!

Para saber mais
– Reportagem sobre a paleontóloga Mary Anning 
– Projeto Meninas com Ciência, do Museu Nacional/UFRJ 
– Projeto “Meninas na Ciência, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
– Reportagem da National Geographic sobre mulheres na Ciência 

Bióloga com mestrado e doutorado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
tuneldotempo@faunanews.com.br

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