A crise no abastecimento de água em Seropédica e Nova Iguaçu tem causado indignação crescente entre moradores e lideranças locais. No último sábado, 7 de dezembro, protestos e manifestações populares tomaram as ruas, cobrando uma resposta da Rio+Saneamento, empresa responsável pela gestão do fornecimento de água na região, que até o momento não se pronunciou oficialmente sobre o problema.
Entenda o Problema
Relatos apontam que a empresa teria transferido todo o fornecimento de água da Linha 2 para a Linha 1, o que, segundo informações extraoficiais, seria a causa da interrupção no abastecimento em vários bairros. A mudança, feita sem consulta à população ou a especialistas, preocupa técnicos e engenheiros da área, que temem o agravamento da situação.
“A Linha 1 pode não suportar a pressão necessária para atender toda a demanda das cidades. Isso aumentaria o risco de rompimentos, como já ocorria com a Linha 2”, explica um técnico que prefere não se identificar. Desde a década de 1940, quando o sistema foi construído, duas adutoras eram utilizadas justamente para dividir a carga e evitar danos. Com o aumento populacional e o consequente aumento no consumo, a medida de concentrar o abastecimento em uma única linha é vista como um retrocesso.
Vereador de Nova Iguaçu Cobra Explicações
Um vídeo divulgado pelo Seropédica News mostra o vereador de Nova Iguaçu, Vaguinho Neguinho, cobrando explicações diretamente de uma funcionária da empresa Águas do Rio, ligada à gestão do sistema. Durante a ligação, Aline, representante da empresa, confirmou que a decisão de desativar a Linha 2 foi tomada após sucessivos rompimentos de adutoras, incluindo em Rocha Miranda, que integra o sistema das Adutoras de Lages. Segundo ela, todo o fornecimento será transferido para a Linha 1.
Falta de Planejamento e Transparência
A decisão, criticada por especialistas e lideranças, não foi precedida por uma consulta pública ou por estudos detalhados que considerassem os impactos da medida. “Uma decisão dessa magnitude deveria ser debatida com a sociedade, com cientistas da UFRRJ, engenheiros e técnicos. Sem planejamento, corremos o risco de enfrentar uma tragédia maior, com falta de água em massa”, alerta um engenheiro hidráulico.
Além disso, a infraestrutura atual, já sobrecarregada, apresenta riscos elevados de rompimentos frequentes. “Não adianta remendar tubos e fazer soluções paliativas. O que precisamos é de investimentos na construção de uma nova adutora que atenda à demanda atual”, reforça.
Revolta Popular
Os protestos refletem a frustração da população diante do descaso da Rio+Saneamento. “Se em 1949 construíram duas linhas para atender a população da época, como vão atender a demanda de 2024 com apenas uma linha?”, questiona uma moradora de Seropédica.
A ausência de diálogo e de explicações por parte da empresa só agrava a insatisfação popular. “A Rio+Saneamento precisa se posicionar. Uma decisão que afeta milhares de famílias não pode ser tomada sem transparência”, cobra o vereador Vaguinha.
Apelo por Soluções
Diante da situação, moradores, lideranças políticas e especialistas pedem que a Rio+Saneamento organize uma consulta pública para debater a questão e encontrar soluções viáveis. A construção de uma nova linha de adutoras é apontada como a única forma sustentável de garantir o abastecimento de água para Seropédica, Nova Iguaçu e outras cidades afetadas.
Até o fechamento desta matéria, a Rio+Saneamento não havia se pronunciado sobre a crise.
SISTEMA DE CAPTAÇÃO
A captação do Sistema Integrado Ribeirão das Lajes é realizada a jusante do reservatório de Lajes, após o turbinamento da UHE de Fontes Nova. Trata-se de uma captação superficial realizada em um canal de seção retangular de 2,00m x 2,75m, e extensão de 1.313m, denominado calha da CEDAE. As águas vêm dos rios Lajes, Pires, Bálsamo, Ponte de Zinco, Passa Vinte, da Prata e Palmeiras. A água do Rio Piraí chegam por um túnel (Túnel de Tocos) de 8.430 metros que transpassa a Serra dos Cristais, sendo um divisor de águas.
O Sistema de Abastecimento de Água (SAA) Integrado Ribeirão das Lajes entrou em operação em 1940, com a conclusão da primeira adutora. Em 1949, a segunda adutora passou a garantir o perene e ininterrupto abastecimento do então Distrito Federal, até então atendido só pelo Sistema Acari que era sujeito à sazonalidade. No sistema, a água segue por duas adutoras de 1750 milímetros em concreto armado, que conduzem a água até o Reservatório do Pedregulho, no bairro carioca de São Cristóvão.
DIMENSÕES DA ADUTORA
Construída em duas etapas, em 1940 e 1949, a adutora Ribeirão das Lajes foi uma obra de grandes proporções para a época, tendo sido projetada para aduzir um total de 456 mil metros cúbicos de água a cada 24 horas (em duas etapas iguais de 228 mil metros cúbicos). Desde o início da construção da primeira linha, os números já impressionavam:
Comprimento total | Diâmetro total dos tubos | Diâmetro interno dos tubos | Peso total |
1.429 metros | 2,40 metros | 1,75 metros | 10.000kg |
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