Acidentes de trânsito no Brasil registram mais de 92 mortes por dia, estima Abramet
15 de outubro de 2024

A frota de veículos cresce a cada dia, assim como o número de pessoas envolvidas no trânsito. Esse e muitos outros fatores contribuem para o aumento de acidentes graves ano a ano, nas vias urbanas e rodovias. Nesse contexto, os motociclistas são as maiores vítimas no trânsito. A falta de programas efetivos de educação, fiscalização e punição agravam o quadro, como afirma o Dr. Ricardo Hegele, vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).

O país registrou mais de um milhão de acidentes de trânsito em 2022, segundo dados consolidados naquele ano, o que resultou em mais de 33,8 mil mortes, uma média de 92 mortes diárias. “Praticamente, temos um óbito a cada 15 minutos e um ferido e um sequelado a cada dois minutos. Para cada óbito no trânsito, é uma média até dez feridos ou sequelados em relação aos sinistros que acontecem”, destacou Dr. Hegele.

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Para o especialista, o trânsito no Brasil é grave em todos os sentidos. “Não podemos falar em conhecer o número total de sinistros de trânsito registrados no Brasil porque a consolidação dos dados atuais ainda é falha. Uma das bases que temos é o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (Renaest), que ainda está sendo implantado, com adesão gradual dos estados, para que se consiga ter uma análise dessas informações”, complementou.

Outra situação que dificulta a precisão dos dados é a falta de padronização dos campos dos Boletins de Ocorrência. “Hoje, temos dados consolidados de 2022 dentro do que é possível se ter de informação oficial”, observou o médico especialista.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) é responsável pelos registros das ocorrências nas rodovias federais. Nas cidades, rodovias estaduais ou municipais, isso é feito por outros órgãos. “As informações a respeito das estatísticas epidemiológicas dos acidentes no país nos centros urbanos e nas rodovias precisam ser esmiuçadas através de cada localidade”, acrescentou Dr. Hegele.

Motos: 33 mortes por dia

Os sinistros relacionados às motocicletas, segundo dados de 2022, mostram que 12.058 motociclistas perderam a vida em sinistros de trânsito. Estima-se em torno de 33 mortes em sinistros com motocicletas todos os dias no Brasil, como detalhou o médico.

Sobre os dados de 2023, que ainda não estão consolidados, o especialista indica que são mais de um milhão de pessoas internadas em hospitais vítimas dos sinistros de trânsito em geral.

“De todos os veículos, os sinistros com motocicletas são os que mais causam vítimas no trânsito, estão em primeiro lugar no ranking de internações hospitalares e também de óbitos”, ressaltou o médico.

Precarização do trabalho

Sobre a informalidade do trabalho de mototaxistas, motoboys e entregadores de motos em geral, Dr. Ricardo Hegele destacou que a precarização desses trabalhadores é uma situação que contribui para o aumento dos sinistros. “Sem as condições básicas de segurança nas motos, treinamento adequado dos motociclistas e uso de equipamentos de proteção individual adequados, o risco é, sem dúvida, aumentado, para a sinistralidade do trânsito”, avaliou.

O motociclista muitas vezes não utiliza equipamentos de proteção. “Quando se fala de sinistros com motocicletas, temos que nos dar conta que eles estão entre os mais vulneráveis no trânsito”, assinalou o especialista da Abramet.

Segundo explicou, o motociclista deve usar o capacete afivelado de forma correta e as vestimentas adequadas, como luvas, botas, tornozeleiras, joelheiras e cotoveleiras, para que possa ter uma redução de danos em caso de sinistro.

O médico criticou também a falta de treinamento adequado. “Há polêmica em relação a treinamentos feitos somente em circuitos fechados. O motociclista já habilitado vai para as ruas sem experiência no trânsito. Muitas vezes os motociclistas são pessoas muitos jovens que não tiveram um treinamento para reação à emergências e esses são fatores contributivos para essa sinistralidade no trânsito”, frisou.

Educação, fiscalização e punição

Para o especialista, é importante avançar na educação no trânsito, começando pela educação de base, mas também é preciso fiscalização e punição. “Temos que ter mais condições de fiscalizar e fazê-la de forma efetiva. E a punição para os crimes e infrações de trânsito devem ser efetivas. Deve haver a sensação de punibilidade quando acontecer uma transgressão. Hoje o que nós temos no Brasil é uma sensação de impunidade”, lamentou o médico.

ONU

A segunda década de ação pela segurança no trânsito, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização Mundial da Saúde (OMS), teve início em 2021 e vai até 2030. Todos os países signatários deverão se esforçar para que haja uma redução em torno de 50% do número de mortos nos sinistros de trânsito.

“Infelizmente na primeira década (2011 a 2020), o Brasil e diversos outros países não conseguiram cumprir essa meta, que está sendo trabalhada novamente em todos os países membros”, pontuou Dr. Hegele.

De acordo com o especialista, as ações propostas pela ONU para redução dos acidentes de trânsito levam em consideração as condições médicas dos motoristas, visibilidade, medicamentos que afetam a condução veicular segura, o uso de substâncias psicoativas, a fadiga, o sono, e o uso de celulares, que hoje são situações em que há risco para o sinistro de trânsito.

Para o Dr. Ricardo Hegele, sem o auxílio social prestado aos acidentados, através do Sistema Único de Saúde e da Previdência Social, quando necessários, o país estaria enfrentando situações muito mais sérias e muito mais graves com sequelas muito maiores tanto na questão econômica quanto nas questões sociais.

ABRAMET

“Os especialistas da Abramet colaboram com o poder público na concepção e na elaboração de uma legislação adequada. Atuam nas modificações das legislações e das normas de trânsito para que possam ter eficácia não somente em relação à medicina e segurança do trânsito, mas também na protetividade do trânsito, construindo um trânsito mais humano e mais seguro, afirma o vice-presidente da Associação.

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